Por James Pizarro
CANTO I
Os lábios de Eloá.
Grossos.
Untados de vermelho nas fotos de seu orkut.
Os cabelos pretos de Eloá.
Sedosos.
Longos.
Esvoaçantes.
Lindos.
O sorriso de Eloá.
Dentes lindos.
Alvos.
Instigantes.
Adolescentes.
O corpo precoce de Eloá.
Hormônios em convulsão.
Vida acelerada.
O jeito de Eloá.
Terno.
Educado.
Apreciado pelos colegas.
O comportamento de Eloá.
Sereno.
Alegre.
Humorado.
Simpático.
Tudo isso foi de roldão porque a patologia, fantasiada de amor, roubou sua vida.
Cérebro jovem cremado pelo calor na bala incandescente.
Do tiro assassino.
Neurônios esguichando para fora da cabeça.
Vida brutalmente podada.
CANTO II
Pulmões enchendo-se de oxigênio no peito alheio.
Córneas.
Fígado.
Pâncreas.
Coração.
Tudo generosamente doado.
Recauchutando outras vidas.
De Nayara sobrou o cadáver oco.
Preenchido de gazes e algodão.
O jovem corpo estendido no necrotério.
Os pés enrijecidos.
Que deram tantos passos.
Mas que - por fatalidade - caminharam, aos 12 anos, em direção ao homem errado.
Pobre Eloá.
Linda Eloá.
Infeliz Eloá.
Quantas Eloás estão indo pelo mesmo caminho neste Brasil ?
Quantas ?!...
2 comentários:
Estamos sempre renascendo, não só por realizarmos novas experiências, mas, especialmente, nas vezes em que, por alguma razão, não podemos reagir a determinadas situações que a vida nos impõe; nesse momento, metafisicamente, "também morremos". As experiências intelectuais também podem ser formas de "renascimento"; nesse quesito, aliás, renasci inúmeras vezes. E quero continuar assim, sempre!
Parabéns pelo Blog.
http://mafergo66.blogspot.com
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Marcos F. Gonçalves
Lindo Marta! E triste, muito triste! Só precisa substituir o nome "Nayara" por "Eloá".
Um abraço,
Sonia.
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