TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entrevista com Roberto Romano

Do Blog de Roberto Romano
O Globo de 8 de fevereiro, 2009, p. 10, entrevista com Roberto Romano
O Globo, segunda edição de domingo, 8 de fevereiro de 2009, p. 10, O País.
Entrevista Roberto Romano "Caso do corregedor é uma triste comédia de erros"
Professor de Filosofia diz que o PMDB, mais forte com eleições para o comando do Congresso, vai chantagear o governo.-
A avalanche de denúncias contra o deputado Edmar Moreira (DEM-MG), eleito 2 vice-presidente e corregedor da Câmara há uma semana, fez lembrar ao professor de Ética e Filosofia da Unicamp Roberto Romano um artigo que escrevera durante a Assembléia Nacional Constituinte, intitulado "O prostíbulo risonho".

Tratava das práticas "fisiológicas"do Centrão, o bloco supra-partidário comandado pelo então presidente da República, José Sarney. O texto valeu a Romano um processo judicial. As lembranças se avivaram ainda com a eleição de Sarney para presidente do Senado e de Michel Temer na Câmara. Para Romano, o PMDB é a mesma "federação de oligarquias"com força para chantagear o governo. O candidato que se aliar ao partido em 2010, diz ele, levará vantagem. Mas pagará um preço.
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O Globo : O episódio envolvendo o novo Corregedor da Câmara, Edmar Moreira (DEM-MG) é um reflexo da impunidade que paira sobre o Congresso?
Roberto Romano : No período do Centrão (bloco supra-partidário que atuou na Assembléia Nacional Constituinte), escrevi certo artigo que me valeu um processo na Justiça, movido por uma liderança parlamentar. O título do artigo era o seguinte: "O Prostíbulo Risonho".
O caso do corregedor que burla o fisco, não paga o governo pelo INSS de seus funcionários e ainda por cima ostenta o título de "corregedor" é mais do que triste. Se o povo olhasse as mãos dos que confecionam nossos ordenamentos legais, o cidadão que paga impostos apelaria, de imediato, para o controle sanitário.

Globo: O que o senhor acha do fortalecimento do PMDB, que ganhou as presidencias da Câmara e do Senado?

Romano: O PMDB é uma federação de oligarquias e nele os ganhos e perdas, em termos táticos ou estratégicos, dificilmente são distribuídos de maneira igual. Eu diria que saiu vitoriosa a facção com o perfil do franciscanismo politico, a que imperou com o "centrão", no qual a fisiologia atingiu seu ponto mais lamentável. Não sairam vencedores (os senadores) Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon e outras lideranças peemebistas cuja origem se aproxima de Ulisses Guimarães e de outros estadistas. Se o PMDB é um organismo sempre tenso, devido aos interesses conflitantes dos oligarcas que o dividem, a presidência do Senado e da Câmara serve mais para garantir um campo de manobra, um balcão onde o Executivo será chantageado com exigências de cargos, ou bajulado tendo em vista os mesmos cargos, recursos, etc.

Globo: O governo será chantageado pelo PMDB?

Romano: Os governos civis, desde o começo da fase democrática que substituiu os militares, são chantageados de todos os modos pelo PMDB. Aquela federação oligárquica ostenta amplo know how e tem patente no assunto.
Globo: A eleição de José Sarney e Michel Temer para o comando do Congresso é uma volta de passado?

Romano: No caso de Sarney é um claro retorno ao centrão, acrescido dos adversários oligárquicos como Collor. Um adendo lamentável: na época do Centrão, o PT pregava a ética política radical e, mesmo, moralista. É daquele período o slogan que rezava serem todos os demais partidos "farinha do mesmo saco"e que o PT seria o único diferente. Hoje, o PT joga alegremente sua farinha no saco da política "realista". O passado, no plano senatorial, voltou.

Globo: Qual o papel do PMDB no processo eleitoral, já que 2010 será a primeira eleição sem Lula como candidato?

Romano : O PMDB, sendo federação oligárquica, tem bases fortes em todo o país. Se um dos candidatos conseguir o apoio do PMDB de uma das regiões, conforme a densidade populacional e eleitoral da região, ele terá vantagem manifesta sobre os demais. Uma hipótese: se o PSDB escolher Serra e Aécio for levado a entrar para o PMDB, várias regiões estão, de imediato, perdidas para Serra. No caso de Dilma Roussef, caso ela queira apoio de oligarcas desta ou daquela região, sabe que a conta a ser paga, antes das eleições é salgada.

Globo: Que avaliação o senhor faz do Congresso que optou pela manutenção de nomes da velha política?

Romano : Se existe legislatura que ficou abaixo de qualquer expectativa positiva, podemos falar da atual. Assuntos de interesse coletivo (a crise na economia, os problemas de ciência e tecnologia, a seguranca pública, a saúde, etc. passam ao largo dos debates no Congresso.

Globo:A oposição se fortalece ou não com a eleição de Temer e Sarney, lembrando que o próprio PSDB rachou?

Romano: Com certeza o PSDB saiu enfraquecido no episódio. Logo a seguir ocorreu outra ruptura grave naquele partido, na disputa pela sua liderança na Câmara. Ele só poderá atenuar a perda e as futuras sangrias de poder se praticar uma política interna baseada no diálogo e na democracia. Se imitar os procedimentos do PMDB ou do PT atual, certamente prejudicará a candidatura de seu político com mais condições de disputar a presidência.

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