TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Qualquer semelhança não é mera coincidência


GATO E A BARATA Millôr Fernandes (captirado do Toinho de Passira)


A baratinha velha subiu pelo pé do copo que, ainda com um pouco de vinho, tinha sido largado a um canto da cozinha, desceu pela parte de dentro e começou a lambiscar o vinho.

Dada a pequena distância que nas baratas vai da boca ao cérebro, o álcool lhe subiu logo a este. Bêbada, a baratinha caiu dentro do copo. Debateu-se, bebeu mais vinho, ficou mais tonta, debateu-se mais, bebeu mais, tonteou mais e já quase morria quando deparou com o carão do gato doméstico que sorria de sua aflição, do alto do copo.

- Gatinho, meu gatinho – pediu ela – me salva, me salva. Me salva que assim que eu sair daqui eu deixo você me engolir inteirinha, como você gosta. Me salva .

- Você deixa mesmo eu engolir você? – disse o gato..

- Me saaalva! – implorou a baratinha. - Eu prometo..

O gato então virou o copo com uma pata, o líquido escorreu e com ele a baratinha que, assim que se viu no chão, saiu correndo para o buraco mais perto, onde caiu na gargalhada. .

- Que é isso? – perguntou o gato. - Você não vai sair daí e cumprir sua promessa? Você disse que deixaria eu comer você inteira.

- Ah, ah, ah – riu então a barata, sem poder se conter. - E você é tão imbecil a ponto de acreditar na promessa de uma barata velha e bêbada? .


Moral: Às vezes a autodepreciação nos livra do pelotão. ..

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