TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Desemprego Europa




Por Joana Lopes, Portugal, Blog Entre as brumas da memória aqui


Os jovens, esses preguiçosos…

O jornal Libération publicou ontem este mapa do desemprego dos jovens europeus (*).


Sem surpresa, verifica-se que os valores mais elevados se encontram em Espanha (taxa superior a 40%, mais precisamente 44,6%) e que, dos 19 países referenciados, apenas 5 apresentam uma percentagem inferior a 20.


Trata-se de um dos vários espelhos graves da crise, por mais teorias que possam ser desenvolvidas – e são-no – sobre as «maldades» e vícios das novas gerações, os quais contribuiriam, pelo menos em grande parte, para esta realidade.


A questão é recorrente, veio em força quando apareceu o fenómeno «Geração à Rasca» e regressou agora a propósito dos acampamentos em Espanha e sua difusão por centenas de cidades.


Sinteticamente - e não estou a falar de discussões hipotéticas, mas sim de longas e recentes trocas de opiniões -, há quem acuse a grande maioria dos jovens em questão de reclamar emprego mas não gostar de trabalhar, de ser demasiado exigente quanto a tipo de ocupação e regalias, de querer manter o nível de consumismo a que os pais a habituaram. São muitas vezes esses mesmos pais (que se gabam de ter começado a trabalhar bem cedo, antes de acabarem cursos superiores ou mesmo sem os ter frequentado) que «acusam» as suas próprias gerações dos maus hábitos criados nos que agora ocupam praças em Madrid ou em Lisboa e se revoltam também em Atenas.


Algum fundamento no que acima resumi? Claro que sim, mas discordo da mensagem de fundo que acaba por ser veiculada: estes jovens são «piores» do que nós éramos e os culpados somos nós que os educámos assim.


Pessoalmente, estou à vontade: com 15 / 16 anos, tinha onze alunos a quem dava explicações e era com o dinheiro recebido que pagava a mensalidade do colégio que frequentava, porque os meus pais não podiam fazê-lo, e não consegui comprar carro antes dos 30. O meu filho só trabalhou depois de acabar o curso e tinha um automóvel à porta quando fez 18. Ainda bem.


Num mundo ideal, devíamos ter educado os nossos filhos fazendo-os herdar um casaco já coçado do pai, convenientemente virado do avesso por um alfaiate, habituando-os a só telefonar de cabines públicas e não de telemóveis, a não terem um PC em casa, a passarem as férias na apanha nem sei de quê e não num inter-rail, a passajarem os buracos das meias e a porem meias solas nos sapatos? Se sim, seriam agora diferentes? Muito provavelmente. Melhores? Claro que não.


O mundo evoluiu muito, o normal seria que os nossos filhos vivessem melhor do que nós, como nós vivemos melhor do que os nossos pais. Que trabalhassem em condições dignas e que tivessem direito à cultura e ao lazer. O progresso tecnológico deu passos gigantescos nas últimas décadas, é irreversível e merece ser gozado por todos. Mesmo em países paupérrimos por onde tenho passado, pode-se comer apenas uma tigela de arroz mas não se prescinde da motoreta ou mesmo do telemóvel.


E não foi esse progresso que provocou o desemprego nem a malfadada «crise» que atravessamos. Saibamos geri-la, sem catastrofismos estéreis e, sobretudo, sem acusações ou culpabilidades inadequadas.


Ou regressamos ao ideal de sociedade anterior à invenção da máquina a vapor, origem de todos os males?


(*) As percentagens referem-se a desempregados com menos de 25 anos (dados de Março de 2011) e as mãos vermelhas assinalam países onde há mobilização contra a austeridade.


(A foto é de Pedro Moura)

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