TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O senado fede

Angeli

Na maior parte das cinco horas da sessão secreta em que foi julgado, Renan Calheiros exibiu o cenho calmo. Parecia seguro de que sairia dali absolvido. Em dois momentos, porém, o senador perdeu a calma. Ele reagiu com destempero às intervenções de Heloisa Helena (AL), escalada pelo PSOL para fazer o discurso de acusação, e de Demóstenes Torres (DEM-GO), um dos mais severos defensores da cassação.

Ao exercer o direito de autodefesa, do alto da tribuna, Renan disse que HH não tem “autoridade moral” para acusá-lo. Acusou-a de sonegar impostos à Receita Federal. Chegou mesmo a mencionar uma cifra: R$ 1 milhão. Postada no fundo do plenário, a presidente do PSOL saltou da cadeira.

“É mentira. V. Exa. passe água sanitária na boca antes de falar meu nome”, disse, aos gritos, HH. E Renan: “Sugiro a V.Exa. que passe água oxigenada na boca para falar de mim”.

O senador que relatou a cena ao blog adicionou um detalhe: disse que HH explicou aos ex-colegas que estavam em volta dela que trava uma disputa judicial com o fisco. Ao tempo em que era deputada estadual em alagoas deixou de recolher tributos sobre a verba destinada pela Assembléia às despesas de gabinete. Autuada, recorreu à Justiça. Alega no processo que verba de representação não é remuneração.

Antes, Renan já havia saído do sério no instante em que o ‘demo’ Demóstenes chamou a sua defesa de “burra”. Abespinhado, o presidente do Senado levantou a voz: "O senhor me respeite". O orador disse que apenas se valia de uma "expressão popular". Mas "atendeu" Renan. Trocou “burra” por “pouco inteligente”.

De acordo com os relatos recolhidos pelo repórter, Renan manteve-se, durante a maior parte da sessão, sentado numa poltrona da primeira fila do plenário do Sendo. Tinha a seu lado o advogado Eduardo Ferrão, responsável por sua defesa. Afora a cara de nojo que fez no momento do discurso de Heloisa Helena, conservou-se, na média, impassível.

Último a discursar, atacou a mídia, com quem disse travar uma “batalha injusta e desigual”. Apresentou-se como vítima de uma “injustiça”. Disse que é o único acusado do país de quem se exige a inversão do ônus da prova. Afirmou que sua intimidade e sua família foram “devassadas”. Reclamou do "fato" de que as suas "verdades" são solemente "ignoradas".

Declarou, de resto, que se fosse o político aético que o noticiário pinta, teria empregado a ex-amante Mônica Veloso em seu próprio gabinete. Mais: poderia ter beneficiado a jornalista, dona de uma produtora de vídeo, com contratos do Senado. Neste ponto, dirigiu-se diretamente a dois senadores, mencionando-lhes os nomes: Pedro Simon (PMDB-RS) e Jefferson Peres (PDT-AM). Algo que foi entendido pela platéia como uma reiteração das ameaças veladas que vem fazendo, em privado, de revelar os "podres" de colegas.

Depois da sessão, já absolvido, Renan esquivou-se das entrevistas. Limitou-se a divulgar uma nota. No texto, referiu-se ao seu triunfo pessoal como uma "vitória da democracia".
Escrito por Josias de Souza às 02h35

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