TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 3 de julho de 2011

Nossa travessia....





De Curitiba até Maringá, li nessa viagem geográfica e psíquica, o livro de J.M. Coetzee, Infância. Ficção autobiográfica. Sobre a ÁFRICA, antes de Coetzee, tinha lido CANÇÃO DA RELVA, de Doris Lessing. A história de Mary Turner que se casa com o primeiro pretendente que aparece e depois se vê com um estranho numa casa isolada nas planícies africanas com suas relvas verdes. Lessing descreve uma África desértica, maravilhosa e terra da solidão. Uma Africa externa e interna. Mary Turner é sua Africa. Com Coetzee não foi uma surpresa. Fala de uma África também. Da infância do menino John. De uma, de duas Áfricas, a externa e a interna. A travessia da África da Cidade do Cabo a Worchester, e de Worchester à Cidade do Cabo. Ingleses, africâners, negros africanos, irlandeses, alemães... uma Africa fragmentada, rude, professores com varinhas e varões para surrar alunos, animais maltratados, verão aterrorizador e frio duro. Um pai perdulário e uma mãe que o salva e o constrói um menino anormal. Os olhos no livro, nos parágrafos, nas palavras, imagens da Africa e de Porto Ferreira, SP, Brasil. Não há como não atravessar com Coetzee, sua Africa, a nossa Africa, a Africa de todos nós. Onde nasceram os nossos ancestrais.

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ELES MORAM NUM CONJUNTO HABITACIONAL perto da cidade de Worchester, entre a estrada de ferro e a rodovia Nacional. As ruas do conjunto têm nomes de árvores, mas ainda não têm árvores. O endereço deles é Avenida dos Choupos número 12. Todas as casas do conjunto são novas e idênticas. Estão situadas em grandes lotes de terra argilosa e vermelha onde nada cresce, separadas por cerca de arame. Em cada quintal há uma pequena edícula que consiste em um quarto e um banheiro. Apesar de não terem empregada, eles se referem àquilo como "o quarto de empregada" e "o banheiro de empregada". Usam o quarto de empregada para guardar coisas [...].

No fundo quintal, eles construíram um galinheiro e ali instalaram três galinhas, que deveriam lhes fornecer ovos. Mas as galinhas não produzem. A água de chuva, incapaz de se infriltar na argila, forma poças no quintal. O galinheiro se transforma num lamaçal malcheiroso. As galinhas têm calombos feios nas pernas, que lembram pele de elefante. Fracas e infelizes, elas pararam de pôr.


In: Cia das letras, 2010, p. 1

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