TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 3 de abril de 2011

bRAZIU POR BISHOP

LITERATURA in: FOLHA DE SÃO PAULO, 3 DE ABRIL DE 2011 Lufada de ar fresco Bishop e as relações raciais no Brasil RESUMO Marcada pela noção de democracia racial, então em pleno vigor, Elizabeth Bishop comenta em "Grupos e Indivíduos" (o cap. 8 do livro "Brazil", aqui reproduzido na íntegra) os tipos populares e as relações raciais, de classe e de gênero no Brasil dos anos 1950; e traça paralelos com o período colonial e com a sociedade americana. ELIZABETH BISHOP tradução PAULO HENRIQUES BRITTO HÁ UM EPISÓDIO que os brasileiros não se cansam de relatar para ilustrar sua atitude no que diz respeito às relações raciais. Quando algumas senhoras da corte de Pedro 2º se recusaram a dançar com o famoso engenheiro negro André Rebouças, a princesa Isabel atravessou o salão e pediu-lhe que dançasse com ela. A história é boa, e verídica; e é também verdade que Pedro 2º nomeou para cargos elevados alguns negros e mulatos; o leal Rebouças o acompanhou ao exílio e morreu na pobreza. Infelizmente, essa história não constitui uma prova de tolerância racial; a princesa Isabel era uma princesa de verdade e teve boa formação -foi bem educada,1 como se diz. Há uma história melhor ainda. Em 1950, Katherine Dunham [bailarina negra norte-americana, 1909-2006] não foi aceita num dos grandes hotéis de São Paulo com a desculpa de que não havia nenhum quarto vago. Da noite para o dia, o episódio tornou-se um escândalo nacional e, dias depois, foi aprovada uma lei que proibia qualquer tipo de discriminação no futuro. O fato de que, até então, ninguém havia sequer pensado em formular uma lei como essa diz quase tudo o que se precisa saber a respeito da atitude do Brasil em relação aos negros. (O hotel supostamente fez o que fez em conformidade com os preconceitos de sua clientela norte-americana.) TOLERÂNCIA RACIAL Os brasileiros orgulham-se de seu belo histórico em matéria de relações raciais. Na verdade, a melhor maneira de caracterizar sua atitude seria dizer que o brasileiro de classe alta costuma orgulhar-se de sua tolerância racial, enquanto o de classe baixa não tem consciência dela, porém limita-se a praticá-la. O racista antinegro (ou antissemita) que ocasionalmente se encontra enquadra-se quase sempre em dois tipos: ou é o membro da "sociedade" desprovido de consciência que, no decorrer de suas viagens, conheceu na "sociedade" pessoas que têm preconceito contra negros ou judeus, perdendo assim sua tolerância nativa, ou, o que é mais triste ainda, é o imigrante europeu que veio para o Brasil tendo sofrido discriminação em seu país de origem por causa de sua raça ou por ser pobre e (provavelmente não tendo tido muito contato prévio com negros) despreza-os e trata-os mal. A velha classe alta vê com muito mais desdém a nova classe média, por causa de sua vulgaridade ou falta de bons modos, do que os negros ou mulatos. Em parte, isso se deve à nostalgia dos velhos tempos, em que não havia classe média; em parte, à pressão econômica; em parte, ao tradicional esnobismo. Muitas vezes, a classe média, pequena porém cada vez maior, inspira pena; sem dúvida, o Brasil tradicional deveria ter mais paciência com ela. As divisões e a tipologia de classe, que ainda são bem simples, lembram o século 19 -quase lembram Dickens, se é possível mencionar em conexão com o Brasil um autor tão distante de tudo o que é brasileiro. Um jovem comerciante judeu, inteligente mas não culto nem viajado, ficou perplexo quando, ao planejar sua primeira viagem aos EUA, foi alertado a respeito da existência de hotéis "restritos". A ideia de ser discriminado jamais lhe ocorrera. Além disso -e temos aqui um exemplo de uma das grandes fraquezas do Brasil, seu provincianismo, fruto de muitos séculos de afastamento da Europa (para ir do Brasil à Europa, levavam-se [...]2 dias, enquanto da América do Norte à Europa, a viagem durava apenas [...] dias)-, esse mesmo jovem judeu ficou igualmente atônito quando