Nasci em Porto Ferreira, SP. O carnaval nesssa cidadezinha operária era de rua. Lá aprendi que, pelo menos em fevereiro, os pobres diabos saem nas ruas sem serem presos. A elite brincava o carnaval no Clube e os pobres invadiam a Praça da Matriz. Homens vestidos de mulheres, Bloco do Boi, um boi de pano escorregando de tanta bebida... Mulheres, crianças no local mais limpo da cidade, o centro. Hoje não sei mais como está a arruaça. Um prefeito tentou organizar a farra dos excluidos. Copiou o Rio de Janeiro. Cercou as ruas e "bolou" escolas de samba. Pobre efeito. Porca miséria. Aquelas escolinhas romando com Rio. Não deu certo. Ninguém limpava a rua depois. Ficava para a prefeitura.
Tantos anos depois e eu estou na Má-ringa. Antes de mais nada aviso: adoro essa cidade. Mas, não sou débil mental e sei avaliar os percalços dos mais pobres nesses tempos de inclusão social. O carnaval da Má-ringá é de inclusão. Dessa vez, cada bairro teve seu carnaval. Ouvi na rádio universitária a Secretária da Cultura: ... o carnaval começa as 20h em ponto e termina 23h em ponto. Depois cada bairro arruma o local.*
Então, fica assim: o carnaval é consentido pela administração. A elite vai lá nos bairros e monta seu espetáculo. OITO horas da noite em ponto (EM PONTO) COMEÇA. Vão, meus excluídos, mas somente no horário que a elite suporta. ONZE acaba. Todos limpam sua festa e vão sonhar com o carnaval em Olinda, do Rio de Janeiro. Assepsia. Quem sabe não seria bom chamar os pastores e padres para benzer os locais depois da festa pagã**. A higienização fica mais perfeita.
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* Não preciso dizer, mas vou. Pareceu minhas professoras primárias a dizer com seus dedos em riste: Olhem meninos, vocês têm que fazer a lição de casa em meia hora. Se não fizerem, castigo, hein?!
** Eita, Maringá tem uma política higienista, diz minha amiga Valéria. Concordo. Haja tanto curral. Tantas regras, tanta limpeza. Os blocos mais frequentes são os dos religiosos. Só que o carnaval é o ano inteiro.
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