TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Ciência? Cultura? Não!

DEu na Folha de SPaulo
Minas fecha museu "pobre" mas não abre centro "rico"
Centro em crise por falta de R$ 15 mil mensais é vizinho de um que tem R$ 3 mi em 2008
Dono de uma das maiores coleções de dinossauros do país, instituto em Uberaba perdeu verba da prefeitura e só reabriu devido a parcerias
Jairo Chagas/"Jornal da Manhã"
Fachada do edifício-sede da Rede Nacional de Paleontologia
CLAUDIO ANGELO, EDITOR DE CIÊNCIA
Este é um conto de duas instituições de pesquisa. Ambas se dedicam ao mesmo tema. Ficam a menos de 200 metros uma da outra, num distrito da cidade de Uberaba, em Minas Gerais. Uma delas chegou a ser fechada nesta semana porque não tem R$ 15 mil mensais para pagar seus funcionários. A outra, com orçamento de R$ 3 milhões só para 2008, nem chegou a abrir as portas.
A instituição "pobre" é o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, em Peirópolis. Seu museu, com 2.500 peças, tem a maior coleção de fósseis de dinossauros herbívoros do Brasil -inclusive a única vértebra daquele que foi o maior de todos os dinossauros brasileiros.
Sobrevivendo de um repasse mensal da prefeitura de Uberaba para pagar seus 13 funcionários, o museu foi fechado no último dia 14, quando a administração municipal cancelou um convênio que tinha com a Fumesu (Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba), entidade que o mantém. Foi reaberto provisoriamente ontem, graças a parcerias firmadas de última hora com uma universidade e uma empresa. Mas diz que só tem dinheiro para os próximos seis meses.
Em espera
A instituição "rica" é a Rede Nacional de Paleontologia. O projeto pretende ser uma espécie de ligação virtual entre várias instituições nacionais que pesquisam fósseis. Foi instituída em 2004, com verba de R$ 6,1 milhões liberada pelo governo por meio de uma emenda parlamentar. Até hoje não entrou em funcionamento. Seu prédio foi inaugurado em dezembro, numa solenidade com a presença do ministro Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia), mas até agora não recebeu o "habite-se" do município e permanece fechado.
Nenhuma atividade de ensino, pesquisa ou divulgação da ciência da paleontologia jamais foi realizada pela rede em três anos de dispêndio do dinheiro, liberado em duas parcelas pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) com uma contrapartida do governo do Estado de Minas -que é o gestor da rede.
A Secretaria de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais afirma que a rede começa a funcionar ainda neste mês. Mas o coordenador do projeto em Uberaba, Beethoven Luís Teixeira, diz que nada acontecerá antes do Carnaval."Contexto humano".
Edmundo Abi Ackel, da Secretaria de C&T de Minas, afirma que a sede da rede está fechada só "entre aspas". "Qualquer um da comunidade [científica] pode entrar e usar os computadores." Ele explica também qual deve ser o primeiro projeto da rede. "Vamos fazer uma exposição temática sobre a paleontologia em seu contexto humano: no cinema, nas artes e também na ciência." Diz também que a ligação virtual (por teleconferência) entre os dez centros de pesquisa que integram a rede já está pronta.Apesar de a instituição "pobre" ser um dos dez pontos da rede "rica", as duas não conversam, nem há repasse de verbas da rede para o museu. "Recebemos um computador, uma mesa e uma cadeira, que custaram R$ 3.000, no máximo", diz o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, diretor do museu.
A rede também enfrenta resistência da comunidade científica desde sua criação. Isso porque o projeto foi montado e teve recursos garantidos por emenda do deputado mineiro Nárcio Rodrigues (PSDB) sem que a comunidade científica tivesse sido consultada. O projeto original listava o nome de 40 instituições. Entre elas, as principais universidades e centros de paleontologia do Brasil, como o Museu Nacional, a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a USP e a Unesp. Mas nenhuma delas sabia da inclusão."A rede foi montada com base em uma mentira.
Apresentaram um projeto mentiroso", resume João Carlos Coimbra, presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia e pesquisador da UFRGS. "Se tivesse sido submetido para análise ao CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], esse projeto teria sido rejeitado sumariamente."Substrato políticoHoje, a rede tem dez instituições -nenhuma delas figura entre as mais produtivas ou tradicionais da área.Reinaldo José Bertini, paleontólogo da Unesp de Rio Claro, diz que sua universidade foi chamada a participar só depois que o dinheiro já estava liberado. Num primeiro momento, recusou-se entrar. "Havia um substrato político muito forte." Hoje a Unesp negocia a entrada na rede. Mas o site do projeto (www.redepaleobra sil.org.br) já lista a universidade entre seus membros.Tanto Bertini quanto Coimbra questionam o fato de que em três anos e com milhões de reais em investimentos públicos a rede de paleontologia tenha construído só um prédio.
Beethoven Teixeira diz que a demora se deveu em parte a uma ação judicial contra a obra, movida pelo arquiteto que a projetou. O resto, afirma, faz parte. "Temos pontos em lugares distantes do Brasil. Você fica cinco dias para visitar o Acre. Depois vai para o Maranhão. É complicado."

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