Alan E. Cober
Sob o título “Cidade de Deus, nunca mais”, o repórter Elio Gaspari abre sua coluna domingueira com uma notícia alvissareira.
O texto, disponível aqui, trata de um plano do prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB).
No papel, a coisa tem cara de troca de mentalidade. Se virar realidade, vai mudar o destino de 13.500 brasileiros pobres.
Eis o que anota Gaspari:
“O prefeito Eduardo Paes anunciou a construção de 170 prédios com 3.400 apartamentos de 42,6 metros quadrados no bairro de Triagem.
Neles serão instaladas cerca de 13.500 pessoas que vivem em favelas da cidade. Há muito tempo não saía do Rio de Janeiro uma notícia tão boa.
A área fica a 15 minutos do Centro, próxima às linhas de trem, e Paes promete um projeto urbanístico que integre os prédios ao bairro, livrando-os da maldição dos conjuntos habitacionais.
Se fizer isso abrindo um concurso público, o Rio poderá ganhar mais um marco arquitetônico.
A transferência desses cariocas para um bairro vivo, com comércio, serviços e transportes próximos, desdenha a demofobia que há um século se esconde na discussão do futuro das favelas.
Não se trata de tirar cidadãos de um lugar, mas de saber para onde eles irão. Afinal, a maioria dos moradores da Avenida Vieira Souto aceitariam ser removidos para a Park Avenue, em Nova York.
O economista Sérgio Besserman, presidente do IBGE durante o tucanato, deu uma entrevista ao repórter Oscar Cabral defendendo as remoções de favelas e exemplificou suas virtudes:
'A lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma remoção. Quando a favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região, cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar.'
Certo, mas faltou dizer onde terminou a curva dos moradores da favela da Praia do Pinto.
Eles foram mandados para Cidade de Deus, símbolo internacional da depreciação do Rio de Janeiro, produto emblemático do urbanismo demófobo.
A favela não foi removida de acordo com uma política pública. Numa noite, a comunidade foi incendiada, provavelmente por Nero, o imperador que limpou Roma".
Sob o título “Cidade de Deus, nunca mais”, o repórter Elio Gaspari abre sua coluna domingueira com uma notícia alvissareira.
O texto, disponível aqui, trata de um plano do prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB).
No papel, a coisa tem cara de troca de mentalidade. Se virar realidade, vai mudar o destino de 13.500 brasileiros pobres.
Eis o que anota Gaspari:
“O prefeito Eduardo Paes anunciou a construção de 170 prédios com 3.400 apartamentos de 42,6 metros quadrados no bairro de Triagem.
Neles serão instaladas cerca de 13.500 pessoas que vivem em favelas da cidade. Há muito tempo não saía do Rio de Janeiro uma notícia tão boa.
A área fica a 15 minutos do Centro, próxima às linhas de trem, e Paes promete um projeto urbanístico que integre os prédios ao bairro, livrando-os da maldição dos conjuntos habitacionais.
Se fizer isso abrindo um concurso público, o Rio poderá ganhar mais um marco arquitetônico.
A transferência desses cariocas para um bairro vivo, com comércio, serviços e transportes próximos, desdenha a demofobia que há um século se esconde na discussão do futuro das favelas.
Não se trata de tirar cidadãos de um lugar, mas de saber para onde eles irão. Afinal, a maioria dos moradores da Avenida Vieira Souto aceitariam ser removidos para a Park Avenue, em Nova York.
O economista Sérgio Besserman, presidente do IBGE durante o tucanato, deu uma entrevista ao repórter Oscar Cabral defendendo as remoções de favelas e exemplificou suas virtudes:
'A lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma remoção. Quando a favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região, cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar.'
Certo, mas faltou dizer onde terminou a curva dos moradores da favela da Praia do Pinto.
Eles foram mandados para Cidade de Deus, símbolo internacional da depreciação do Rio de Janeiro, produto emblemático do urbanismo demófobo.
A favela não foi removida de acordo com uma política pública. Numa noite, a comunidade foi incendiada, provavelmente por Nero, o imperador que limpou Roma".
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