CABUL, CABUL de Leonardo Ferrari, psicanalista, Curitiba, Blog AQUI
Fonte: Jason Kelly, Afghanistan: Land of War and Opportunity [Afeganistão, a terra da guerra e da oportunidade] in Bloomberg Businessweek, 6 de janeiro de 2011. A chamada da capa diz assim: “Sua empresa aqui? O Departamento de Defesa quer que as companhias americanas façam algo nobre [“to do something noble”]. Try Afeganistão [“tentem” o Afeganistão, porém esse “try” é tão rico de significados que vale a pena deixá-lo em inglês, mesmo porque foneticamente rima com “trai” em português – aí vira, “traiam” o Afeganistão! Haverá duplo sentido melhor?]. Uma viagem pela terra das oportunidades difíceis, perigosas”. Tentei descobrir quem foi o autor da capa sensacional, mas não consegui. A fotografia da destruição e o desenho sobreposto estão absolutamente geniais sobre essa “nobreza” em questão e desse estranho “querer” de um Departamento de Defesa que, sem querer, foi empregado por essas corporações para fazer a única coisa que sabe, a fumaça preta no fundo. Para ficar no jargão militar, who’s in charge here?
Os businessmen dos Estados Unidos nunca se caracterizaram pela dialética. Longe disso. É gente que só aprendeu nas business schools a passar o dia inteiro acumulando mais e perdendo nada ou, como bem definiu o Gérson naquele comercial esclarecedor, o importante é levar vantagem em tudo, certo? Certo. Porém, nunca antes neste país se chegou ao top of the heap como agora. Primeiro você destrói. Depois, você constrói. Antigamente, nas priscas eras, havia makeup, uns olhinhos esfumados por aqui, livrar o mundo do comunismo, um delineador por ali, a liberdade contra a tirania, uma sombra lá, a derrubada de um ditador assassino. Não mais. A ordem agora é wake up in a city that doesn’t sleep – deve ser por causa do barulho dos bombardeiros, mas, como disse aquele general formado em West Point para uma criança iraquiana que não conseguia dormir, “filho, esse é o barulho da liberdade”. Liberdade? Deixa prá lá. Isso foi no tempo dos dinossauros. Os mais aptos do novo Departamento de Estado convidam os vagabond shoes a serem os number one, os top of the list, os king of the hill…no Afeganistão, Afeganistão. Porque quem make it there, com certeza vai make it anywhere. Start spreading the news.
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