TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cestas-básicas...


O transatlântico Independence of the Seas, com 4.370 pessoas à bordo, da Royal Caribbean International, ancorado na praia de Labadee, no Haiti, na sexta-feira, 15 de janeiro, logo após o terremoto que devastou o país. Fotografia de Daniel Morel/AP in The Guardian, 18/1/2010.

Por Leonardo Ferrari, de Curitiba

É a fotografia do ano. Enquanto milhares de pessoas se estapeiam pelas ruas à procura de parentes desaparecidos, debaixo de escombros, mortos pelo terremoto, à procura de água e de comida para passar o dia, a alguns quilômetros dali, na praia particular de Labadee, exclusiva para turistas, cercada de seguranças, eis a chegada do transatlântico Independence of the Seas. Mesmo sabendo do terremoto, a Royal Caribbean International, empresa da Flórida, decidiu manter a rota para o Haiti. Impressiona isso. Na ótima reportagem de Robert Booth para o The Guardian, se sabe que na próxima semana vai chegar mais um navio desta companhia, o Navigator of the Seas, com mais 3.100 passageiros. A decisão dividiu os passageiros em dois grupos. O grupo contra o passeio alegou ser impossível manter a rotina de férias sabendo que logo ali na esquina milhares de vítimas do terremoto vagam pelas ruas como mortos-vivos à espera de alguma ajuda. O outro grupo, liderado pela companhia de navegação, alegou que não seguir a rota iria significar mais desgraça para os haitianos que trabalham com o turismo nesta praia – segundo a Royal Caribbean, há 230 empregados fixos na praia e mais de 400 que se beneficiam da parada dos navios por ali. Curioso é a presença de um terceiro grupo preocupadíssimo com a possibilidade dos miseráveis invadirem o transatlântico, daí o pavor de sair à praia. Pois é. Sem querer, a Royal Caribbean produziu a metáfora do novo século. O que fazer com o resto faminto, com o resto sedento, com o resto que se amontoa em barracos, que coxeia pelas ruas e avenidas, que teima em sobreviver? O que fazer com o resto que não anda de transatlântico, não anda de carro blindado, não anda de condomínio fechado, não anda de praia particular, não anda de clube privê, não anda de baiúcas travestidas de universidades? O que fazer com o resto que insiste, com o resto que se multiplica, com o resto que não se cala? A resposta da Royal Caribbean merece destaque. Preocupada com a insatisfação de parte dos clientes, ela mandou enviar para a praia 40 cestas-básicas de arroz, feijão, leite em pó e água. Quarenta!! Como? Deverão pagar royalties para o PT por essa idéia? Pois é, pois é...

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