O vício da desigualdade
Por João Rodrigues, Portugal Blog ladrões de bicicletas AQUI
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Marcas como a Porsche e a Dior parecem indiferentes ao apertar do cinto e estão a aumentar as vendas. Na primeira página do Público pergunta-se candidamente: “Por que aumentou o consumo de luxo com um orçamento mais duro?” Orçamento mais duro? Mais duro para quem? Desculpem, mais duro para que classes sociais? É que para os mais ricos e poderosos o orçamento tem sido bem mole. A austeridade é assimétrica. Enfim, no editorial repete-se o discurso moralista, mas pouco moral, sobre a “luxúria consumista” dos “portugueses”. Adoro este “portugueses”, este igualitarismo, como se fossemos todos iguais, como se estivéssemos todos no mesmo barco, como se o endividamento fosse todo igual, como se os padrões de consumo fossem todos iguais. Não são. Não somos. Somos dos países mais desiguais da Europa. A discussão sobre a desigualdade económica peca pela ausência neste trabalho. Alguma investigação económica, onde se tem destacado o trabalho de Robert Frank, indica precisamente que as imensas desigualdades, em sociedades em que poucos capturam grande parte dos ganhos, acentuam a ansiedade e a competição pelo estatuto. Trata-se de uma contraproducente corrida mimética a um consumo ostentatório, fixado por uma lumpemburguesia cada vez mais endinheirada, cujos valores materialistas se tornam hegemónicos, com efeitos negativos no bem-estar e na saúde financeira de muitos. O vício de que se fala no Público é o vício da desigualdade.
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