Do Josias de Souza FSP/UOL
Discurso do Lulla, EU não sabia!
“Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, que chocam o país. O PT foi criado justamente para fortalecer a ética na política.”
Com essas palavras, o presidente da República inaugurou, em agosto de 2005, a sua fase Lula “não sabia de nadinha” da Silva. Corria o 91º dia da crise do mensalão. Respirava-se em Brasília uma atmosfera intoxicada por revelações que surgiam em catadupas.
Duda Mendonça, peça central da engrenagem que fizera de Lula presidente, acabara de tornar-se protagonista de uma trama com potencial para transformá-lo em ex-presidente. Em depoimento de dez horas à CPI dos Correios, o publicitário revelara que parte das despesas de cinco campanhas do PT, incluindo a de Lula, fora paga com dinheiro sujo de Marcos Valério, depositados em contas clandestinas, no exterior.
O marqueteiro conduzira cinco campanhas do PT em 2002 –governos estaduais, senado e presidência. Cobrara R$ 25 milhões. Desse total, R$ 10,5 milhões haviam sido pagos no exterior. Coisa clandestina. “O dinheiro era claramente de caixa dois. Nós sabíamos, mas não tínhamos outra opção. Queríamos receber”, declarou Duda, diante de congressistas atônitos.
Não foram palavras ao vento. Duda acomodou sobre a bancada da CPI comprovantes da abertura de uma empresa nas Bahamas –a Düsseldorf— e de depósitos da verba de má origem coletada em pela dupla Valério-Delúbio. Caixa dois? Não só. Sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Um espanto!
No dia seguinte, Lula foi à TV. Mantivera-se calado por treze semanas. Declarou-se “traído”, mas esquivou-se de dizer quem o traiu. Disse que o PT e o governo deviam um “pedido de desculpas por seus erros”, mas eximiu-se de afirmar quem errou. Uma pantomima.
Ao queixar-se do próprio partido, Lula portou-se como um comandante de navio que reclama do mar. Com seu discurso de ocasião, arrancado a fórceps, num instante em que a lama toca-lhe os sapatos, o ex-sindicalista de sucesso, o político experimentado, mostrou-se ao país como um tolo de mostruário.
Nas semanas seguintes, uma palavra escalou o noticiário: impeachment. Era pronunciada com naturalidade inaudita. A oposição, julgando-se esperta, enveredou pela trilha do equívoco: apostou que Lula sangraria em praça pública até o final de 2006. E seria presa fácil. Lula, que não é bobo, levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Cavalgando o Bolsa Família e a estabilidade econômica, reelegeu-se sem dificuldades. Não fosse pelo dossiêgate –outra alopragem da qual Lula “não sabia”— a fatura teria sido liquidada já no primeiro turno.
O nome de Lula escorregou de todas as peças acusatórias do mensalão. Nada no relatório da CPI. Nada na denúncia do procurador-geral Antonio Fernando de Souza. No primeiro dia do histórico julgamento do STF, o procurador serviu-se do obvio na peroração que fez em defesa de sua causa (íntegra aqui): “Não é possível que esquema de tamanho porte, que tinha entre os objetivos principais a obtenção de apoio parlamentar e político, tenha existido sem o envolvimento de algum membro do governo federal [...]”.
Quem? Antonio Fernando concentra suas baterias em José Dirceu. A menos que um Delúbio qualquer, por descuido ou descontentamento, venha a dar com a língua nos dentes, Lula descerá ao verbete da enciclopédia no conveniente papel de bobo. Passará à história como o presidente que não sabia. Algo que não condiz com sua biografia.
Escrito por Josias de Souza às 04h19
Com essas palavras, o presidente da República inaugurou, em agosto de 2005, a sua fase Lula “não sabia de nadinha” da Silva. Corria o 91º dia da crise do mensalão. Respirava-se em Brasília uma atmosfera intoxicada por revelações que surgiam em catadupas.
