TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Alguém se indignou!

Do Josias Foto de Jamir Bittar, Reuters
O reitor é uma beca reitoral, é uma samarra, é um capelo, é o poder institucional da academia. Mas o reitor não pode ser apenas uma pose. É preciso que, sob as vestes e os paramentos, exista uma noção qualquer de ética, de honra.
Timothy Mulholland, o reitor da UnB, perdeu a aura de magnificência. Deu-se no instante em que aceitou que verbas públicas destinadas à pesquisa universitária fossem desviadas para pagar a requintada decoração do apartamento funcional que lhe servia de morada.

O episódio, por acintoso, ganhou o noticiário. Em 20 de fevereiro de 2008, reunidos em assembléia, os professores da Universidade de Brasília foram apresentados a uma solução. Preferiram, porém, virar parte do problema. Por ampla maioria, mandou-se ao lixo a proposta de afastamento do reitor.

Restou demonstrado que, assim como em outras corporações, também no meio acadêmico todos são inocentes e todos são cúmplices. Por sorte, os alunos da UnB extraíram do gesto de seus mestres a melhor lição. Aprenderam o que não deve ser feito. E fizeram o oposto.

Num gesto de legítima defesa, a estudantada ocupou o prédio da reitoria. A coisa começou com 200 alunos. Nesta segunda-feira (7), o movimento já contava com a adesão de 1.300. Acossados por uma decisão judicial que determina a desocupação das instalações invadidas, os universitários optaram por manter o protesto.

Querem o escalpo do reitor. Em defesa da noção de honra que deveria existir sob a pose, foram ao confronto físico com os agentes de segurança da universidade. E aguardam pela ação da Polícia Federal.

Há na estante muita teoria sobre a razão. Renan (1823-1892) escreveu que “a finalidade do mundo é produzir a razão.” Com ironia, La Fontaine (1621-1695) ensinou numa de suas fábulas que “a razão do mais forte é sempre a melhor.” Noutra, anotou que “a razão do melhor é sempre a mais forte.”

Na refrega da UnB, não parece razoável que prevaleça a lógica segundo a qual têm razão aqueles que estão com os cassetetes ou com o caixa das verbas universitárias. Que lição dará o Estado às suas inteligências juvenis se permitir que a desonra prevaleça sobre a reação?
Escrito por Josias de Souza

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