Kassab gasta R$ 191 mi em repasses a consultorias FOLHA DE SÃO PAULO
Prefeitura recorre a empresas para planejar tarefas da administração
Gasto supera o valor necessário para fazer os 3 hospitais prometidos; contratos dão qualidade à gestão, alega prefeito
EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO
A Prefeitura de São Paulo conta com uma Secretaria de Negócios Jurídicos com 282 procuradores. Mesmo assim, pagará R$ 399 mil pela consultoria de um escritório de advocacia em relação à emissão de títulos imobiliários.
A um ano e meio de deixar o cargo com a perspectiva de descumprir a maioria de suas promessas eleitorais, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) vê sua gestão gastar R$ 191 milhões com consultorias.
Setores como lixo, iluminação e combate a enchentes vêm recebendo sugestões de empresas e fundações sobre ações. Não há ilegalidade.
O dinheiro é mais do que suficiente para construir os três hospitais prometidos pelo prefeito na campanha eleitoral e que não serão entregues até o fim do mandato. Os procuradores, muitos com salário acima de R$ 20 mil, também não foram acionados para elaborar o projeto da PPP (parceria público-privada) pela qual Kassab espera construir os hospitais. A prefeitura preferiu uma consultoria da Fipe (fundação da USP), por R$ 9,5 milhões.
Os três hospitais custarão ao todo R$ 120 milhões. Kassab prometia construí-los até 2012. A PPP foi lançada somente na semana passada. Para calcular o gasto com consultorias da gestão, a Folha levantou só valores dos contratos em vigor ou das licitações em andamento.
Secretários ouvidos pela reportagem disseram que a prefeitura não tem técnicos suficientes para todo o trabalho ou que eles não têm qualificação para certas tarefas. Ricardo Corrêa Gomes, professor da UnB (Universidade de Brasília) com doutorado em administração pública na Inglaterra, afirma que os governos sofrem com a falta de pessoal especializado porque não investiram na qualificação de suas equipes.
Para ele, a maioria dos trabalhos das consultorias poderia ser feita por funcionários de carreira. "Será que o professor da USP, que trabalha com hipóteses em laboratório, está mais capacitado que o engenheiro que trabalha na prática todos os dias?" Só para elaborar um novo modelo para a limpeza urbana, a prefeitura prevê gastar até R$ 37 milhões em três anos. Será o maior contrato de consultoria do governo.
Kassab argumenta que a contratação das consultorias é feita "com muita transparência" e que os contratos trazem qualidade à gestão.
Ele nega que as consultorias estejam sendo contratadas só no final do governo. "A prefeitura tem histórico de contratação de consultorias, quase todas elas da área de engenharia, ou financeira, ou engenharia no campo de estrutura de projetos."
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Colaborou JOSÉ BENEDITO DA SILVA, de São Paulo
Prefeitura recorre a empresas para planejar tarefas da administração
Gasto supera o valor necessário para fazer os 3 hospitais prometidos; contratos dão qualidade à gestão, alega prefeito
EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO
A Prefeitura de São Paulo conta com uma Secretaria de Negócios Jurídicos com 282 procuradores. Mesmo assim, pagará R$ 399 mil pela consultoria de um escritório de advocacia em relação à emissão de títulos imobiliários.
A um ano e meio de deixar o cargo com a perspectiva de descumprir a maioria de suas promessas eleitorais, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) vê sua gestão gastar R$ 191 milhões com consultorias.
Setores como lixo, iluminação e combate a enchentes vêm recebendo sugestões de empresas e fundações sobre ações. Não há ilegalidade.
O dinheiro é mais do que suficiente para construir os três hospitais prometidos pelo prefeito na campanha eleitoral e que não serão entregues até o fim do mandato. Os procuradores, muitos com salário acima de R$ 20 mil, também não foram acionados para elaborar o projeto da PPP (parceria público-privada) pela qual Kassab espera construir os hospitais. A prefeitura preferiu uma consultoria da Fipe (fundação da USP), por R$ 9,5 milhões.
Os três hospitais custarão ao todo R$ 120 milhões. Kassab prometia construí-los até 2012. A PPP foi lançada somente na semana passada. Para calcular o gasto com consultorias da gestão, a Folha levantou só valores dos contratos em vigor ou das licitações em andamento.
Secretários ouvidos pela reportagem disseram que a prefeitura não tem técnicos suficientes para todo o trabalho ou que eles não têm qualificação para certas tarefas. Ricardo Corrêa Gomes, professor da UnB (Universidade de Brasília) com doutorado em administração pública na Inglaterra, afirma que os governos sofrem com a falta de pessoal especializado porque não investiram na qualificação de suas equipes.
Para ele, a maioria dos trabalhos das consultorias poderia ser feita por funcionários de carreira. "Será que o professor da USP, que trabalha com hipóteses em laboratório, está mais capacitado que o engenheiro que trabalha na prática todos os dias?" Só para elaborar um novo modelo para a limpeza urbana, a prefeitura prevê gastar até R$ 37 milhões em três anos. Será o maior contrato de consultoria do governo.
Kassab argumenta que a contratação das consultorias é feita "com muita transparência" e que os contratos trazem qualidade à gestão.
Ele nega que as consultorias estejam sendo contratadas só no final do governo. "A prefeitura tem histórico de contratação de consultorias, quase todas elas da área de engenharia, ou financeira, ou engenharia no campo de estrutura de projetos."
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Colaborou JOSÉ BENEDITO DA SILVA, de São Paulo
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