heterodoxias21intervenções, leituras e pensamento crítico AQUI
--------------------------------------------------------------------------------
Por uma nova gramática do bem comum
Publicado por Rui Bebiano em 27 de Maio de 2011
--------------------------------------------------------------------------------
Por uma nova gramática do bem comum
Publicado por Rui Bebiano em 27 de Maio de 2011
A sobrevivência da democracia depende da vitalidade do espaço público. A ideia não é nova, mas o filósofo bilbaíno Daniel Innerarity fez dela o eixo de O Novo Espaço Público (Teorema). «Fazer política», diz-nos aí, «é hoje semelhante ao que fazia aquele indivíduo que de súbito bradava num restaurante “Pssst!” […] em voz tão alta que todos olhavam para ele e cessava o ruído das conversas». O alheamento do cidadão comum em relação aos projectos colectivos, o seu silêncio diante dos que falam em seu nome, ficaria a dever-se sobretudo à confusão instalada entre público e privado, à «privatização do público» e à «politização do privado», que tendem a diminuir o alcance da responsabilidade social e a estimular o individualismo. Neste ensaio expõem-se o cenário e os intérpretes do estado de desresponsabilização em que vivemos, insistindo-se no recuo das preocupações com o público, substituídas por uma valorização excessiva das identidades ou então pelo populismo. Ambos determinados pela «irrealidade dos meios de comunicação» e por uma intensa manipulação da História e da memória colectiva. Mas não se deixa esmagar pelo pessimismo. Fala-nos por isso da construção de uma «cultura pública comum», de uma nova ágora em condições de impor a renovação da experiência política e de impedir que esta se reduza à mera gestão «realista» do presente, trocando a acção colectiva e o debate criador, como já advertira Hannah Arendt, pelos automatismos próprios da produção e do consumo. Seguindo Habermas, Innerarity evoca então a necessidade que as sociedades actuais têm de «um centro virtual da sua autocompreensão», de reflectirem sobre si próprias, para que, cegas, se não fragmentem ou deixem cair na inércia administrativa. E sugere a construção de uma nova «gramática do bem comum», de uma política, redentora do espaço público, que será principalmente transnacional e cosmopolita. Apresentada pelo autor basco como um caminho para salvar e dar substância à democracia.
Versão revista de uma nota de leitura publicada há cerca de um ano na revista LER.
Versão revista de uma nota de leitura publicada há cerca de um ano na revista LER.
Nenhum comentário:
Postar um comentário