Duda Mendonça, peça central da engrenagem que fizera de Lula presidente, acabara de tornar-se protagonista de uma trama com potencial para transformá-lo em ex-presidente. Em depoimento de dez horas à CPI dos Correios, o publicitário revelara que parte das despesas de cinco campanhas do PT, incluindo a de Lula, fora paga com dinheiro sujo de Marcos Valério, depositados em contas clandestinas, no exterior.
O marqueteiro conduzira cinco campanhas do PT em 2002 –governos estaduais, senado e presidência. Cobrara R$ 25 milhões. Desse total, R$ 10,5 milhões haviam sido pagos no exterior. Coisa clandestina. “O dinheiro era claramente de caixa dois. Nós sabíamos, mas não tínhamos outra opção. Queríamos receber”, declarou Duda, diante de congressistas atônitos.
Não foram palavras ao vento. Duda acomodou sobre a bancada da CPI comprovantes da abertura de uma empresa nas Bahamas –a Düsseldorf— e de depósitos da verba de má origem coletada em pela dupla Valério-Delúbio. Caixa dois? Não só. Sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Um espanto!
No dia seguinte, Lula foi à TV. Mantivera-se calado por treze semanas. Declarou-se “traído”, mas esquivou-se de dizer quem o traiu. Disse que o PT e o governo deviam um “pedido de desculpas por seus erros”, mas eximiu-se de afirmar quem errou. Uma pantomima.
Ao queixar-se do próprio partido, Lula portou-se como um comandante de navio que reclama do mar. Com seu discurso de ocasião, arrancado a fórceps, num instante em que a lama toca-lhe os sapatos, o ex-sindicalista de sucesso, o político experimentado, mostrou-se ao país como um tolo de mostruário.
Nas semanas seguintes, uma palavra escalou o noticiário: impeachment. Era pronunciada com naturalidade inaudita. A oposição, julgando-se esperta, enveredou pela trilha do equívoco: apostou que Lula sangraria em praça pública até o final de 2006. E seria presa fácil. Lula, que não é bobo, levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Cavalgando o Bolsa Família e a estabilidade econômica, reelegeu-se sem dificuldades. Não fosse pelo dossiêgate –outra alopragem da qual Lula “não sabia”— a fatura teria sido liquidada já no primeiro turno.
O nome de Lula escorregou de todas as peças acusatórias do mensalão. Nada no relatório da CPI. Nada na denúncia do procurador-geral Antonio Fernando de Souza. No primeiro dia do histórico julgamento do STF, o procurador serviu-se do obvio na peroração que fez em defesa de sua causa (íntegra aqui): “Não é possível que esquema de tamanho porte, que tinha entre os objetivos principais a obtenção de apoio parlamentar e político, tenha existido sem o envolvimento de algum membro do governo federal [...]”.
Quem? Antonio Fernando concentra suas baterias em José Dirceu. A menos que um Delúbio qualquer, por descuido ou descontentamento, venha a dar com a língua nos dentes, Lula descerá ao verbete da enciclopédia no conveniente papel de bobo. Passará à história como o presidente que não sabia. Algo que não condiz com sua biografia.
Escrito por Josias de Souza às 04h19
2 comentários:
O Procurador Geral com as pinceladas finais acabou o quadro da Trama dos Mensaleiros ficando somente o toque final: aplicar as devidas punições. Se, depois de tudo isso, nada acontecer, será a confirmação que ética e moralidade tiveram seu sentido banalizado e passaram ser definidas pelos seus respectivos antônimos.
O documento deve ser aceito na íntegra não só dos mensaleiros como os funcionários "mensageiros" que faziam a entrega e sabiam que o procedimento estava incorreto: não podemos aceitar fórum privilegiado nos casos de saques dos cofres públicos(roubo) e também não penalizar os "mensageiros" que se sentiam coagidos com medo de perder o emprego. Seria o mesmo que considerar inocentes, os "mulas" do narcotráfico, que no desespero para sobreviver entram no sistema e depois não tem como sair.
“Esse é o meu país”. Minha terra tem palmeiras onde cantava os sabiás: as aves que aqui gorjeiam são, agora, os carcarás - PEGA MATA E COME -
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