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Antonio Muñoz Molina diz-nos esta semana que algumas das maiores revoluções da sua vida aconteceram aos outros. Em lugares onde não estava, como Lisboa, Berlim ou o Cairo. Um sentimento que muitos de nós partilhará. Não estar ali, naquele momento, no lugar onde tudo está a acontecer. Quando a História toma o freio nos dentes, abraça o novo, e por instantes as grandes expectativas, outrora projectadas para futuros incertos, ganham forma em vidas que não são as nossas, em cidades que jamais habitámos, numa língua que não nos pertence. Delas chegam-nos então as imagens rápidas, televisionadas, das correrias pelas ruas, dos cartazes que se agitam, dos gases irrespiráveis, das palavras de ordem na ordem do dia. Nessas alturas reconhecemos na ira dos outros, no rasgo libertador que ela chispa, um impulso simpático que partilhamos, necessário para que as nossas vidas, também elas, ganhem algures uma dimensão de esperança. Se é verdade, como escreveu Ralph Waldo Emerson, o filósofo e poeta americano de Oitocentos, que cada revolução começa por ser uma ideia na nossa própria cabeça, então vislumbrá-la nesses horizontes distantes ecoa em nós, através dos outros, a consciência da sua possibilidade. Tudo acontece rapidamente e a festa acaba também muito depressa, mas ficam as marcas, os despojos, insinuando que um dia pode voltar a acontecer. Algures, talvez connosco
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