Uma tese ruim de Elio Gaspari de Reinaldo Azevedo de 17/6/07
Escreve Elio Gaspari em sua coluna de hoje: “Genival Inácio da Silva, o Vavá, está sendo covardemente linchado porque é irmão do presidente da República. Ele é acusado de tráfico de influência sem que até hoje tenha aparecido um só nome de servidor público junto ao qual tenha traficado qualquer pleito que envolvesse dinheiro do erário. Um fazendeiro paulista metido numa querela de terras queria reverter uma decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça. Vavá recomendou-lhe um advogado. Isso não é tráfico de coisa alguma. Um empreiteiro queria obras e encontrou-se com ele num restaurante. Ninguém responde se Vavá conseguiu favorecer esse ou qualquer outro empreiteiro.”
Gaspari está errado e exerce o mesmo raciocínio zoológico-pisciforme daquele que ele chama “Nosso Guia” (ou “noço guia”, segundo os leitores deste blog): Vavá seria apenas um lambari. De quebra, na coluna, volta a insistir que Freud Godoy, aquele que pediu demissão dois dias depois de estourar o escândalo do dossiê, era inocente como as flores. Seu argumento definitivo para sustentar sua tese sobre Freud (e, por tabela, sobre Vavá): ele nem sequer foi indiciado. O meu argumento definitivo: a se levar em conta a eficiência da PF naquela investigação, chegar-se-á à conclusão de que nunca houve dossiê...
No que respeita à traficância com a coisa pública, há tantas provas contra Vavá como há contra os demais implicados na Operação Xeque-Mate: elas ainda estão sendo colhidas. Que ele mantinha conversas estranhas com gente que fraudava a lei, isso Gaspari não pode negar, não é mesmo? O fato de ser irmão do presidente da República faz de Vavá, nessas circunstâncias, alguém que tem de ser investigado? Sim. Especialmente investigado. Outro irmão, Frei Chico (que não é frei e se chama José Ferreira da Silva), usa um codinome para falar com o lambari. Pede que ele vá a Brasília encontrar-se com Lula. Há uma “bronca” contra ele.
Isso tudo deve ser ignorado? Se alguém é linchado, alguém está linchando. Quem? A imprensa? Não. Ao contrário: a dita “simplicidade” de Vavá fez dele uma espécie de Fredo Corleone, o irmão bobo de Michael. Não há linchamento. Diria até que as relações familiares entre Lula e o inequívoco Dario Morelli são quase ignoradas na suposição, como sempre, de que o presidente nunca sabe o que se passa à sua volta.
Em defesa de seu ponto de vista, Gaspari chega a evocar o fato de que, “desde que Tomé de Souza chegou a Salvador, nenhuma família de governante teve tão poucas relações com o Estado como a dos Silva.” E emenda: “Mais: nenhuma veio de origem tão modesta e continuou a viver em padrões tão modestos. (Noves fora o Lulinha da Gamecorp.)”. Gaspari estaria certo no fato, não necessariamente na moral da história (isso, em si, não quer dizer nada), se a família de Lula fosse mesmo os “da Silva”. Mas sua família são a CUT e o PT. E, desde que a primeira caravela acercou-se das praias nativas, jamais grupo tão numeroso, da mesma família, foi com tanta sede ao pote e tomou conta do estado com tanta determinação.
No que é mais um juízo do que um fato, escreve Gaspari: “O outro, Dario Morelli, compadre de Lula, julgava-se protegido pelas suas amizades e disse que a polícia pensaria ‘duas vezes em fazer qualquer coisa’. Foi preso.” A observação ignora o fato central em todo esse imbróglio. Vavá foi pego, em primeiro lugar, porque deu motivos. Mas também porque é irmão de Lula, sim. A Polícia Federal está balcanizada e age fora do controle republicano (para dizer palavra da predileção de Tarso Genro) do Ministério da Justiça. Isso não depõe a favor dela, mas também não depõe a favor do governo. Ora, é preciso que se procure fazer um pouco a genealogia da PF que aí está. Foi o governo Lula quem decidiu usá-la como um instrumento para fazer política. Tanto ativismo parecia bom quando a corporação era usada para fazer proselitismo. Agora, como se vê, há reclamações.
Quem fez essa miséria com a Polícia Federal? Quem agiu de forma deliberada para instrumentalizá-la, tentando fazer com que fosse uma polícia do governo e não do estado? Isto mesmo: foi o irmão de Vavá e de Frei Chico (também José Ferreira da Silva e “Roberto’). Foi Lula. Melhor ter uma PF subordinada ao PT ou dividida? Se as opções que restaram são essas, viva a divisão! Melhor seria ter um governo que não fosse tão esculhambado. Vavá não está sendo linchado pela imprensa. Está, isto sim, sendo usado como um recado e uma advertência. Mas que se note: ele só é crível neste papel porque deixou um rastro.
Como saiu, a tese de Gaspari parece piscar um olho para aquela velha conspiração da direita — lembram-se? — que teria tentado derrubar Lula quando o caso do dossiê veio à luz. Gaspari disse muito bem: Lula tem 15 irmãos, mas só Vavá se enrolou. E isso é fato, não conspiração.
