TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 6 de novembro de 2010

para os CHATOS ...


O CHATO


do BLOG LUZ&SOMBRA AQUI


O Chato é um ácaro da família dos humanos.
A sua função exclusiva é a de chatear, ou seja, massacrar o seu semelhante (salvo seja!) com assuntos ou atitudes que o aborreçam.
O resultado do eficaz desempenho da sua actividade, designa-se por Chatice. Os termos Seca e Pincel são também utilizados para este efeito; porém, Estucha e Maçada não devem ser considerados seus verdadeiros sinónimos, quer por não ilustrarem devidamente a magnitude do desempenho e seu efeito, quer pelas suas reconhecidas origens estrangeiradas (derivadas de um qualquer dialecto afectado a origem desconhecida).

Existe na natureza um insecto com idêntica denominação, que é o piolho púbico (Pthirus pubis)
Importa, desde logo, não fazer confusão entre chatos: o piolho púbico, pese embora a sua baixa reputação social de parasita, com hábitos extravagantes de vampirismo, não tem, como principal objectivo, chatear o parceiro (que, neste caso, se chama hospedeiro). Ao contrário da sua fama, o chato púbico não é assim tão chato. Desmistifiquemos, de vez, essa reputação: a sua actividade entre a pilosidade íntima dos humanos visa, antes de mais, garantir a sua própria subsistência. Também ao nível dos efeitos produzidos,nunca consegue superar o seu homónimo humano. Este, provoca invariavelmente uma reacção alérgica de muito maior dimensão.

Ao contrário do Parvo, o Chato não desempenha a sua actividade junto dos seus pares. Muito consciente das premissas essenciais ao bom desempenho das suas funções, o Chato, de um modo geral, privilegia o convívio com os Não-Chatos, suas vítimas, a quem se dá o nome de Chateados.
As reacções destes podem ser extremadas: ou de sono (manifestada por intensa actividade de abertura da cavidade bucal, silenciosa, vulgo bocejo), ou de desenfreada actividade (manifestada por intensa actividade de abertura da cavidade bucal, articulada, a vociferação).
Todavia, os meios mais eficazes para conter um chato são a surdez-mudez, a colocação em stand-by da actividade cerebral e, finalmente, os compromissos sócio-profissionais urgentes da vítima.
Quando é levado a atingir o grau supremo da Arrelia, em consequência de uma actividade chateante exacerbada, costuma o Chateado nomear-se por um termo mais adequado à sexologia, mas em versão vernácula (ou seja, num português pouco trabalhado, daí também se lhe chamar "calão").

Para o Chato, só existem um direito e um dever: o direito (seu) de chatear, e o dever (dos outros) de o aturar.
O Estado devia pôr cobro a esta manifesta inconstitucionalidade, e intervir. Para compensar o tempo produtivo perdido pelos cidadãos a aturar chatos, devia o Estado lançar um imposto sobre estes: o IVD, ou Imposto Sobre o Valor Diminuído. Há quem pense, também, ser necessário restringir a sua liberdade de chatear, impondo-lhes regras de conduta social, tais como, obrigá-los a explicar a importância de todas as suas obsessões e transcendências num limite máximo de cem fonemas ou de mil caracteres.

Apesar de tudo, o Chato, ainda que involuntariamente, deu um assinalável contributo à sociedade e à cultura portuguesas. Perante um chato, o portuga costuma invocar, com frequência, quer a célula familiar, representada pela figura materna - "ai a minha mãe!" - , quer, igualmente, remetendo o Chato para o supremo escritor da língua - "vai chatear o Camões!"

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