Faz já alguns dias a Revista Veja publicou duas matérias completamente distorcidas sobre a situação do construtivismo no Brasil. A primeira delas foi de autoria do senhor Cláudio Moura Castro e a segunda, já mais recentemente, no dia 12 de maio, de autoria do senhor Marcelo Bortoloti. As matérias, de caráter tendencioso e superficial, revoltaram estudiosos da teoria piagetiana e tem causado ampla repercussão no meio acadêmico. A pedido do professor Adrian Oscar Dongo Montoya, coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Epistemologia Genética e Educação (GEPEGE), encaminho uma das matérias publicadas na Revista Veja (http://veja.abril.com.br/120510/salto-no-escuro-p-118.shtml) e, também, em anexo, a manifestação do professor Lino de Macedo, endereçada à Revista.
Em vista disso, solicitamos apoio imediato ao manifesto.Devemos impedir que afirmações sem fundamento deturpem, aos olhos da sociedade, a teoria que nos dedicamos com tanto afinco e que tem trazido contribuições científicas e filosóficas inestimáveis para a Educação.
Atenciosamente,
Rafael dos Reis Ferreira
P.S. Em breve divulgaremos o resultado do levantamento que fizemos relacionado a grupos de pesquisa sobre a teoria de Piaget no Brasil.
São Paulo, 10 de maio de 2010.
Ao Senhor Diretor de Redação
VEJA
Caixa Postal 11079
CEP 05422-970
Fax: (11) 3037-5638
São Paulo, SP
Prezado Senhor
Como antigo assinante desta revista e estudioso do Construtivismo, segundo
Piaget, venho lamentar a publicação, em 12 de maio, da matéria “Salto no escuro”, escrita
pelo Senhor Marcelo Bortoloti. Três semanas atrás, esta mesma revista, já publicara
matéria contra o Construtivismo, escrita pelo Senhor Cláudio Moura Castro.
O texto do Senhor Marcelo Bortoloti é superficial, tendencioso e mal orientado. É
isto que a Veja entende por jornalismo científico? Como posso continuar assinando esta
revista e sustentar minha confiança em suas matérias, sobretudo naquelas em que me
sinto ignorante, se - a respeito do que venho estudando desde 1968 -, o que observo é
algo totalmente sem respeito?
Indico abaixo os pontos de minha divergência como Senhor Botoloti:
1. Não há dogmas no construtivismo;
2. O construtivismo se caracteriza pela visão de enfrentamento (via realização ou
compreensão) de problemas que requerem conclusão; se errada, o desafio é aprender
com os erros:
3. Culpar os professores que se dizem construtivistas e não compreendem o que significa,
para dai concluir que o construtivismo é responsável pelo fracasso da educação
brasileira é simplificador e torpe, próprio de quem escreve sobre aquilo que não
entende e, pior que isto, escreve com a motivação de confundir e “desconstruir”;
4. O quadro “A desconstrução do construtivismo”, em que este autor compara “pedagogia
tradicional” X “construtivismo”, é de uma banalidade e falta de informação que causa dó
e desrespeito em alguém minimamente informado sobre o assunto.
5. Meu pressuposto, pautado no excelente trabalho da Editora Abril, com a Revista Nova
Escola e outros projetos educacionais, era que ela valorizava e somava forças com
esta imensa tarefa de defender uma escola para todos, apesar das dificuldades deste
projeto. Com a publicação deste artigo e do anterior percebo que a Veja é contra esta
idéia, sendo favorável ao “melhor da escola tradicional”, com sua visão determinista,
favorável à seleção dos mais aptos, o que exclui a maioria de nossa população de
crianças e jovens. Que pena!
6. Culpar, enfim, professores e gestores por suas dificuldades em aplicar idéias
construtivistas, no Brasil, é injusto, superficial e tendencioso, pois não considera a
complexidade de se transpor princípios teóricos e epistemológicos à prática
pedagógica; ignora, também, o muito que se tem feito e conseguido, apesar de tudo.
Pior de tudo: minimiza, vulgariza e desengana todos aqueles que, apesar da
complexidade desta imensa tarefa, não desistem e aceitam o desafio de uma escola
para todas as crianças e jovens.
Concluo informando que vou cancelar minha assinatura desta revista, porque perdi
o respeito e a confiança que tinha por ela.
Atenciosamente
Lino de Macedo
Professor Titular do Instituto de Psicologia, USP.
Rua Acanguerucu, 204.
05.579-021 São Paulo, SP.
RG 3.183.093-6 / CPF 028.239.268-87 / Te. (11) 3727-2052
Um comentário:
Olá, caso queiram saber quem é o autor da matéria, acessem http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4452993D7. Acredito que se trate de Marco Marcelo Bortoloti, e adianto que se trata de um reporter da Abril, formado em Comunicação Social: Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2000). E, que, abandonou, em 2003, o mestrado em Antropolosia na Universidade Federal Fluminense. Encontrei apenas isso no seu lattes.
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