TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dansô!

Por Leonardo Ferrari, Curitiba

Raymond Domenech, técnico da Seleção da França, durante a derrota para o México na última quinta-feira. Fotografia de Luca Bruno/AP na antológica primeira página do caderno de esportes do jornal O Globo, 18/8/2010.

A França é a minha seleção. Que o leitor guarde em sua memória o nome dessas sombras: Lloris, Sagna, Gallas, Abidal, Evra, Toulallan, Diaby, Malouda, Govou, Reibéry e Anelka. Nunca tantos puderam tão pouco. Nunca tantos fracassaram tanto. No dia seguinte à derrota para o México, o jornal L’Équipe estampou a seguinte manchete maravilhosa: “Ô Sombres Herós”, ó heróis fracassados. Mas a cereja no topo do bolo veio depois do fracasso. O atacante Anelka atacou sem bola o impagável técnico Raymond Domenech. Como? Um jogador mandando o técnico à merda? É a minha seleção. Um jogador não-carneirinho, não-motivado, não-crente, não-marionete, não-jogador? É fantástico! Um jogador que depois de dar balões o tempo todo, depois de jogar mal sem dó nem piedade, um jogador que não fica fazendo sinal de positivo o jogo inteiro, não fica sorrindo feito babaca, não fica fazendo propaganda de cerveja? Só na França. Não bastasse a cereja, a França trouxe o camembert. Ontem, depois do desligamento de Anelka do não-grupo, os jogadores desunidos, os jogadores putos, os jogadores fodidos se reuniram e se recusaram a treinar, uma greve geral em plena Copa do Mundo. Sensacional! Mais: o capitão Evra xingou a mãe do preparador físico Robert Duverne. Mais ainda: Ribery saiu aos tapas com seu colega Gorcouff. Muito mais: o ex-jogador e ídolo Zidane está por detrás da rebelião espalhando suas cabeçadas a torto e à direita. É a minha seleção. Não bastasse isso, quem apitou Brasil e Costa do Marfim? Stephane Lannoy com os bandeirinhas Eric Dansault – esse se pronuncia “dansô”, o que, em bom português, vira “dançou” – e Laurent Ugo. O que esses amigos fizeram ontem pelo Brasil, ninguém mais. No momento decisivo da partida, lá estiveram eles validando o gol mais bonito da copa até agora, um gol com dois toques de mão, um gol que é a síntese do avesso do futebol, um gol proibido, um gol ilegal, um gol com a marca do basquete. Só a França mesmo!

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