TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti...


De Dante Mendonça no Blog do Solda


Esse não foi o maior terremoto que abalou o Haiti. Muito antes de levar a nossa Zilda Arns, os cismas de nacionalidade daquela ilha caraíba fizeram tantas vítimas que a ONU deve levar um milênio para consertar todos os estragos que começaram com Cristóvão Colombo, em 1492, seguidos da famigerada família Duvalier, de Papa Doc e Baby Doc.

O Haiti é quase aqui
, porque sua história de terremotos políticos não fica longe de nosotros vizinhos sulamericanos. A partir de agora, podemos chamar aquela antiga ilha Hespaniola de “Ilha do fim do mundo”. Também no sentido de misérias, mas principalmente porque o que aconteceu naquele que poderia ser um pedaço de paraíso do Caribe é a mais perfeita visão do que seria o fim do mundo. Somando-se os fenômenos da natureza aos fenômenos de dominação política, exploração e corrupção com que foi assolado desde Cristóvão Colombo, o mundo tem uma dívida impagável com o Haiti. O preço da reconstrução não paga uma fração do que tem a receber perante a história.
Por ironia do destino, o Haiti foi o primeiro país latinoamericano a declarar-se independente. Este foi um outro terremoto (nos conta o Google), quando o ex-escravo Toussaint Louverture tornou-se governador-geral, sendo deposto e morto pelos franceses. Em seguida, o líder Jacques Dessalines reorganizou a revolta e derrotou os franceses em 1803. No ano seguinte, foi declarada a independência e, para não renegar a natureza sísmica, Dessalines proclamou-se imperador.

Para aterrorizar os dominadores brancos, então o líder escravo Mackandal utilizava o vodu como principal arma de guerrilha. A magia negra nunca funcionou, pelo visto, porque nos rastros de Cristóvão Colombo, no fim do século XVI, quase toda a população nativa havia desaparecido, escravizada ou morta pelos conquistadores espanhóis.

Nos dizem que esse de agora foi o maior maior dos sismas nos últimos 200 anos. E por certo vai marcar tanto a história quanto o terremoto causado pela família Duvalier, Papa e Baby Doc de sinistra memória.

O terremoto Duvalier começou com abalos esparsos, da segunda metade do século XIX ao começo do século XX, quando vinte governantes sucederam-se no poder. Desses, 16 foram depostos ou assassinados. O terror aumentou na escala Richter quando as tropas dos Estados Unidos ocuparam o Haiti entre 1915 e 1934, como sempre sob o pretexto de proteger os coitados. Em 1946, foi eleito um presidente negro, Dusmarsais Estimé e, após a derrubada de mais dois títeres, o médico François Duvalier foi eleito presidente em 1957. Foi o dia do pai dos terremotos.

Papa Doc, o Pai Doutor, instaurou a carnificina com o terror policial dos “tontons macoutes”, a sua guarda pessoal que andava com um fardamento impecável, cáqui, calças vincadas, camisas engomadas e o principal, óculos rayban. Como se fosse pouco, o badanha explorou até o vodu para se sustentar como presidente vitalício a partir de 1964. Não é preciso dizer que o “doutor morte” substituiu a igreja católica pelo culto ao vodu e exterminou a oposição até o talo.

Em 1971, um novo terremoto foi sentido inclusive nos Estados Unidos, quando Papa Doc morreu. Dessa feita os tremores foram da felicidade que durou pouco, até assumir o filhote de satanás Jean-Claude Duvalier.

Baby Doc tinha magnitude 5 na Escala Richter, enquanto carniceiro-mór chegava a bem mais que 7, caso acordasse com os cornos virados para o inferno. Com baixos teores de enxofre, em 1986 Baby Doc decretou estado de sítio, o povo se revoltou e a besta acabou fugindo com a família para a França.

O Haiti é quase aqui, ou como aqui: Baby Doc foi viver uma vida de nababo nos arredores de Paris, com uma fortuna de 120 milhões de dólares em bancos europeus. Grande parte da rapina sua mulher Michele torrou em joias. Bloqueados em 2002 pela Justiça da Suíça, os fundos da família foram restituídos ao governo do Haiti só em 2009.

Dante Mendonça (15/01/2010) O Estado do Paraná.

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