TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Judith, 83 anos

Aqui no papel da avó no filme A família Adams.











DAQUI Mulheres criativas


[EUA] Judith Malina: "Eu gosto de fazer amor"

Na primeira quinzena de abril o Living Theatre (Teatro Vivente), o célebre grupo norte-americano que foi expulso do Brasil durante a ditadura militar, e comandado pela atriz Judith Malina, inaugurou com tremendo sucesso seu no espaço teatral, em Nova Iorque, reapresentando o espetáculo "The Brig" (A Prisão) de Kenneth H. Brown, um ex-marinheiro convertido às idéias anarquistas, peça de 1963. Foram mais de 15 anos sem local próprio. Em 1963 seu teatro foi fechado nessa cidade, pelo não pagamento de impostos. Este novo recinto foi projetado pelo artista italiano Marco Rotelli, e terá um café, uma loja para vendas de camisetas, livros, fotos, dvd´s...

Judith Malina, a "femme fatale", nasceu em Kiel, Alemanha, há oitenta anos atrás, ela se mudou para Nova Iorque em 1928. Lá estudou com Erwin Piscator na Escola Nova e sofreu toda a influência brechtiana, porém acabou se separando de ambos, quando optou pelo anarquismo e a não-violência em seu trabalho.

Em 1947, Malina fundou o Living Theatre , juntamente com o falecido pintor Julian Beck, ambos mudaram os caminhos em que o teatro americano se encontrava. Recentemente Malina fez o papel da mãe histérica em "Tarde de Dia de Cão" e no igualmente tocante como Dottie, a tia de Paulie, no "Os Sopranos". A seguir leia uma matéria "simpática" com Malina e sua trupe, editado no jornal New York Time, em 5 de maio. Infos, fotos e tudo mais do Living Theatre, entre em: http://www.livingtheatre.org/



> Veterana Underground Reaparece em um Porão <

“Eu sempre me senti fazendo parte dos Lados Baixos do Leste da cidade”, disse recentemente a vanguardista teatral Judith Malina aos seus 80 anos de idade, enquanto estava sentada no terraço de seu novo apartamento na Rua Clinton. Muitos andares abaixo, uma meia dúzia de voluntários estava dando os toques finais aos 100 assentos localizados no subsolo, dando lugar à nova encarnação de seu bebê, o Living Theatre. Faltavam somente algumas horas para a noite de abertura de “The Brig”, a primeira exibição lá, mas deu tempo para a Sra. Malina relembrar coisas passadas.


“A única vez que vivi por estes lados”, foi quando eu passei 30 dias na Casa de Detenção para Mulheres”, conta. Este encarceramento, por recusar a ir para um abrigo durante um treinamento de ataque aéreo em 1957, foi o segundo de muitos, em uma carreira que fez dela um pilar do movimento cultural esquerdista. Agora, ela diz, “eu realmente me sinto, finalmente, aonde eu deveria estar."


E isto levou somente meio-século. Em 1947 a Sra. Malina e seu marido, o pintor Julian Beck (ela ainda se refere a ele pelo seu nome completo, como um guru, embora eles terem sido casados por aproximadamente 40 anos), fundaram o Living Theatre, um grupo dedicado aos costumes políticos e artísticos. Durante duas décadas eles representaram os vanguardistas, os clássicos ativistas (Gertrude Stein, Lorca, Brecht) e muitos quase-happenings naturalistas. A interação com a platéia era o traço característico, confrontações, nudez, sexo no palco ou nos bastidores e freqüentes intervenções da polícia eram em muito as marcas de uma boa apresentação, assim como uma aclamação pública. (Sra. Malina, educada como atriz, disse que muitos dos seus melhores trabalhos foram realizados quando foi presa).

Mas a companhia foi atormentada com os problemas logísticos e administrativos. Em 1963, o seu teatro na 14ª Rua foi fechado meio que às pressas por fraude fiscal. Embora o encargo tivesse finalmente diminuído, as travessuras do casal durante o processo - nas quais eles trataram como uma oportunidade para realizar performances anarquistas - deram a eles uma sentença de prisão por desacato à autoridade de um tribunal.


Suas grandes atividades fizeram deles uma causa célebre, mas não o suficiente para mantê-los em Nova Iorque. Eles continuaram a se apresentar e a ensinar em espaços alugados e públicos nos Estados Unidos e na Europa, porém o grupo não teve em Nova Iorque um teatro por aproximadamente 15 anos.


O novo, animado e moderno Living Theatre (o prédio foi originalmente destinado a ser um restaurante “da moda”) parece se sentir em casa entre as butiques e os bistrôs da vizinhança. Realmente, de certa forma, arrumou seus donos.

Com cabelos de bruxa tingidos de preto (no cinema viveu a vovó do primeiro filme da “Família Addams”), pesados delineadores de olhos alá anos 60, com um terninho preto e laranja, um “sapatênis” preto e grandes jóias, a Sra. Malina parecia muita mais jovem do que sua verdadeira idade. Seu companheiro, Hanon Reznikov, de 56 anos, trouxe para ela uma xícara de café, embora ela dificilmente precisasse disso. Sentada com uma perna dobrada debaixo de seu corpo e movida pela sua própria paixão, ela frequentemente pareceu se mover o suficiente para quase cair de sua cadeira de gramado.


