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EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Pássaros, mulheres e cientistas ....

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The Scarlet Letter ou como Darwin contribuiu para perpetuar lendas urbanas de género
Palmira F. Silva


Durante mais de um século, foram aceites sem pestanejar nem contraditório as apreciações que Darwin inscreveu no seu livro de 1871, The Descent of Man, sobre o comportamento feminino. Darwin, supostamente assente na observação de pássaros que o tornou famoso, explicava que, tal como nos pássaros, em que «A fêmea, embora comparativamente passiva, normalmente exerce alguma escolha e aceita um macho em detrimento de outros», as mulheres eram geneticamente monógamas enquanto os homens, tal como os seus congéneres de género alados, frequentemente promíscuos.


Esta ideia, totalmente errada, da placidez sexual feminina foi aceite sem pestanejar porque era conforme aos ditames "morais" da época. Aliás, os que, como Flaubert, se atreviam a sugerir que as mulheres podiam acalentar dúvidas em relação ao casamento monogâmico acabavam a ter de explicar em tribunal que "Emma Bovary c'est moi". Quiçá também por isso, Darwin, que não podia deixar de saber que o que escrevia era falso, optou por usar as fêmeas dos pássaros como uma elegia da monogamia.


No livro que ilustra o post, o ornitólogo Tim Birkhead, Fellow da Royal Society e professor de zoologia na Universidade de Sheffield, explica que o erro de Darwin não se deve apenas a pressão da sociedade vitoriana mas também ao facto de a sua filha Etty ser a revisora dos textos do pai - que se sentia inibido em discutir certos tópicos que seriam lidos pela filha. Algumas secções do livro, relacionadas com detalhes sexuais, foram escritas em latim por essa razão e a promiscuidade feminina foi pura e simplesmente ignorada por precaução.


No entanto, se a mera observação ornitóloga non biased seria suficiente para desmitificar a marcha dos pinguins e confirmar a promiscuidade generalizada de fêmeas e machos, apenas nos anos 80 a sequenciação do ADN permitiu que a verdade viesse, lentamente, a ser reposta. De facto, os resultados foram avassaladores: em espécies, como a escrevedeira-dos-caniços europeia, apontada como um exemplo de monogamia, mais de três quartos de todos os ovos são fertilizados pelo esperma de outros machos que não o macho do casal


Como escreve o autor, se para ele é claro o benefício da promiscuidade masculina em termos de seleção natural, a vantagem biológica da "infidelidade" feminina é uma pergunta ainda sem resposta, provavelmente porque continua amarrado a pre-conceitos que o impedem de responder. Ler e reler este livro é uma boa forma de limpar as teias de aranha de paradigmas de género assentes em lendas urbanas totalmente falsas e é um bom ponto de partida para o estilhaçar dos preconceitos que fazem de uma pergunta de resposta simples um tal quebra cabeças.


tags: ciência, mulheres

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