TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Brasil: triste trópico


Brasil: Triste trópico

Meu marido recebeu este e-mail (que nos deixou tristes mesmo): “Grande J.” Tenho um amigo chamado M., técnico em eletrônica que mora em Maringá,trabalhou 1 ano na Alcatel (dirige carro, pilota fogão etc ) e não foi para Sampa. [...] tem uma filha paraplégica e passa por maus momentos na vida. Qual a possibilidade de arrumar uma vaga para ele na sua equipe?Um forte abraço, R.

Após a privatização das telefônicas, os trabalhadores dessas instituições foram dizimados. Aqui em casa conhecemos a história de vários deles. Um destes trabalhadores saiu de Curitiba, foi para o Rio e até hoje a família não sabe onde ele está. Parece que teve um infarto e, depois, nada. Outros saíram de São Paulo, como M., para trabalhar aqui em Maringá na ALCATEL (estatal telefônica da França que demitiu milhares de operários lá e veio para cá derrubar mais deles). Em Maringá a Alcatel recebeu as famílias que foram morar em Sarandi, Depois de 9 meses a empresa esfaqueou seu “novo” pessoal: começou a demiti-los. Alguns ficaram, outros voltaram para São Paulo, mas todos trabalham naquele tipo de trabalho chamado por FHC, Bresser e cia, de trabalho com flexibilidade, “eficiente” e “novo”. Você conhece este tipo de trabalho flexível: ele empreende sua família, que viaja, troca de serviço e a cada 12 meses tem que mudar de empresa, ficando pelo menos 6 meses sem emprego.

Para melhor compreensão desse problema, tão comum entre nós, recomendo ler A CORROSãO DO CARáTER – Conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo, de Richard Sennett, Editora Record.
Neste livro Richard Sennett relaciona as novas condições de trabalho, DIGA-SE, A FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO impostas pelo atual modelo capitalista (e pela lógica neoliberal) com as modificações subjetivas das pessoas. Sennett diz que a instabilidade e a incerteza no trabalho sempre estiveram presentes na história humana, porém nos dias atuais estas estão aliadas à corrosão de nosso caráter, à destruição de nossa existência. Por quê? Porque a instabilidade do trabalho atual (provocada pela flexibilização) está ligada a uma tensão e angústia permanente. O trabalhador não sabe mais onde vai parar, quanto poderá trabalhar no novo emprego. A rotina da organização anterior é substituída um sentimento de deriva, de não saber onde o barco vai parar. Se é que vai parar. É como se todo o dia começássemos do zero. Não há presente, nem futuro. As novas estratégias aclamadas por administradores e economistas como a flexibilidade, mudança e agilidade são ações rápidas que forçam o trabalhador a mudar sempre de cidade, de trabalho, de rotina. Isto lhe retira seus laços de amizade, de cultura, de identidade. Interessante esta idéia! Sempre combatemos a rotina do trabalho (vide os estudos de Dejours) por degradar o trabalho; mas para Sennett, a rotina também pode proteger. Uma vida de corrida para o trabalho, de dispensa permanente e em mudança todo o momento leva a uma existência irracional. Todos ouvimos que ser humano adaptável e aberto às transformações é o ser humano livre. Porém, segundo Sennett, a nova economia trai este desejo de liberdade. A flexibilização não libertou o trabalhador, mas produziu nova forma de controle. As formas de flexibilização do trabalho são apenas dimensões sutis de uma organização do trabalho que Sennett chama de ficções do trabalho.
Este é o destino enfrentado pelo M. e por uma massa de trabalhadores. Correm riscos por um emprego novo, em nova cidade, deixam parentes, amigos, para ficar em estado de contínua incerteza. Este estado pode corroer o caráter das pessoas. Todo dia começando de novo instala-se uma situação de vale-tudo. Se não temos nada em longo prazo - condição para laços sociais mais profundos -, a vida em curto prazo destrói a confiança, a lealdade e o compromisso. Os trabalhadores ficam cada vez mais acuados.
VALE A PENA LER: Sennett argumenta que essa lógica deve ser enfrentada, pois a flexibilidade que pregam vai contra os princípios de vida em comum. Um regime que não oferece nem condições nem motivos para as ligações entre seres humanos não pode imperar por muito tempo.

Outro livro que combina com esta reflexão é O Horror Econômico, de Viviane Forrester. Ela mostra a situação dos trabalhadores franceses com a estatal Alcatel que, hoje, vigora no Brasil, efetuando a mesma dinâmica com os brasileiros.

Nenhum comentário:

Braziu!

Braziu!

Arquivo do blog

Marcadores

Eu

Eu

1859-2009

1859-2009
150 anos de A ORIGEM DAS ESPÉCIES

Assim caminha Darwin

Assim caminha Darwin

Esperando

Esperando

Google Analytics