“Eu somente preciso achar fontes para toda a energia que pego das coisas que vejo e escuto em volta de mim”, disse. “Eu estou muito inspirada pela geração jovem de hoje. Eles entendem, por exemplo, o equilíbrio entre arte e política de uma maneira que nós tivemos que lutar para compreender tudo isto. Acho que estes são bons tempos para o teatro político.”


E ainda se considera uma anarquista ou uma pacifista ou…?


“Ainda?” devolve a Sra. Malina. “Eu só estou começando! Ainda?” Ela rapidamente criticou e continuou: “Cada dia começa com, “O quanto posso fazer hoje para seguir em direção ao M.R.A.N.V.?" Você sabe o que significa M.R.A.N.V.? É a Maravilhosa Revolução Anarquista Não-Violenta. É para isso que eu trabalho todos os dias."


O foco do Living Theatre pouco mudou desde os dias em que “M.R.A.N.V.” começou a ser uma frase familiar. “Escutando o clamor dos necessitados, como você pode não responder?” Perguntou a Sra. Malina. “Se eu fosse um sapateiro, eu tentaria fazer uma maneira para que todo mundo pudesse ter sapatos, mas eu sou uma artista e eu quero levar esperanças em uma difícil situação.”

Seu método hoje é o mesmo como era então: “The Brig”, perfeito drama sobre uma prisão militar, de Kenneth H. Brown, foi um dos trabalhos mais bem sucedidos do Living Theatre quando primeiramente encenado em 1963. Dada as ressonâncias da exibição, com informações sobre Abu Ghraib e Guantánamo, “The Brig” pareceu uma escolha natural para a produção inaugural do novo espaço, disse Malina, que dirige a peça.


“Pensei que esta seria uma das apresentações que deveríamos fazer porque ela encoraja a revolução”, disse. “É trágico, trinta anos atrás encenamos esta peça, e ela é válida até hoje. Não deveria ser mais."


Quatro anos atrás ela decidiu realizar seu sonho de vida de ter um teatro com um lugar para viver em cima dele. Vendeu o apartamento de oito cômodos na Avenida West End - onde vivia com Sr. Beck, falecido em 1985, e com seus dois filhos - e investiu o dinheiro no espaço da Rua Clinton, onde ela tem um contrato de 20 anos, mas nenhum financiamento.


A recepção do mundo teatral tem sido calorosa. “Tony Kushner nos prometeu uma nova exibição”, conta Sr. Reznikov. “Jim Rado, que escreveu “Hair”, há pouco nos deu uma nova encenação.” E Oskar Eustis do Teatro Público, que está desenvolvendo o “The Brig” lá, mandou um buquê de flores com um cartão preto escrito: “Em solidariedade socialista”.

Porém resta ver se a solidariedade socialista irá preencher as cadeiras. A multidão da noite de abertura era em sua maioria composta de vários amigos com cabelo cinza (e parecidos com rabos de cavalo), e tinha o ar de uma reunião de esquerda.


A energia da Sra Malina permanecia brilhante e serena. Ela e o Sr. Reznikov estavam exaltados em achar um prédio com um elevador para “embarcá-la” entre o apartamento e o teatro – “assim ela pode dirigir até os 105 anos”, falou o Sr. Reznikov.

Ela ainda começa o seu dia escrevendo um diário. Duas coleções de seus escritos foram publicadas até agora – uma vai de 1947 até 1957, e a outra, “O Desespero Enorme”, é uma memória de seu regresso ao lar americano em 1968. Em seu apartamento de três cômodos, ainda esparsamente mobiliado, a não ser pelas dúzias de caixas com etiquetas escritas coisas como “teses + textos”, a Sra. Molina senta-se em uma pequena escrivaninha de madeira com uma lâmpada de forma esverdeada, editando as poesias e trabalhando em cima de um livro sobre o diretor Erwin Piscator, um progenitor de Brecht. (Ela começou isto em 1945, quando estudava com Piscator).


Auxiliada por um ajudante, Sra. Malina faz o teatro funcionar juntamente com o Sr. Reznikov - que assumiu a direção desde quando o Sr. Beck “se foi” – tendo assim uma relação pessoal e profissional. Entre seus outros projetos está a preparação da próxima apresentação do Living Theatre, uma peça de duas mulheres baseada no romance de Doris Lessing. A Sra. Malina pretende estrelar como atriz principal.


O que é que ela gosta de fazer para se divertir?


“Eu gosto de fazer amor”, disse a Sra. Malina. “Estudar também. Não sei fazer muitas coisas além de estudar, fazer amor e dirigir o teatro.”


“Quero dizer”, adicionou, “nós somos grandes bichos do amor. Pensamos que esta é a resposta: Fazer amor, não guerra."

Tradução: Marcelo Yokoi

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