TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 23 de setembro de 2007

Elio Gaspari

Elio Gaspari, Folha de São Paulo
FFHH VÊ O PERIGO DE UMA GUERRA POR NADA
FFHH ficou famoso pela Teoria da Dependência, mas deveria ser estudado por conta da Teoria da Causa Inexistente. Sua idéia é de que certas crises acontecem sem motivo algum. Nem econômico nem social, nada. O melhor exemplo de crise sem causa seria a da renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961. Jânio resolveu deixar o governo, os ministros militares decidiram não empossar o vice-presidente, e o país chegou à beira da guerra civil. Tudo isso por nada.
Agora FFHH transpôs a Teoria da Causa Inexistente para o cenário mundial. Ele teme que, por nada, o mundo possa assistir a uma guerra de proporções imprevisíveis. Coisa parecida com o que aconteceu em 1914, quando 9 milhões de pessoas morreram sem que se saiba por quê.O Irã caminha para fabricar sua bomba atômica e seu governo de Teerã não se cansa de repetir que está disposto a bombardear Israel. (Por enquanto, com armas convencionais.) Israel tem um estoque de pelo menos 50 bombas atômicas. Pergunta: Os israelenses vão deixar o Irã montar o artefato?Então Israel ataca o Irã para destruir sua bomba, ou para impedir que ele a monte. Pode ser o contrário: o Irã, tendo conseguido montar uma bomba, ataca Israel porque acha que será bombardeado. Quando chegar a hora de contar por que a guerra começou vai-se cair na explicação do sujeito que entrou no tiroteio porque saiu de casa armado.
VIDENTE
O relatório de 172 páginas do delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira descrevendo as maracutaias do tucanato durante a campanha de Eduardo Azeredo em 1998 deverá ser julgado pelas autoridades competentes, mas um detalhe do texto revela perigosa desatenção. O documento está datado de "4 de julho de 1998". Nessa ocasião a maioria dos fatos denunciados nem sequer tinha ocorrido.
RECORDAR É VIVER O tucanato fica devendo uma à patuléia. Quando surgiram as primeiras denúncias de que as arcas de Marcos Valério começaram a funcionar na campanha de Eduardo Azeredo, a argumentação dos doutores girava em torno de um ponto: pode ter havido caixa dois, mas não houve desvio de dinheiro público.O relatório do delegado Zampronha mostra a saída de dinheiro de quatro caixas da Viúva para custear patrocínios publicitários superfaturados. A saber: Cemig, Copasa, Bemge e Comig. Coisa de pelo menos R$ 5 milhões. Parte desse dinheiro foi rastreado até os bolsos de uns 30 tucanos. Meteram o bico até em recursos da companhia de saneamento.
Quando esse processo chegar ao STF, fará a alegria do ministro Cezar Peluso, que divertiu o país mostrando o absurdo da história dos emissários que iam buscar grandes quantidades de dinheiro vivo em agências bancárias da avenida Paulista.
Há um ex-policial, motorista de táxi, que disse ter recebido R$ 1.000 de um passageiro para sacar um cheque de R$ 375 mil no Banco Rural. O cidadão pediu a gentileza porque "havia esquecido o documento de identidade".
MADAME NATASHA
Madame Natasha adora Mônaco, onde tem boas amigas. Ela gostaria de ser convidada para rever o texto da versão francesa do memorial do governo brasileiro pedindo a extradição de Salvatore Cacciola. Prosseguindo na sua defesa do idioma, renovou a bolsa de estudos do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, pelo seguinte comentário a respeito de sua decisão de mandar libertar o finório, em 2000: "Da mesma forma como tenho implementado outras, quando entendo que não assiste ao ato que implicou a prisão o que temos de considerar é que a liminar foi deferida quando ele era um simples acusado, não havendo ainda a sentença condenatória".
Natasha acredita que ele quis dizer o seguinte: "Achei que o rapaz deveria ser solto. Ele não estava condenado".
NÓS, QUEM?
D. Pedro 2º chegou à maioridade com 14 anos. Nosso Guia demorou um pouco mais e atingiu-a aos 57, quando entrou no Palácio do Planalto. Só então descobriu as virtudes da estabilidade da moeda, da responsabilidade fiscal, da CPMF e dos biocombustíveis. Seguindo uma escrita dos inquilinos da Viúva, adquiriu a capacidade de falar mal de um ente abstrato chamado "os brasileiros", ou um vago "nós" que, por definição, não o inclui. Um exemplo, de quinta-feira passada: "Fiquei meditando porque no Brasil trabalhamos com pessimismo e não conseguimos ter visão tal como as coisas acontecem. (...) O Brasil não pode aceitar os discursos que nós fazemos diminuindo o Brasil".
Basta que faça menos discursos.

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