TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.
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sábado, 9 de junho de 2007

A fúria dos Zés Ninguém


É assim que gritas «aqui-d'el-rei» quando alguém te denuncia a prisão de ventre mental. Não queres nem ouvir nem saber, queres berrar «vivas». Mas porque não me deixas dizer-te por que razão és incapaz de alegria? Vejo-te o susto nos olhos - sente-se até que ponto o assunto te afeta profundamente. A «questão religiosa», por exemplo. Afirmas defender a «tolerância religiosa»; afirmas o teu direito à liberdade em matéria religiosa. Perfeito. Mas queres mais: queres que a tua religião seja a única. És intolerante quanto às outras. Ficas desesperado quando encontras alguém que, em vez de um Deus pessoal, adora a natureza e procura entendê-la. Preferes que os cônjuges em vias de separação se processem judicialmente, se acusem de imoralidade ou de brutalidade quando já não lhes é possível viver juntos. Tu, que és descendente de homens rebeldes, és incapaz de reconhecer o divórcio por mútuo consentimento - porque a tua própria obscenidade te assusta. Queres a verdade num espelho, algures onde não possas chegar-lhe. O teu «chauvinismo» decorre naturalmente da tua rigidez, da tua prisão de ventre mental, Zé Ninguém. E não o digo com sarcasmo, porque te estimo, embora seja teu hábito esmagar os que te estimam e dizem a verdade.
Repara, por exemplo, nos teus patriotas: não andam, marcham. Nem odeiam o inimigo - o que acontece é que têm «inimigos hereditários» que de dez em dez anos passam à categoria de amigos hereditários, e vice-versa. Não cantam - berram hinos marciais. Não fazem amor - «comem-nas» e têm um curriculum de «fudidas», por noite. Estas são as verdades que tenho para dizer-te, Zé Ninguém, e contra as quais nada tens a opor, exceto o assassínio, o mesmo que perpetraste contra tantos outros homens que te estimavam: Jesus, Rathenau, Karl Liebknecht, Lincoln e muitos outros. Na Alemanha costumavas chamar-lhe «depuração». A longo prazo foste tu que foste «depurado» aos milhões - mas continuas a ser um patriota.
Desejas amar e ser amado, amas o teu trabalho e é dele que vives, e a base do teu trabalho é o meu conhecimento e o de outros. O amor, o trabalho e o conhecimento não têm pátria, não conhecem fronteiras nem uniformes. São internacionais, são o patrimônio da humanidade. Só que tu preferes o teu patriotismo medíocre porque tens medo do amor genuíno, do trabalho responsável, medo do conhecimento. E por isso exploras o amor, o trabalho e o conhecimento dos outros, mas nunca poderás criar. Por isso usas a tua alegria como um ladrão furtivo, por isso não consegues suportar sem azedume e inveja a felicidade dos outros.

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