Procura-se um líder por César Benjamin
Enviado pelo Grozny. Grazie!Para manter aquecida a demanda, os Estados Unidos ampliaram as facilidades de crédito. As duas curvas -a da renda e a do crédito- não podem se dissociar indefinidamente. Com o esgotamento desse ciclo, não se vê por onde a demanda será retomada. Sem ela, não haverá crescimento, mesmo com maciças injeções de recursos nos sistemas financeiros.
O Brasil pagará alto preço por ter subordinado sua economia ao grande cassino. O passivo externo líquido é gigantesco, as contas externas já estavam em trajetória ruim, o núcleo endógeno da nossa economia foi enfraquecido desde a década de 1990 e as portas nunca estiveram tão abertas à fuga de capitais. Perdemos muitos graus de liberdade na definição da política econômica. As reservas que acumulamos são inseguras, pois não têm origem em saldos na conta corrente. E a posição das grandes empresas brasileiras é incerta, pois as políticas do Banco Central as estimularam a especular com o dólar.
Ainda não sabemos quantas foram pegas no contrapé. Quando a demanda cai, as empresas investem menos. A demanda cai ainda mais, e o processo se realimenta. Nesses contextos, as economias precisam contar com um agente capaz de realizar e de coordenar investimentos que contrariem a espiral recessiva. Nenhuma empresa privada pode desempenhar esse papel, sob pena de, simplesmente, falir. Só os Estados podem fazê-lo. Daí a importância de uma reação ativa à atual crise internacional. Foi o que fizemos na seqüência do colapso ocorrido em 1929.
A questão é saber se o Estado brasileiro mantém capacidade para reagir e se terá vontade de acioná-la coerentemente. Forças de natureza supranacional, alojadas principalmente no Banco Central, controlam a nossa política econômica. E forças de natureza subnacional, representadas no Legislativo, apoderam-se de nacos do Estado, em troca de garantir a governabilidade no curto prazo. Esse arranjo perverso do sistema político mantém o Brasil na condição de plataforma de valorização do capital financeiro e exportador de recursos naturais. Na época da bonança, o presidente Lula conseguiu compatibilizar essa condição com suspiros de crescimento econômico e algumas políticas distributivas. Nos próximos dois anos, isso se tornará mais difícil em nosso país. No lugar de um acomodador de interesses, o Brasil precisará de um líder.
CESAR BENJAMIN, 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela)
Um comentário:
Dica de leitura...Textos ácidos e sarcásticos, pra quem quer ficar por dentro dos assuntos políticos de forma leve.
www.mosaicodelama.blogspot.com
Boa leitura!
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