Ontem, toda ela se deixou ir do Blog de Joana Lopes, Portugal Entre as brumas da memória AQUI
Ainda a propósito da morte de Annie Girardot, um belo texto de Ferreira Fernandes, hoje no DN.
A memória que não perco dela
Ontem, morreu uma das mulheres da minha vida, Annie Girardot. Tive um caso com ela, já o contei há anos numa crónica. Eu tinha 13 anos. Ela nunca soube de nada mas eu chegava para manter a nossa paixão: numa semana vi por três vezes Rocco e os seus Irmãos. A Girardot foi a única mulher de lábios finos que eu amei. Tudo por causa dos seus olhos que riam e da voz grave, a mais bela do cinema (igual só a de outra francesa, Jeanne Moreau). Embora nada sabendo de mim, ela atiçou-me as esperanças. Os jornais contaram que se apaixonou por Renato Salvatori, cara de homem, o boxeur irmão de Rocco. Tivesse ela escolhido Rocco (o bonitinho Alain Delon), eu ficava a saber que eu não teria chances. Há poucos anos, por um comovedor livro da sua filha Giulia Salvatori, A Memória da minha Mãe, eu soube que ela tinha Alzheimer. Um dia, ao entrar num barco para a Sardenha, ela disse: "Não sei subir." Eram simples escadas. Em 2006, filmou o anúncio da sua doença: "Meus amigos, um pouco de mim vai deixar--vos." Em 2008, para um documentário, amigos levaram-na à Place des Vosges, em Paris. Sentada num banco de jardim, foi saudada por vizinhos que a sabiam doente. "Ah, bon...", ainda disse com a sua bela voz. De repente, o seu olhar, o tal outrora provocador, partiu para dentro dela. Esquecera tudo, até a câmara que a filmava. Ontem, aos 79 anos, toda ela se deixou ir.
Ainda a propósito da morte de Annie Girardot, um belo texto de Ferreira Fernandes, hoje no DN.
A memória que não perco dela
Ontem, morreu uma das mulheres da minha vida, Annie Girardot. Tive um caso com ela, já o contei há anos numa crónica. Eu tinha 13 anos. Ela nunca soube de nada mas eu chegava para manter a nossa paixão: numa semana vi por três vezes Rocco e os seus Irmãos. A Girardot foi a única mulher de lábios finos que eu amei. Tudo por causa dos seus olhos que riam e da voz grave, a mais bela do cinema (igual só a de outra francesa, Jeanne Moreau). Embora nada sabendo de mim, ela atiçou-me as esperanças. Os jornais contaram que se apaixonou por Renato Salvatori, cara de homem, o boxeur irmão de Rocco. Tivesse ela escolhido Rocco (o bonitinho Alain Delon), eu ficava a saber que eu não teria chances. Há poucos anos, por um comovedor livro da sua filha Giulia Salvatori, A Memória da minha Mãe, eu soube que ela tinha Alzheimer. Um dia, ao entrar num barco para a Sardenha, ela disse: "Não sei subir." Eram simples escadas. Em 2006, filmou o anúncio da sua doença: "Meus amigos, um pouco de mim vai deixar--vos." Em 2008, para um documentário, amigos levaram-na à Place des Vosges, em Paris. Sentada num banco de jardim, foi saudada por vizinhos que a sabiam doente. "Ah, bon...", ainda disse com a sua bela voz. De repente, o seu olhar, o tal outrora provocador, partiu para dentro dela. Esquecera tudo, até a câmara que a filmava. Ontem, aos 79 anos, toda ela se deixou ir.
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