Sobra companheiro e falta conselheiro por Lucia Hipollito
O governo federal montou sua estratégia para aprovar a prorrogação da CPMF, com duas táticas diferentes, para a Câmara e para o Senado.Na Câmara, dono de maioria mais do que confortável, o governo entendeu que bastava liberar umas tantas emendas parlamentares e nomear outros tantos apadrinhados para cargos na máquina pública.No Senado, contando com 41 senadores (de um mínimo necessário de 49), o papel do senador Renan Calheiros era crucial, tanto para acalmar a bancada do PMDB como para exercitar o bom trânsito entre tucanos e democratas. O governo estava preparado para fazer alguma negociação com o Senado, onde democratas queriam a extinção da CPMF, e tucanos queriam partilhar com governadores e reduzir a alíquota, de 0,38% para 0,20% (Aécio e Serra, postulantes em 2010, não querem abrir mão desta receita). Deu tudo errado.
Na Câmara, o relator na Comissão de Constituição e Justiça é o dep. Eduardo Cunha (PMDB/RJ), fiel aliado de Garotinho, que sentou em cima do projeto e chantageou o governo até extrair a promessa de nomeação de Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas.E mais: fez um parecer transformando a CPMF em imposto o que, pela Constituição, obriga a União a partilhar a receita com estados e municípios, coisa que o governo não aceita de jeito nenhum.(Não porque o governo odeie governadores e prefeitos, mas porque quer continuar controlando os cordões da bolsa, aparecendo como o paizão que, de vez em quando, dá um “presentinho” aos filhos mais obedientes.)Os demais deputados da base, que de bobo não têm nada, viram que a chantagem de Eduardo Cunha deu certo e decidiram endurecer o jogo, transferindo a negociação, do Senado para a Câmara.O líder do governo, deputado José Múcio (PTB/PE), não estava preparado para esta eventualidade.Tanto assim que a liberação dos recursos para as emendas parlamentares estava parada no Ministério da Fazenda.
Resultado: desde 1º de agosto, uma enxurrada de dinheiro sai da Fazenda para a Câmara, passando o recibo de que o governo está literalmente comprando a aprovação da prorrogação da CPMF. Enquanto isso... No Senado, o escândalo Renan Calheiros complicou tudo.
Com suas atitudes, o presidente do Senado queimou suas pontes junto a tucanos, democratas, pedetistas e boa parte da bancada do PMDB. Renan passou de trunfo do Planalto a estorvo para o Planalto.Tucanos se mantêm na decisão de partilhar os recursos da CPMF com os governadores e de reduzir a alíquota, de 0,38% para 0,20%.Democratas participam do movimento “Xô, CPMF” e coletam milhões de assinaturas pedindo a extinção do imposto. Tentam mobilizar a sociedade (estrangulada pela maior carga tributária da história deste país), para, assim, influenciar a decisão dentro do Congresso.O governo não tem Plano B. Por isso, continua a fazer jorrar mais e mais dinheiro para os senhores parlamentares.Em suma, o presidente Lula segue como o presidente mais mal assessorado da história deste país.Continua sobrando companheiro e faltando conselheiro junto ao presidente da República.
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