Sobre a manifestação contra a matança de Sakineh em LISBOA
do BLOG JUGULAR, Lisboa, de Fernanda Câncio
onde estavas tu às 18 horas de 28 de agosto de 2010? (3)
f.
nas minhas contas, éramos entre 250 e 300, ontem, no camões. muito menos do que deveríamos ser, decerto -- mas há um ano, como a joão/shyz bem diz ao público, numa concentração convocada por iranianos a residir em portugal na sequência da revolta de rua contra o resultado das eleições para a presidência (alegadamente 'marteladas'), éramos bem menos.
como tinha anunciado aqui, estive muito atenta aos silêncios e às ausências. reparei que, à excepção de januário torgal ferreira, nenhum alto representante da igreja católica portuguesa, que tanto latim gasta com a 'defesa da vida', abriu a boca para comentar o destino de sakineh, quanto mais estar presente no camões. reparei que nenhuma das figuras de organizações tão vocais contra o que consideram 'o morticínio de inocentes' e que se reúne sob o chapéu 'federação de defesa da vida' esteve no camões, como reparei na ausência das primeiras figuras de organizações de defesa dos direitos das mulheres como a umar (que divulgou o evento, por sinal).
já tinha aqui assinalado o silêncio de gente habitualmente obcecada com o combate ao que consideram ser -- muitas vezes bem, diga-se -- o fundamentalismo islâmico. não havia lá um 'blasfemo' para amostra. também não vislumbrei um único elemento identificável da comunidade islâmica de lisboa nem, já agora, da representação portuguesa dos inimigos ajuramentados do irão (os judeus, pois então -- para disfarçar, dirão alguns pobres idiotas).
dos partidos, havia gente. o daniel oliveira e o rui tavares (deputado europeu independente pelo be). edite estrela e ana gomes, eurodeputadas socialistas; ana catarina mendes e inês de medeiros, deputadas do grupo parlamentar do ps. do governo, elza pais, secretária de estado para a igualdade, que foi ostensivamente ignorada por todos os jornalistas presentes (aposto que por não fazerem ideia de quem se trata).
vi ainda a presidente da comissão da igualdade e o director geral da saúde -- ambos discretos, apesar de francisco george ter sido 'lobrigado' pelo dn, e a sub-directora da rtp-2 paula moura pinheiro. e não vi, mas esteve lá, o dirigente sindical antónio avelãs.
ninguém do pp e do psd, que se tenha reparado -- se estavam lá, desculpem, não os vi. e do pcp também moita -- embora uma das organizadoras da manif, a juju inês meneses, seja militante. a ausência de membros notórios do pp é talvez compreensível -- afinal, estavam decerto agrupados para a rentrée pauloportista dos referendos sobre a justiça (e referendar o apedrejamento sumário dos detidos em flagrante delito? -- uma ideia também tão gira) -- mesmo se me recordo bem que em 2005, aquando da crise das caricaturas, o pp se mandou como gato a bofe a freitas do amaral, então ministro dos negócios estrangeiros, por ter feito um comunicado (absolutamente inadmissível e patético, por sinal) a 'contextualizar' a reacção dos que em nome de deus andaram a matar como reacção a desenhos. como será compreensível a de gente grada do pc, toda decerto a construir a festa do avante. o psd, bom, deve estar de borracha e corrector à volta da proposta de revisão constitucional, sem cabeça para mais.
nem um candidato presidencial para amostra; nem um alto representante de uma amnistia internacional.
é verão e estava muito calor, bem sei.
noutros países, noutras cidades, as concentrações como a que ocorreu em lisboa -- 111 no mundo todo -- contaram com organizações, de associações de mulheres a partidos comunistas, a coordenar e a convocar. aqui, meia dúzia de facebookianos fizeram a festa. o que explica os megafones de má qualidade, os materiais fotocopiados em casa, as convocatórias por sms para listas telefónicas individuais. mas, apesar disso, éramos tantos ou mais que em paris, por exemplo -- a paris na qual um presidente de direita já apelou à ue para que tome uma posição conjunta por sakineh e por todos os que nas prisões iranianas aguardam sentenças de morte tão bárbaras e obscenamente surreais como a que impende sobre ela (seja lapidação ou enforcamento).
não podemos parar aqui, no entanto. outra acção se prepara em várias cidades do mundo, agora para 2 e 3 de setembro, agora por shiva nazar ahari, com julgamento marcado para 4 de setembro por conspiração e 'incitar à guerra contra deus' (que, adivinharam, é punida com a morte). isto nunca acaba, até acabar.
