TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Fera ferida ...Frida...



As feridas de Frida
por Ana Vidal do Blog Delito de Opinião
aqui
As feridas de Frida Khalo foram muitas, e quase todas tiveram nome de mulher.


Diego Rivera, o homem a quem ela chamava carinhosamente "panzón" por causa do volume da sua barriga, tinha, além disso, idade para ser seu pai e era "feo como un cerdo", nas palavras de uma amiga de Frida. Pelo seu lado, Frida era uma mulher-menina, fisicamente frágil (quanto a força interior, a conversa é outra) e doente, um vidrinho colorido e exótico que Diego gostava de exibir. Porém, nada disso impediu que se tivessem amado loucamente e que esse amor, aparentemente tão desequilibrado, se tenha já tornado lendário. É claro que, visto à distância, tudo parece mais romântico. A verdade é que Frida sofreu muito também por causa desse amor. E se acabou por transformar-se numa excêntrica para a rígida sociedade mexicana ao liberalizar, também ela, as suas relações amorosas, foi porque nunca conseguiu que Diego correspondesse ao modelo que ela queria para a sua vida afectiva. Foi ele o seu mentor no mundo da arte, mas foi também ele que moldou nela a provocação e a révanche, que a perverteu e a obrigou a reagir assim, como uma fera ferida que mostra as garras para se defender e acaba atacando também.
Diego Rivera era um homem torturado e conflituoso, dado a excessos e, sobretudo, muitíssimo mulherengo. Como artista plástico era um ícone já na sua época, aclamado e respeitado internacionalmente, o que acrescentava uma aura de mito ao charme rude que o caracterizava. Essa combinação produzia um efeito mágico no universo feminino e anulava totalmente o seu desastrado aspecto exterior. Dizia-se dele, com certeza não sem um certo exagero, que era magnético. O rol de mulheres que lhe caíu aos pés - antes, durante e depois do casamento com Frida - foi quase infindável, e essa fama era um rastilho poderoso que incendiava as novas candidatas.
Para além das insuportáveis dores físicas que a fatalidade lhe causou* (provocando-lhe ainda a impossibilidade de ser mãe, como dano colateral), Frida sofreu incontáveis humilhações com as infidelidades de Diego, as quais, aliás, culminaram na mais dolorosa de todas: um caso com a sua própria irmã, dentro de portas. Esse drama quase a levou ao suicídio e fez com que chegasse a rapar o cabelo (uma das suas imagens de marca, em penteados elaborados), se desfizesse de todos os adornos e até que se vestisse de homem, matando impiedosamente toda a sua feminilidade e exuberância transbordantes. Mas Frida era também uma artista: exorcizou todas as dores na pintura deixando para a posteridade, nos seus quadros, um retrato arrepiante do seu sofrimento e da sua coragem. Aqui fica a minha homenagem a essa grande mulher, que morreu mais ou menos com a idade que eu tenho agora. Admiro nela a obra e a vida, ambas de uma originalidade espantosa.
Acrescento, à minha, outra homenagem: a de Pedro Guerra (cantautor espanhol pouco conhecido aqui no burgo), que escreveu em honra de Frida Khalo a canção "El Elefante y la Paloma" - letra e música de sua autoria - cuja letra, baseada num texto da própria Frida, aqui transcrevo:


EL ELEFANTE Y LA PALOMA
A Frida le duelen los huesos
y mirándose al espejo
pinta todo su dolor
A Frida le duele la vida
y apriendendo de su herida
llena todo de color

Diego mi Diego, Diego mi amor
por qué pienso que eres mio
si eres solo tuyo, Diego
si eres solo tuyo, Diego...

Frida miró al Elefante
y empezó a desdibujarse
pero nada le importó
Diego miró a la Paloma
y la amó entre tantas cosas
entre el lienzo y la pasión

Diego mi niño, Diego pintor
por qué pienso que eres mio
si eres solo tuyo, Diego
si eres solo tuyo, Diego...


Frida descansa en el lecho
y se pinta hasta en el pecho
con tal de sobrevivir

Diego mi amigo, Diego = Yo
por qué pienso que eres mio
si eres solo tuyo, Diego
si eres solo tuyo, Diego...

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