TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 13 de março de 2010


Do Blog do Professor Roberto Romano

De Rerum Natura...dá para entender a causa de muitos pesquisadores e docentes torcerem o nariz quando ouvem o nome de Popper...Eles são o dogma !
sábado, 13 de Março de 2010
POPPER SOBRE O ERRO

Excerto do livro "Em busca de um mundo melhor" de Karl Popper (Fragmentos,1989):

"(...) Proponho, pois, uma nova ética profissional, sobretudo, mas não só, para os cientistas da natureza. proponho que ela assente nos doze princípios a seguir enunciados (...)

1. O nosso saber conjectural objectivo vai sempre mais além daquilo que um indivíduo consegue dominar. não existem pois autoridades. Isto é igualmente válido no que se refere a especializações.

2. É impossível evitar todos os erros ou sequer todos os erros em si mesmo evitáveis. são constantemente cometidos erros por todos os cientistas. a antiga noção de que é possível evitar o erro, e que portanto é obrigatório evitá-lo, deve ser revista: ela própria está errada.

3. Naturalmente que continua a ser nossa tarefa evitar, sempre que possível, os erros, mas precisamente para os evitar, temos de compreender antes de mais, muito claramente, como é difícil evitá-los e que ninguém o consegue, inteiramente, não o conseguem também os cientistas criativos, que se deixam guiar pela sua intuição: a
intuição também nos pode induzir em erro.

4. Mesmo as teorias mais bem confirmadas podem ocultar erros; cabe especialmente ao cientista procurar esses erros. a constatação de que uma teoria bem comprovada ou de que um processo de ampla aplicação prática enfermam de erro pode constituir uma descoberta importante.

5. Há, pois, que modificar a nossa atitude face aos nossos erros. É aqui que deve começar a nossa reforma ético-prática. Pois que a antiga atitude ético-profissional leva a que se dissimulem, a que se encubram os erros e a esquecê-los tão rapidamente quanto possível.

6. O novo princípio básico é o de que para aprendermos a evitar tanto quanto possível os erros, temos que aprender precisamente com eles. Encobrir os erros constitui, pois, o mais grave pecado intelectual.

7. Devemos, por conseguinte, procurar constantemente os nossos erros. Quando os detectarmos, há que gravá-los na memória, analisá-los sob todos os ângulos, para irmos até ao fundo.

8. A atitude autocrítica e a sinceridade são, por consequência, um dever.

9. Já que devemos aprender através dos erros que cometemos, devemos igualmente aprender a aceitar, ou melhor, a agradecer que os outros nos alertem para esses erros. se chamamos a atenção dos outros para os erros que cometem, teremos que ter sempre presente o facto de nós próprios cometermos os mesmos erros. E convém não esquecer que os maiores cientistas os cometeram. não pretendo certamente dizer com isto que os nossos erros são, em regra, desculpáveis. o que não podemos é negligenciar a nossa vigilância. Não obstante, é humanamente inevitável continuar a cometer erros.

10. Temos que compreender claramente que precisamos dos outros (e os outros de nós) para descobrirmos e corrigirmos os erros, e, em particular, precisamos daqueles que tenham crescido não só com ideias diferentes mas em ambientes distintos. O que também implica tolerância.

11. Convém que saibamos que a autocrítica é a melhor crítica, mas que a crítica através dos outros é uma necessidade. É praticamente tão útil quanto a autocrítica.

12. A crítica racional deve ser sempre específica - deve indicar as razões específicas por que determinadas afirmações, ou determinadas hipóteses parecem ser falsas e determinados argumentos não parecem ser válidos. a crítica racional deve ser norteada pela ideia de uma aproximação à verdade objectiva. neste sentido, deve ser impessoal.

Peço-lhes que considerem as formulações que acabo de apresentar como simples propostas. elas pretendem mostrar que, mesmo no domínio da ética, se podem fazer propostas discutíveis e susceptíveis de aperfeiçoamento."

Karl Popper

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