Escreve Elio Gaspari em sua coluna de hoje: “Genival Inácio da Silva, o Vavá, está sendo covardemente linchado porque é irmão do presidente da República. Ele é acusado de tráfico de influência sem que até hoje tenha aparecido um só nome de servidor público junto ao qual tenha traficado qualquer pleito que envolvesse dinheiro do erário. Um fazendeiro paulista metido numa querela de terras queria reverter uma decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça. Vavá recomendou-lhe um advogado. Isso não é tráfico de coisa alguma. Um empreiteiro queria obras e encontrou-se com ele num restaurante. Ninguém responde se Vavá conseguiu favorecer esse ou qualquer outro empreiteiro.”
Gaspari está errado e exerce o mesmo raciocínio zoológico-pisciforme daquele que ele chama “Nosso Guia” (ou “noço guia”, segundo os leitores deste blog): Vavá seria apenas um lambari. De quebra, na coluna, volta a insistir que Freud Godoy, aquele que pediu demissão dois dias depois de estourar o escândalo do dossiê, era inocente como as flores. Seu argumento definitivo para sustentar sua tese sobre Freud (e, por tabela, sobre Vavá): ele nem sequer foi indiciado. O meu argumento definitivo: a se levar em conta a eficiência da PF naquela investigação, chegar-se-á à conclusão de que nunca houve dossiê...
No que respeita à traficância com a coisa pública, há tantas provas contra Vavá como há contra os demais implicados na Operação Xeque-Mate: elas ainda estão sendo colhidas. Que ele mantinha conversas estranhas com gente que fraudava a lei, isso Gaspari não pode negar, não é mesmo? O fato de ser irmão do presidente da República faz de Vavá, nessas circunstâncias, alguém que tem de ser investigado? Sim. Especialmente investigado. Outro irmão, Frei Chico (que não é frei e se chama José Ferreira da Silva), usa um codinome para falar com o lambari. Pede que ele vá a Brasília encontrar-se com Lula. Há uma “bronca” contra ele.
Isso tudo deve ser ignorado? Se alguém é linchado, alguém está linchando. Quem? A imprensa? Não. Ao contrário: a dita “simplicidade” de Vavá fez dele uma espécie de Fredo Corleone, o irmão bobo de Michael. Não há linchamento. Diria até que as relações familiares entre Lula e o inequívoco Dario Morelli são quase ignoradas na suposição, como sempre, de que o presidente nunca sabe o que se passa à sua volta.
Em defesa de seu ponto de vista, Gaspari chega a evocar o fato de que, “desde que Tomé de Souza chegou a Salvador, nenhuma família de governante teve tão poucas relações com o Estado como a dos Silva.” E emenda: “Mais: nenhuma veio de origem tão modesta e continuou a viver em padrões tão modestos. (Noves fora o Lulinha da Gamecorp.)”. Gaspari estaria certo no fato, não necessariamente na moral da história (isso, em si, não quer dizer nada), se a família de Lula fosse mesmo os “da Silva”. Mas sua família são a CUT e o PT. E, desde que a primeira caravela acercou-se das praias nativas, jamais grupo tão numeroso, da mesma família, foi com tanta sede ao pote e tomou conta do estado com tanta determinação.
No que é mais um juízo do que um fato, escreve Gaspari: “O outro, Dario Morelli, compadre de Lula, julgava-se protegido pelas suas amizades e disse que a polícia pensaria ‘duas vezes em fazer qualquer coisa’. Foi preso.” A observação ignora o fato central em todo esse imbróglio. Vavá foi pego, em primeiro lugar, porque deu motivos. Mas também porque é irmão de Lula, sim. A Polícia Federal está balcanizada e age fora do controle republicano (para dizer palavra da predileção de Tarso Genro) do Ministério da Justiça. Isso não depõe a favor dela, mas também não depõe a favor do governo. Ora, é preciso que se procure fazer um pouco a genealogia da PF que aí está. Foi o governo Lula quem decidiu usá-la como um instrumento para fazer política. Tanto ativismo parecia bom quando a corporação era usada para fazer proselitismo. Agora, como se vê, há reclamações.
Quem fez essa miséria com a Polícia Federal? Quem agiu de forma deliberada para instrumentalizá-la, tentando fazer com que fosse uma polícia do governo e não do estado? Isto mesmo: foi o irmão de Vavá e de Frei Chico (também José Ferreira da Silva e “Roberto’). Foi Lula. Melhor ter uma PF subordinada ao PT ou dividida? Se as opções que restaram são essas, viva a divisão! Melhor seria ter um governo que não fosse tão esculhambado. Vavá não está sendo linchado pela imprensa. Está, isto sim, sendo usado como um recado e uma advertência. Mas que se note: ele só é crível neste papel porque deixou um rastro.
Como saiu, a tese de Gaspari parece piscar um olho para aquela velha conspiração da direita — lembram-se? — que teria tentado derrubar Lula quando o caso do dossiê veio à luz. Gaspari disse muito bem: Lula tem 15 irmãos, mas só Vavá se enrolou. E isso é fato, não conspiração.
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