Aos 13, 14 anos li Homens e Caranguejos de Josué de Castro. Quem era aquele homem que falava desse mundo que eu não conhecia? Quem era Josué? Quem era aquele homem que falava de outros homens vivendo como caranguejos? Que comiam caranguejos e depois morriam e eram a comida dos caranguejos? De que ciclo falava?
Era Josué de Castro. Nascido em Recife, Brasil, 1908. Morrido em Paris, em 1973. Médico, nutrólogo, geógrafo, professor, cientista social, militante, ecólogo enfim. Escritor da dor. Da fome. Do Brasil. Seu livro juntou-se a outros. E aos poucos eu conhecia o Brasil sem viajar. Conhecia o povo e sua estranha forma de morrer. De fome.
O livro foi escrito na década de 1960. Publicado em 1966. Uma obra sem tempo. Do tempo em que escrever não era se repetir para ganhar pontos.“Seres humanos que se faziam assim irmãos de leite dos caranguejos. Que aprendiam a engatinhar e andar com caranguejos da lama e que depois de terem bebido na infância este leite de lama, de se terem enlambuzado com o caldo grosso da lama dos mangues e de se terem impregnado do seu cheiro de terra podre e de maresia, nunca mais se podiam libertar desta crosta de lama que os tornava tão parecidos com os caranguejos, seus irmãos, com as duras carapaças também enlambuzadas de lama.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário