Algumas singelas dúvidas, por Clóvis Rossi, Folha de São Paulo, 14 de junho de 2007
Diz o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, ao pedir a quebra de sigilos telefônicos no escândalo da vez, a Polícia Federal "se prepara para encontrar um cardume de pintados". Mais: "O Vavá, nessa história, me parece mais um lambari que foi pego". Vavá é Genival Inácio da Silva, o irmão mais velho do presidente. Quatro dúvidas, a saber: 1 - Quem contou a Lula que as escutas vão pegar apenas "pintados" ou "lambaris"? A Polícia Federal antecipa ao presidente detalhes de suas investigações? Tudo bem que o ministro da Justiça, Tarso Genro, diga que "o presidente da República tem que ser informado pelos ministros de tudo que é importante". É verdade, mas não seria ainda mais certo que o país fosse igualmente informado de tudo o que é importante e nele ocorre? Não seria mais republicano? 2 - Quando o presidente diz que vão pegar "pintados", transmite a sensação de que "lambaris" não precisam ser apanhados. Ou, quando apanhados, merecem mil anos de perdão e tolerância. Tolerância aliás claramente revelada naquela frase famosa segundo a qual todo mundo faz caixa dois, minimizando o crime de que eram réus confessos alguns petistas bastante "pintados". 3 - Se, como diz Tarso Genro, os ministros têm que informar ao presidente de tudo o que é importante, por que ninguém contou a ele de escândalos como o do mensalão, para ficar num só exemplo? 4 - Se a Polícia Federal é tão brilhante no seu desempenho durante o governo Lula, por que o presidente diz, agora, que se devem à "briga política" os vazamentos para os jornais de informações sobre a Operação Xeque-Mate? Não caberia ao ministro responsável pela PF, de novo Tarso Genro, impedir a "briga política" e informar ao presidente e ao país quem briga com quem e por quê?
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