TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 7 de março de 2011

E as crianças, ó!




São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

Folha de São paulo no Caderno TENDÊNCIAS/DEBATES Do Blog de Roberto Romano

As escolas públicas devem ter ensino religioso?

NÃO

Escola laica, liberdade e igualdade

ROSELI FISCHMANN


O lugar do ensino religioso não é na escola pública, mas na família e nas comunidades religiosas, para quem assim o quiser.

Por ser ligado ao direito à liberdade de consciência, de crença e de culto, o ensino religioso depende de ser buscado, não de ser oferecido sob a égide do Estado, por ser matéria íntima, de escolha, segundo a consciência de cada pessoa.

Daí o caráter facultativo para o aluno que a Constituição estabelece para o ensino religioso nas escolas públicas, buscando preservar tanto o direito à liberdade de crença quanto a laicidade inerente à escola pública. Razões de ordem ética, jurídica, histórica e pedagógica amparam essa posição.

Crianças pequenas, de seis anos, iniciando o ensino fundamental, têm suas consciências tenras plasmadas pela escola. Quais as repercussões de conteúdos religiosos conflitantes ao que recebe no lar, em sua compreensão do mundo?

Aprender a não fazer ao outro o que não quer que lhe façam indica formação para autonomia, valorizando a alteridade -cerne da educação. Na escola, o respeito aos outros não pode ser amparado em divindade, mesmo para quem creia.

Porque amparar-se no inefável para garantir a não violência é menosprezar a capacidade humana de respeito mútuo e a própria fé, que não depende de constrangimento e submissão. A escola pública deve explicitar o que é humano (como a ciência) como mutável, porque falível e passível de debate e discussão, sempre sujeito a aperfeiçoamento. Como a Constituição.

A possibilidade de uma PEC que retire o parágrafo primeiro do artigo 210 da Constituição é uma urgência histórica, em prol das próprias religiões. Porque, ao tentar regulamentar o não regulamentável, qual seja, o acordo entre religiões sobre o que ensinar, como conteúdo único, a Lei de Diretrizes e Bases da educação criou mais dificuldades que soluções para o que já era problemático na Constituição.

Mesmo internamente a Constituição parece inconsistente, já que o seu artigo 19 estabelece que é vedado ao Estado "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança" e "criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".

Promover um ensino religioso que seja ligado a denominação religiosa específica no âmbito da escola pública (como propôs o acordo da Santa Sé com o Brasil) é promover distinção entre brasileiros.

Mesmo que fosse possível cumprir a promessa de que "todas as religiões serão oferecidas", seriam desrespeitados em seus direitos os agnósticos e ateus.

Supor que seja possível tratar as religiões de forma "neutra", na escola pública, é menosprezar consequências de perseguições e raízes de guerras religiosas que a humanidade travou. Propor ensino religioso como história das religiões pode ser adequado só para jovens e não crianças, e não terá sentido se o professor conduzir o ensino privilegiando sua crença ou descrença.

A escola pública precisa ser entendida como lugar de desconstrução das discriminações que perpassam nossa cultura, de forma silenciosa ou denegada, que desrespeitam religiões e, sobretudo, seus adeptos, todos igualmente brasileiros e brasileiras.

Argumentar que a maioria "democraticamente" tem o direito de impor no espaço público sua crença e que na escola "só fará bem ter (uma certa) religião" reduz a democracia à tirania, pois nega o direito de as minorias serem integralmente respeitadas, a ponto de (como ensina Bobbio e dita a regra do jogo democrático) um dia se tornarem maioria.


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ROSELI FISCHMANN é coordenadora do programa de pós-graduação em educação da Universidade Metodista de São Paulo e pesquisadora do CNPq para o tema do ensino religioso. Foi membro da Comissão Especial de Ensino Religioso do Governo do Estado de São Paulo (1995-1996).


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COMENTÁRIO: Além dos argumentos da Professora Roseli Fischmann, a instituição de mais uma disciplina (religião) prejudica a já difícil carreira das crianças na escola. No currículo - que não pode ser entendido como um ajuntamento de disciplinas, mas é assim compreendido - ficará com mais uma "matéria". Talvez, como é o caso da matemática, os alunos fiquem odiando a religião. É mais fácil odiar os conhecimentos escolares quando estão na escola. Por que? São conhecimentos ensinados naquela visão positivista, sem nexo, sem vínculo com outros conhecimentos... Por exemplo, ensina-se corpo humano num plano, o plano geométrico do livro (uma única dimensão) apoiado na metáfora máquina. Não há corpo dinâmico, corpo do menino, da menina - que os professores de ciências deviam saber- , são diferentes, não apenas porque os órgãos genitais são diferentes. O metabolismo é diferente. Os meninos têm mais músculos que as meninas e blá blá. Matemática nem se fala. Os professores das primeiras quatro séries confundem técnica com matemática. tabuada é uma técnica. Não é matemática. Após a quinta série o transtorno matemático é horripilante. Os professores de matemática acreditam que matemática aprimora o raciocínio. Só isso. De que maneira? Fazendo os pobres meninos e meninas decorarem fórmulas, equações sem entendê-las. Isso não é ensino. Não é raciocínio.

De que modo se pensa em ensinar religião? Do mesmo modo que as ciências, a matemática. .. mais uma coisa para odiar na ordem escolar.

Pensa-se em ensinar religião para construir a moral e a ética? Nofa! Que desastre. Essas dimensões da vida aprendemos com as ações dos professores, diretores na escola. Se estes dicursam e não agem como manda o figurino, então não adianta ensinar nada. Nem mesmo a matemática.

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