lhe disseram que os sofrimentos dos judeus sob o jugo de Hitler tinham alguma relação com ele; o conceito de solidariedade racial jamais lhe passara pela cabeça. NEGROS E MULATOS É bem verdade que os negros e mulatos são "cidadãos de segunda classe", que raramente ocupam posições de importância, nem sequer têm bons empregos e quase sempre são pobres. Mas, como a maior parte da população está exatamente na mesma situação e sofre as mesmas privações que eles, seus sofrimentos não os o distinguem muito dos outros. Os negros querem ser "claros", ter cabelo "bom" (liso) e narizes "bons" (isto é, que não sejam achatados). Às vezes, são tratados com um humor condescendente, como o que encontramos no Sul dos EUA -e há centenas de mitos sobre os negros. Porém, mais uma vez, esse tratamento não é muito diferente do que é dado aos brancos pobres. Eles têm igualdade em matéria de oportunidades e educação -de modo geral, os dois quesitos ainda são bem deficientes- e também no campo das artes. Aleijadinho, Machado de Assis e Mário de Andrade eram mulatos. Depois que Machado de Assis morreu, um amigo foi visitar sua viúva. Ela olhou para a fotografia de seu marido sobre a mesa e fez seu único comentário conhecido a respeito do fato de que ela, uma mulher branca, se casara com um mulato. "Pena que ele era tão escuro", disse ela. A pobreza, o atraso, a ignorância e o sofrimento de tantos brasileiros constituem uma tragédia; para milhões, a vida, marcada pela fome e pela sujeira, é curta e cruel. E, no entanto, para um sul-africano ou norte-americano ou qualquer um que já tenha morado num país colonial, ouvir uma cozinheira negra referir-se de modo afetuoso à sua patroa, uma velhinha branca, como "minha negrinha" constitui uma revelação -uma lufada de ar fresco, enfim. TRUNFO A coisa não foi planejada; simplesmente aconteceu. Mas o Brasil agora se deu conta de que sua situação racial é um de seus maiores trunfos. A miscigenação racial pode ser vista em todo o país. No Norte, na Amazônia, o português e o índio geraram o caboclo, miúdo, bem proporcionado, com nariz reto e olhos vivos -um tipo físico muito atraente. O Nordeste, depois de muitas gerações mal alimentadas, produziu o "cabeça-chata", que também tende a ser de baixa estatura, um tanto raquítico, com pernas e braços finos e cabeça grande, porém ágil e, sem dúvida, prolífico. No Sul, onde são melhores as condições de vida e a presença negra é reduzida ou nenhuma, o tipo é mais português, por vezes com sangue alemão, mais alto, mais claro, com a pele mais lisa, mais tranquilo -porém pugnaz, até mesmo inclinado à violência. É nas cidades grandes, Rio e São Paulo, e nas suas adjacências que encontramos todos os tipos raciais misturados lado a lado, tipos que perderam sua nitidez racial juntamente com suas habilidades agrícolas e boas maneiras interioranas. Em Goiás, as pessoas sabem os nomes e hábitos de todos os animais que as cercam, mas, nas regiões onde a agricultura entrou em decadência, os fazendeiros são incompetentes e têm aparência doentia -para eles, todos os insetos não passam de "bichos", toda árvore é "cinco-folhas" e tudo está sujeito à destruição. A importância da nutrição no Brasil se evidencia no fato de que, quanto mais rica e antiga a família, mais altas e ossudas são as pessoas. Por vezes, os criados do "Norte" ou do "interior" quase parecem anões ao lado dos patrões. PORTUGUESES Os portugueses, naturalmente, constituem o grupo mais numeroso de imigrantes, e eles continuam vindo, cerca de 15 mil por ano. São, em sua maioria, trabalhadores urbanos e rurais, criados e jardineiros. Além disso, há nas cidades algumas profissões tradicionais que pertencem a eles: o comércio de jornais velhos e garrafas, o ofício de amolador de facas. Nas cidades, boa parte do transporte é feita em carrinhos de mão, e também esse ofício é uma prerrogativa dos portugueses. O nome oficial desses carrinhos de mão é "burro sem rabo". O traje costumeiro dos carregadores constitui-se de tamancos de madeira, calças