Do Blog Pérolas
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues, quando queria se referir a algo do interesse de um vasto contingente humano, dizia que a coisa atingia "do presidente da República ao mata-mosquito". Nenhum desprezo de Nelson pelo mata-mosquito. Talvez ele visse nesta a mais humilde das profissões, ou a menos reconhecida -afinal, quem enxergaria algum heroísmo no ato de localizar e exterminar ovos, larvas ou insetos?
Perguntei à minha funcionária quando tinha sido a última vez que um mata-mosquito viera examinar nossos ralos, vasos de plantas ou improváveis bromélias. Ela disse que fora há tanto tempo -muitos anos- que já nem se lembrava. Mas sabia muito bem quando esse bravo funcionário visitara a casa dela, perto do morro da Conceição, no Centro da cidade: "Nunca".
Dos anos 90 para cá, houve uma conspiração a favor do mosquito. Para alguns, começou com a demissão em massa dos mata-mosquitos pelo então ministro da Saúde, José Serra, no governo FHC; continuou com a política do governo Lula, de garantir verbas que só chegam pela metade e de deixar decair hospitais que já estiveram entre os melhores da América Latina; e completou-se com o uso avaro, pelos governos do Estado e do município, do pouco dinheiro que recebem.
A troca de acusações com fundo político e a transferência de responsabilidades continuam. Mas a discussão sobre se a culpa pela volta do mosquito é federal, estadual ou municipal não tem mais sentido. Para a população, qualquer picada suspeita já virá com carimbo triplo.Um curioso efeito colateral do surto de dengue é que, com a onipresença do Aedes nos jornais e na televisão, os tiroteios e balas perdidas sumiram do noticiário. Os traficantes e a polícia devem estar encafuados em seus barracos e quartéis, com medo do mosquito.
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