Por Roberto Barbato, autor do Blog LÁPIS IMPRECISO AQUI
Preconceito: blog é coisa de veado (e vagabundo)
- Blog é coisa de veado!
- Com certeza: coisa de veado.
- Veado e vagabundo!
- Claro: o cara, além de veado, é vagabundo.
- Veado, porque blog é como diário. E diário é coisa de menina adolescente. Se o cara escreve diário na Internet, não importa. Continua sendo diário. Portanto, quem escreve diário, sendo homem, não é homem, é veado.
- É isso aí. Veado e vagabundo.
- Vagabundo mesmo. Quem escreve em blog não tem mais o que fazer da vida. Imagine: o cara escreve todo dia. É sempre aquela conversa mole. Se ainda fosse jornalista, vá lá....
- É mesmo. Se o cara trabalhasse, não teria tempo para escrever em blog, em diário ou sei lá.
- Isso não é nada. Quem quer saber da vida dele? Saber da vida de um veado e vagabundo?
- Quem? Quem quer saber?
- Só se forem outros veados que também têm blogs. Vira uma veadagem só! Um monte de veados vagabundos. Porque ser veado, vá lá, tudo bem. Agora, ser veado e vagabundo é o fim da picada.
- É verdade. Uma legião de blogueiros vagabundos.
- Blogueiros vagabundos é pleonasmo.
- Verdade. Pleonasmo. Pleonasíssimo.
- E tem vagabundo que escreve em blog porque diz que faz literatura. Publica lá uns contos, umas crônicas. Se fossem bons, publicaria em livros. Teria um monte de editoras querendo publicar. Mas, não. Os caras gostam mesmo é de blog.
- Veados! Uns veados! Uns vagabundos!
- Acham que o blog tem mais penetração.
- Tá vendo: isso é papo de veado. Penetração....
- Atinge um público maior, eles dizem. Não ficam presos às teias editoriais, ao controle do mercado literário.
- Pois é. Essa história de liberdade literária só pode ser coisa de veado.
- Homem que é homem não briga por liberdade. Homem que é homem, é livre. E pronto. O cara escreve o que quer e a editora publica. E ai do editor se não publicar.
- Mas é aí que está o ponto.
- Que ponto?
- Vou explicar. Preste a atenção: o editor só não publica se perceber que o cara é veado ou vagabundo. Aí, recusa os originais e manda o veado-vagagundo escrever em blog. O veado fica triste porque o livro não vai sair, mas, logo depois, percebe que o melhor é escrever em blog mesmo (afinal, também é vagabundo). Acha que sua obra será melhor difundida. É a tal história da penetração que você falou....
- Eu? Penetração?
- É. Penetração!
- Tô achando que você é que é veado. Você tem blog?
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