Do Leonardo Ferrari, psicanalista. Curitiba. AQUI
Isabel Wilkerson por Erik S. Lesser in The New York Times, 8 de setembro de 2010.
A escritora Isabel Wilkerson contou a Charles McGrath uma belíssima história sobre o inconsciente. Autora de um recente livro chamado The Warmth of Other Suns, magnífico título, algo como “o calor de outros sóis”, referência ao sol do norte das migrações, mas também o sol do que se transmite em uma família, significantes fundamentais, sobre a migração dos negros norte-americanos, do sul escravista para um norte dos sonhos, ela conta sobre a máquina de escrever que pertenceu a seu avô, Charles Richardson. Esse homem, ascensorista em Roma, na Geórgia, an elevator operator, com seu mísero ordenado, comprou uma máquina de escrever, um outro meio de transporte, pelas palavras, para uma outra Roma, e escreveu nela suas memórias, nunca publicadas, mesmo lhe sendo proibido caminhar pela rua até o jornal mais próximo, ainda que esta cidade e este país lhe obrigassem a nunca ter de sair desse elevador, em que o lugar do negro não era o de passageiro, mas sim o de empregado, coisa, mobília fixa, um imóvel – aliás, no livro, Isabel também conta sobre o tribunal do júri da Carolina do Norte, em que havia duas bíblias para se fazer o juramento – uma bíblia para os brancos e outra bíblia para os negros. Pois bem, eis que duas gerações depois, a neta do ascensorista, que começou a escrever o livro em Chicago, decidiu dar a volta, retornar sobre os passos de seus pais e antepassados, donna mobile, inconformada, habitada pelos significantes dessa história – ela foi morar em Atlanta, onde levou 15 anos para terminar o livro – ela diz que needed to be here, only I didn’t know it, tinha de estar ali, ainda que não soubesse porque. Do avô para a neta e, agora, da neta para o avô. Há sol nas palavras, é o que afirma essa linda mulher, essa Isabel querida. Ainda que leve tempo, ainda que leve dor.
A escritora Isabel Wilkerson contou a Charles McGrath uma belíssima história sobre o inconsciente. Autora de um recente livro chamado The Warmth of Other Suns, magnífico título, algo como “o calor de outros sóis”, referência ao sol do norte das migrações, mas também o sol do que se transmite em uma família, significantes fundamentais, sobre a migração dos negros norte-americanos, do sul escravista para um norte dos sonhos, ela conta sobre a máquina de escrever que pertenceu a seu avô, Charles Richardson. Esse homem, ascensorista em Roma, na Geórgia, an elevator operator, com seu mísero ordenado, comprou uma máquina de escrever, um outro meio de transporte, pelas palavras, para uma outra Roma, e escreveu nela suas memórias, nunca publicadas, mesmo lhe sendo proibido caminhar pela rua até o jornal mais próximo, ainda que esta cidade e este país lhe obrigassem a nunca ter de sair desse elevador, em que o lugar do negro não era o de passageiro, mas sim o de empregado, coisa, mobília fixa, um imóvel – aliás, no livro, Isabel também conta sobre o tribunal do júri da Carolina do Norte, em que havia duas bíblias para se fazer o juramento – uma bíblia para os brancos e outra bíblia para os negros. Pois bem, eis que duas gerações depois, a neta do ascensorista, que começou a escrever o livro em Chicago, decidiu dar a volta, retornar sobre os passos de seus pais e antepassados, donna mobile, inconformada, habitada pelos significantes dessa história – ela foi morar em Atlanta, onde levou 15 anos para terminar o livro – ela diz que needed to be here, only I didn’t know it, tinha de estar ali, ainda que não soubesse porque. Do avô para a neta e, agora, da neta para o avô. Há sol nas palavras, é o que afirma essa linda mulher, essa Isabel querida. Ainda que leve tempo, ainda que leve dor.
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