Enviado pelo Grozny
Grata!
por Ricardo Noblat - 14.2.2009
Há muitos comentaristas aqui crucificando o pai da Paula, a brasileira supostamente agredida por neonazistas em Zurique.Que tal examinarmos o episódio pela ótica dele?Você é pai. Feliz da vida porque sua filha, que mora em Zurique, lhe havia comunicado que seria mãe de gêmos. Serão seus primeiros netos.
Sua ex-mulher, sua atual mulher, sua filha, sua mãe às vésperas de completar 80 anos, a família inteira está mobilizada pelo fato recente mais importante ocorrido em suas vidas.Sua filha celebra a maternidade próxima passando e-mails para amigos do Recife e dando conta da evolução da gravidez.Você não conhece ainda o pai dos seus netos, mas sabe que ele é um economista suíço que trabalha em uma empresa de seguros. E que está morando com sua filha há alguns meses.Então um dia você é acordado de madrugada por um telefonema aflito de sua filha.De Zurique, aos prantos, ela informa que foi agredida na noite anterior por três homens que lhe retalharam o corpo com a ajuda de um estile. E que ela abortou as gêmeas.Você não consegue mais dormir. Acorda sua ex-mulher. E no mesmo dia embarca com ela ao encontro de sua filha.O companheiro dela o aguarda no aeroporto. Ele fala mal inglês e você não sabe uma palavra em alemão.Você vai direto para a casa de sua filha. Ela só faz chorar. Está em pânico. Mostra-lhe as marcas dos cortes. Sua ex-mulher se desespera.Você aciona amigos no Brasil para que informem o que aconteceu ao ministério das Relações Exteriores. O ministério aciona a consul-geral do Brasil em Zurique. A consul tenta obter informações com a polícia, mas elas lhe são negadas de forma grosseira. Sua filha lhe conta que um detetive que a atendeu depois da agressão a ameaçou. Duvidou de sua história. E adiantou que ela poderia ser processada se estivesse mentido.Então você pensa que só haverá uma forma de forçar a polícia a investigar de fato o que aconteceu e a prender os agressores de sua filha: tornar o caso público.Você reúne fotos de sua filha grávida antes da agressão. Providencia fotos que mostrem o corpo dela riscado por estilete. E as distribui com a imprensa.
Dois dias depois, duas policiais, em nome da chefatura de polícia de Zurique, vão ao hospital onde sua filha está internada e pedem desculpas pelo modo como o caso havia sido conduzido até aquele momento.Um dia depois, um médico do hospital convoca os jornalistas e anuncia: a brasileira não estava grávida no momento em que foi supostamente atacada. Diz mais: sua experiência indica que ela pode ter se automutilado.
Você nunca viu os exames que comprovaram a gravidez de sua filha. Mas ela lhe disse que fizera os exames, sim. Você perguntou a respeito ao companheiro dela e ele confirmou.Você faz o quê? Continua acreditando em sua filha? Repete para quem queira ouvir que continua acreditando nela? Ou diz que o médico pode ter razão? Ou vai além: diz que a suposição do médico de que ela se automutilou pode fazer sentido?Mas fazer sentido como se sua filha sempre foi uma pessoa alegre, de bem com a vida, equilibrada, uma profissional bem-sucedida que passou num teste aplicado em diversos países e se tornou funcionária na Suiça do escritório do maior conglomerado de empresas da Dinamarca?
Dane-se o médico que disse o que disse. Dane-se todo mundo que passou a duvidar da história de sua filha. Você é pai. Sua filha permanece internada em um hospital de outro país. Está com hemorragia há dois dias.A essa altura, não lhe interessa mais se ela perdeu os bebês antes da agressão que diz ter sofrido. Ou se ela inventou a agressão para justificar a perda dos bebês. Você quer que ela se recupere logo. Quer voltar com ela para casa o mais rápido possível.Você deve ser condenado por estar se comportando assim?
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