f.
nas minhas contas, éramos entre 250 e 300, ontem, no camões. muito menos do que deveríamos ser, decerto -- mas há um ano, como a joão/shyz bem diz ao público, numa concentração convocada por iranianos a residir em portugal na sequência da revolta de rua contra o resultado das eleições para a presidência (alegadamente 'marteladas'), éramos bem menos.
como tinha anunciado aqui, estive muito atenta aos silêncios e às ausências. reparei que, à excepção de januário torgal ferreira, nenhum alto representante da igreja católica portuguesa, que tanto latim gasta com a 'defesa da vida', abriu a boca para comentar o destino de sakineh, quanto mais estar presente no camões. reparei que nenhuma das figuras de organizações tão vocais contra o que consideram 'o morticínio de inocentes' e que se reúne sob o chapéu 'federação de defesa da vida' esteve no camões, como reparei na ausência das primeiras figuras de organizações de defesa dos direitos das mulheres como a umar (que divulgou o evento, por sinal).
já tinha aqui assinalado o silêncio de gente habitualmente obcecada com o combate ao que consideram ser -- muitas vezes bem, diga-se -- o fundamentalismo islâmico. não havia lá um 'blasfemo' para amostra. também não vislumbrei um único elemento identificável da comunidade islâmica de lisboa nem, já agora, da representação portuguesa dos inimigos ajuramentados do irão (os judeus, pois então -- para disfarçar, dirão alguns pobres idiotas).
dos partidos, havia gente. o daniel oliveira e o rui tavares (deputado europeu independente pelo be). edite estrela e ana gomes, eurodeputadas socialistas; ana catarina mendes e inês de medeiros, deputadas do grupo parlamentar do ps. do governo, elza pais, secretária de estado para a igualdade, que foi ostensivamente ignorada por todos os jornalistas presentes (aposto que por não fazerem ideia de quem se trata).
vi ainda a presidente da comissão da igualdade e o director geral da saúde -- ambos discretos, apesar de francisco george ter sido 'lobrigado' pelo dn, e a sub-directora da rtp-2 paula moura pinheiro. e não vi, mas esteve lá, o dirigente sindical antónio avelãs.
ninguém do pp e do psd, que se tenha reparado -- se estavam lá, desculpem, não os vi. e do pcp também moita -- embora uma das organizadoras da manif, a juju inês meneses, seja militante. a ausência de membros notórios do pp é talvez compreensível -- afinal, estavam decerto agrupados para a rentrée pauloportista dos referendos sobre a justiça (e referendar o apedrejamento sumário dos detidos em flagrante delito? -- uma ideia também tão gira) -- mesmo se me recordo bem que em 2005, aquando da crise das caricaturas, o pp se mandou como gato a bofe a freitas do amaral, então ministro dos negócios estrangeiros, por ter feito um comunicado (absolutamente inadmissível e patético, por sinal) a 'contextualizar' a reacção dos que em nome de deus andaram a matar como reacção a desenhos. como será compreensível a de gente grada do pc, toda decerto a construir a festa do avante. o psd, bom, deve estar de borracha e corrector à volta da proposta de revisão constitucional, sem cabeça para mais.
nem um candidato presidencial para amostra; nem um alto representante de uma amnistia internacional.
é verão e estava muito calor, bem sei.
noutros países, noutras cidades, as concentrações como a que ocorreu em lisboa -- 111 no mundo todo -- contaram com organizações, de associações de mulheres a partidos comunistas, a coordenar e a convocar. aqui, meia dúzia de facebookianos fizeram a festa. o que explica os megafones de má qualidade, os materiais fotocopiados em casa, as convocatórias por sms para listas telefónicas individuais. mas, apesar disso, éramos tantos ou mais que em paris, por exemplo -- a paris na qual um presidente de direita já apelou à ue para que tome uma posição conjunta por sakineh e por todos os que nas prisões iranianas aguardam sentenças de morte tão bárbaras e obscenamente surreais como a que impende sobre ela (seja lapidação ou enforcamento).
não podemos parar aqui, no entanto. outra acção se prepara em várias cidades do mundo, agora para 2 e 3 de setembro, agora por shiva nazar ahari, com julgamento marcado para 4 de setembro por conspiração e 'incitar à guerra contra deus' (que, adivinharam, é punida com a morte). isto nunca acaba, até acabar.
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