De ROBERTO ROMANO: O favor como essência cultural.
Nota: o texto abaixo é uma aula proferida no Curso de Filosofia (graduação) da Unicamp no primeiro semestre de 2011. Ele trata do favor, tal como aquela prática surge no Sobrinho de Rameau diderotiano. Mas para tal fim, recolhi brevemente a história do favor, tanto na sociedade romana, quanto na ordem do Antigo Regime. De passagem, toco no problema aqui, no Brasil. Como sabemos, nossa terra acolheu e fez prosperar o favor, de tal modo que ele é uma fonte inesgotável de poderes e riquezas, na sociedade, no Estado, nos campi (neles sobremodo). Quem tiver paciência e quiser entender as causas do predomínio de Sarney, hoje, e a covardia petista (ou adesão) diante do oligarca maranhense, pode ler com proveito as linhas que seguem. Na exata medida de nossa abjeção, pela prática do favor, podemos dizer que somos todos, mais ou menos inteligentes, sobrinhos de Rameau. Ou de Sarney... RR
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O favor como técnica de controle e dominação encontra-se no plano mais amplo do Sobrinho de Rameau. Os fios que unem a sociedade em que Jean François se move, com suas cambalhotas para agradar os mestres e seus preferidos, foram tecidos na sociedade política conhecida como Ancien Régime. E o tempo da tecitura data, pelo menos, de Felipe o Belo. Mas ela foi acelerada no Renascimento. A ordem dos favores impera na corte e nos elos entre nobres importantes e outros, menos poderosos. Ela segura em redes complexas de nepotismo, apadrinhamentos, interesses, o rei a todos e a cada um dos súditos. Não por acaso, o título monárquico é o de Pai. Projeta-se na ordem pública o que se determina na vida familiar.
Como enuncia Joël Cornette (1) “O reino é organizado como uma família mais ampla de início, na qual as ligações de sangue e proximidade são hegemônicas, onde o rei sempre é percebido sob os traços de pai benevolente, do pater familias, concedendo suas benesses aos seus e sabendo distinguir, entre seus próximos, os que as merecem. Henrique IV, chefe benfeitor de clã, permanece para sempre como o que fez dos franceses ‘irmãos ’, ‘primos’, ‘amigos’, um clã que tem sentido não quando ele está em guerra ou em paz, mas porque está reconciliado (...) Todas as famílias concomitantes e superpostas, de Versalhes até a mais humilde choupana, são dominadas pela família mística: o Pai, o Filho e o Rei da França. Pois a essência divina da monarquia, pensada, difundida, teorizada definitiva e eficazmente a partir da ressacralização de Henrique IV, confere a esta dimensão paterna da monarquia um valor sagrado. Segundo uma propaganda oficial, as famílias terrestres do reino francês apenas transcrevem a família celeste, dos santos, dos anjos, do povo de Deus.”
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Comentário:
FAVOR. Verbo FAVORECER. Nunca vi esse verbo ser tão utilizado no país. No senado, congresso, ministérios, universidades ....
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