Do Blog do Professor Roberto Romano
De Rerum Natura...dá para entender a causa de muitos pesquisadores e docentes torcerem o nariz quando ouvem o nome de Popper...Eles são o dogma !
sábado, 13 de Março de 2010
POPPER SOBRE O ERRO
Excerto do livro "Em busca de um mundo melhor" de Karl Popper (Fragmentos,1989):
"(...) Proponho, pois, uma nova ética profissional, sobretudo, mas não só, para os cientistas da natureza. proponho que ela assente nos doze princípios a seguir enunciados (...)
1. O nosso saber conjectural objectivo vai sempre mais além daquilo que um indivíduo consegue dominar. não existem pois autoridades. Isto é igualmente válido no que se refere a especializações.
2. É impossível evitar todos os erros ou sequer todos os erros em si mesmo evitáveis. são constantemente cometidos erros por todos os cientistas. a antiga noção de que é possível evitar o erro, e que portanto é obrigatório evitá-lo, deve ser revista: ela própria está errada.
3. Naturalmente que continua a ser nossa tarefa evitar, sempre que possível, os erros, mas precisamente para os evitar, temos de compreender antes de mais, muito claramente, como é difícil evitá-los e que ninguém o consegue, inteiramente, não o conseguem também os cientistas criativos, que se deixam guiar pela sua intuição: a
intuição também nos pode induzir em erro.
4. Mesmo as teorias mais bem confirmadas podem ocultar erros; cabe especialmente ao cientista procurar esses erros. a constatação de que uma teoria bem comprovada ou de que um processo de ampla aplicação prática enfermam de erro pode constituir uma descoberta importante.
5. Há, pois, que modificar a nossa atitude face aos nossos erros. É aqui que deve começar a nossa reforma ético-prática. Pois que a antiga atitude ético-profissional leva a que se dissimulem, a que se encubram os erros e a esquecê-los tão rapidamente quanto possível.
6. O novo princípio básico é o de que para aprendermos a evitar tanto quanto possível os erros, temos que aprender precisamente com eles. Encobrir os erros constitui, pois, o mais grave pecado intelectual.
7. Devemos, por conseguinte, procurar constantemente os nossos erros. Quando os detectarmos, há que gravá-los na memória, analisá-los sob todos os ângulos, para irmos até ao fundo.
8. A atitude autocrítica e a sinceridade são, por consequência, um dever.
9. Já que devemos aprender através dos erros que cometemos, devemos igualmente aprender a aceitar, ou melhor, a agradecer que os outros nos alertem para esses erros. se chamamos a atenção dos outros para os erros que cometem, teremos que ter sempre presente o facto de nós próprios cometermos os mesmos erros. E convém não esquecer que os maiores cientistas os cometeram. não pretendo certamente dizer com isto que os nossos erros são, em regra, desculpáveis. o que não podemos é negligenciar a nossa vigilância. Não obstante, é humanamente inevitável continuar a cometer erros.
10. Temos que compreender claramente que precisamos dos outros (e os outros de nós) para descobrirmos e corrigirmos os erros, e, em particular, precisamos daqueles que tenham crescido não só com ideias diferentes mas em ambientes distintos. O que também implica tolerância.
11. Convém que saibamos que a autocrítica é a melhor crítica, mas que a crítica através dos outros é uma necessidade. É praticamente tão útil quanto a autocrítica.
12. A crítica racional deve ser sempre específica - deve indicar as razões específicas por que determinadas afirmações, ou determinadas hipóteses parecem ser falsas e determinados argumentos não parecem ser válidos. a crítica racional deve ser norteada pela ideia de uma aproximação à verdade objectiva. neste sentido, deve ser impessoal.
Peço-lhes que considerem as formulações que acabo de apresentar como simples propostas. elas pretendem mostrar que, mesmo no domínio da ética, se podem fazer propostas discutíveis e susceptíveis de aperfeiçoamento."
Karl Popper
sábado, 13 de Março de 2010
POPPER SOBRE O ERRO
Excerto do livro "Em busca de um mundo melhor" de Karl Popper (Fragmentos,1989):
"(...) Proponho, pois, uma nova ética profissional, sobretudo, mas não só, para os cientistas da natureza. proponho que ela assente nos doze princípios a seguir enunciados (...)
1. O nosso saber conjectural objectivo vai sempre mais além daquilo que um indivíduo consegue dominar. não existem pois autoridades. Isto é igualmente válido no que se refere a especializações.
2. É impossível evitar todos os erros ou sequer todos os erros em si mesmo evitáveis. são constantemente cometidos erros por todos os cientistas. a antiga noção de que é possível evitar o erro, e que portanto é obrigatório evitá-lo, deve ser revista: ela própria está errada.
3. Naturalmente que continua a ser nossa tarefa evitar, sempre que possível, os erros, mas precisamente para os evitar, temos de compreender antes de mais, muito claramente, como é difícil evitá-los e que ninguém o consegue, inteiramente, não o conseguem também os cientistas criativos, que se deixam guiar pela sua intuição: a
intuição também nos pode induzir em erro.
4. Mesmo as teorias mais bem confirmadas podem ocultar erros; cabe especialmente ao cientista procurar esses erros. a constatação de que uma teoria bem comprovada ou de que um processo de ampla aplicação prática enfermam de erro pode constituir uma descoberta importante.
5. Há, pois, que modificar a nossa atitude face aos nossos erros. É aqui que deve começar a nossa reforma ético-prática. Pois que a antiga atitude ético-profissional leva a que se dissimulem, a que se encubram os erros e a esquecê-los tão rapidamente quanto possível.
6. O novo princípio básico é o de que para aprendermos a evitar tanto quanto possível os erros, temos que aprender precisamente com eles. Encobrir os erros constitui, pois, o mais grave pecado intelectual.
7. Devemos, por conseguinte, procurar constantemente os nossos erros. Quando os detectarmos, há que gravá-los na memória, analisá-los sob todos os ângulos, para irmos até ao fundo.
8. A atitude autocrítica e a sinceridade são, por consequência, um dever.
9. Já que devemos aprender através dos erros que cometemos, devemos igualmente aprender a aceitar, ou melhor, a agradecer que os outros nos alertem para esses erros. se chamamos a atenção dos outros para os erros que cometem, teremos que ter sempre presente o facto de nós próprios cometermos os mesmos erros. E convém não esquecer que os maiores cientistas os cometeram. não pretendo certamente dizer com isto que os nossos erros são, em regra, desculpáveis. o que não podemos é negligenciar a nossa vigilância. Não obstante, é humanamente inevitável continuar a cometer erros.
10. Temos que compreender claramente que precisamos dos outros (e os outros de nós) para descobrirmos e corrigirmos os erros, e, em particular, precisamos daqueles que tenham crescido não só com ideias diferentes mas em ambientes distintos. O que também implica tolerância.
11. Convém que saibamos que a autocrítica é a melhor crítica, mas que a crítica através dos outros é uma necessidade. É praticamente tão útil quanto a autocrítica.
12. A crítica racional deve ser sempre específica - deve indicar as razões específicas por que determinadas afirmações, ou determinadas hipóteses parecem ser falsas e determinados argumentos não parecem ser válidos. a crítica racional deve ser norteada pela ideia de uma aproximação à verdade objectiva. neste sentido, deve ser impessoal.
Peço-lhes que considerem as formulações que acabo de apresentar como simples propostas. elas pretendem mostrar que, mesmo no domínio da ética, se podem fazer propostas discutíveis e susceptíveis de aperfeiçoamento."
Karl Popper
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