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terça-feira, 31 de maio de 2011

Daniel Innerarity



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Por uma nova gramática do bem comum
Publicado por Rui Bebiano em 27 de Maio de 2011


A sobrevivência da democracia depende da vitalidade do espaço público. A ideia não é nova, mas o filósofo bilbaíno Daniel Innerarity fez dela o eixo de O Novo Espaço Público (Teorema). «Fazer política», diz-nos aí, «é hoje semelhante ao que fazia aquele indivíduo que de súbito bradava num restaurante “Pssst!” […] em voz tão alta que todos olhavam para ele e cessava o ruído das conversas». O alheamento do cidadão comum em relação aos projectos colectivos, o seu silêncio diante dos que falam em seu nome, ficaria a dever-se sobretudo à confusão instalada entre público e privado, à «privatização do público» e à «politização do privado», que tendem a diminuir o alcance da responsabilidade social e a estimular o individualismo. Neste ensaio expõem-se o cenário e os intérpretes do estado de desresponsabilização em que vivemos, insistindo-se no recuo das preocupações com o público, substituídas por uma valorização excessiva das identidades ou então pelo populismo. Ambos determinados pela «irrealidade dos meios de comunicação» e por uma intensa manipulação da História e da memória colectiva. Mas não se deixa esmagar pelo pessimismo. Fala-nos por isso da construção de uma «cultura pública comum», de uma nova ágora em condições de impor a renovação da experiência política e de impedir que esta se reduza à mera gestão «realista» do presente, trocando a acção colectiva e o debate criador, como já advertira Hannah Arendt, pelos automatismos próprios da produção e do consumo. Seguindo Habermas, Innerarity evoca então a necessidade que as sociedades actuais têm de «um centro virtual da sua autocompreensão», de reflectirem sobre si próprias, para que, cegas, se não fragmentem ou deixem cair na inércia administrativa. E sugere a construção de uma nova «gramática do bem comum», de uma política, redentora do espaço público, que será principalmente transnacional e cosmopolita. Apresentada pelo autor basco como um caminho para salvar e dar substância à democracia.

Versão revista de uma nota de leitura publicada há cerca de um ano na revista LER.

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