TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 13 de junho de 2010

Arrogânssa rima com inguinoranssa


O correio vai nu


Novo texto de João Boavida do Blog Rerum Natura, de Portugal:

Estávamos num grupo de estudantes de mestrado, ainda dos antigos, a tentar compreender o que se passa no ensino e à procura de uma explicação para o que se diz ser um descalabro – uma enorme ignorância sobre quase tudo, que inúmeros alunos hoje manifestam, com uma arrogância muito senhora do seu nariz.

Enfim, procurávamos uma fresta de luz que nos permitisse compreender, para tentar encontrar hipóteses de recuperação. Dramaticamente necessárias e urgentes.

A ideia surgiu de um trocadilho rápido, daqueles espontâneos, que aparecem sem darmos por isso, ou melhor, quando damos por ela já rimos a bom rir. E o trocadilho veio a propósito dos actuais currículos dos ensinos básico e secundário que, segundo parece, se caracterizam por estarem cada vez mais vazios de matérias, pelo menos em certas áreas, mais anémicos de informação científica e de conteúdos culturais.

Como se quanto mais os conhecimentos crescem e influenciam a nossa vida menos os jovens e os futuros cidadãos deles precisassem. E, face a este estranho fenómeno, a pergunta tinha sido sobre a hipótese, que alguns críticos colocam, de que este esvaziamento dos currículos seja propositado. Escolarizando embora toda a população, criam-se, por este processo, grandes massas de analfabetos diplomados para serem os novos proletários, de que o capitalismo, a política e o consumo da era global precisam.

Isto é, (de)formam-se os alunos de propósito na ignorância e na estupidez presumida e satisfeita, para melhor os ter à mão, condicionar e explorar. Em suma, ignorância e incapacidade com um pouco de verniz para que a verdadeira humanização e a efectiva competência, que a boa formação dá, sejam só para alguns.

E então o problema que se colocou foi o de saber como, e para quê, manter um sistema educativo onde tudo vai deixando de se ensinar até qualquer dia já pouco ou nada haver para aprender.

Poder-se-á ainda falar de sistema de ensino? Se eu achava bem um ensino que, em breve, provavelmente, seria só para desenvolver capacidades. Falam de competências abstractas, a desenvolver por aprendizes de feiticeiro inábeis, e, pior, muitas vezes inconscientes da sua inabilidade? Mais ou menos... Claro que não concordava. É difícil desenvolverem-se competências no vazio.

Além disso, se tiro conteúdo ao ensinar tiro-o também ao aprender e acabo por não aprender nada; além de esvaziar a cultura e a ciência, que são indispensáveis para tudo e que os nossos antepassados foram construindo com tanto esforço. Não há forma sem conteúdo, sabe-se desde Aristóteles. Se não tenho conteúdo para encher uma forma esta não chega a existir porque só fica a casca.

Imaginem pôr-me eu a fazer belos embrulhos cheios de nada, enviados a alguém que, nunca recebendo coisa alguma, acaba por ficar vazio; isto é, um remetente esvaziado e a criar invólucros de nada, não é coisa nenhuma nem, no final, vai encontrar ninguém.

Ou seja, o rei vai nu, disse um deles. Ou, melhor dizendo, neste caso, o correio vai nu. O correio vai nu?! Soa ao mesmo e é mais apropriado, não acham? De uma encomenda com vácuo, remetida por ninguém e destinada ao vazio poder-se-á dizer que é um correio que vai nu.

Tal como o rei, mas agora todos percebem e não só o finório rapaz da história.

João Boavida

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