bem largas, camisetas e boinas grandes e moles; seus rostos são belos, simples e impassíveis, em contraste com os rostos muitas vezes feios, porém sutis e expressivos, dos brasileiros de várias gerações. Há uma infinidade de piadas que retratam os portugueses como pessoas de uma ingenuidade absurda, que interpretam tudo ao pé da letra. No teatro brasileiro do século 19 e do início do século 20, o português é sempre um caipira com roupas berrantes, chegado a relógios de ouro volumosos e pesadas correntes de ouro etc. etc. Com a Abolição, os imigrantes europeus começaram a chegar em números crescentes, indo em sua maioria para os Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Alemães, italianos e -a partir de 1908- japoneses vieram aos milhares. Há cidadezinhas inteiras de alemães no Sul do Brasil. No momento, são cerca de meio milhão os japoneses do país, os quais dão uma enorme contribuição à melhoria da agricultura, em particular ao cultivo de frutas, nos Estados sulistas. Em São Paulo, há mercearias, livrarias e até mesmo gueixas japonesas. Os seis milhões de italianos3 foram os que melhor se adaptaram, provavelmente porque o clima e as condições de trabalho não são muito diferentes dos da Itália e, para eles, é mais fácil aprender o português. RONDON O fundador e herói do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) foi o general Cândido Mariano Rondon (1865-1958). Era de Cuiabá, Mato Grosso, e sua ascendência era em parte indígena. Em 1907, quando era um jovem capitão, recebeu a incumbência de construir uma rede de telegrafia que ligasse Mato Grosso ao Amazonas e ao mundo exterior. Isso implicava explorar milhares de quilômetros quadrados de selva pela primeira vez. A história de Rondon é cheia de lances de heroísmo e sacrifício pessoal. Ele acreditava que os índios deviam e podiam ser "pacificados", e não, como muitos pensavam na época, exterminados. O lema que ele adotou no SPI era "morrer se necessário for; matar, nunca", e muitos de seus tenentes, soldados e trabalhadores seguiram esse lema à risca. Ele tentava jamais interferir na forma de vida tradicional dos índios. Ainda se ouvem histórias vergonhosas de pessoas sem escrúpulos que enganam ou matam os índios para ficar com suas terras, e ocorrem "golpes publicitários" melancólicos envolvendo os nativos, mas Rondon criou padrões elevados de comportamento em relação a povos primitivos. O território de Rondônia (com área maior do que a da França) recebeu esse nome em homenagem a ele. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, Theodore Roosevelt [1858-1919, presidente dos EUA 1901-09] participou de uma caçada e expedição exploratória com Rondon. (Ele constatou, infelizmente, que, em matéria de caça, a América do Sul era tão boa quanto a África.) Roosevelt faz os maiores elogios a Rondon em seu livro "Through the Brazilian Wilderness" [pelas selvas brasileiras], que foi provavelmente a obra que fez o americano médio se interessar pelo Brasil pela primeira vez desde a visita de d. Pedro 2º à Exposição do Centenário na Filadélfia [1876]. Rondon descobriu 15 rios importantes, um dos quais recebeu o nome de Roosevelt, construiu cerca de 25 mil quilômetros de linhas telegráficas e descobriu muitas tribos indígenas até então desconhecidas. Os índios, porém, ainda hoje constituem um problema. Tribos que jamais travaram contato com a "civilização" continuam sendo descobertas, enquanto as que já o fizeram estão gradualmente se extinguindo, vítimas das doenças e da degradação. Por vezes, o problema se torna perigoso. No momento em que estas linhas estão sendo escritas, o corpo de um jovem explorador inglês foi encontrado, perfurado por sete flechas caiapós. O seringueiro e vaqueiro isolado de Mato Grosso ou Pará, vivendo em plena era atômica, ainda teme mais as flechas e as zarabatanas do que as bombas. AMAZÔNIA Uma noite, a bordo de um navio que descia o lamacento Amazonas, uma jovem médica contava histórias. Ela trabalhara por 15 anos no Sesp, o Serviço Especial de Saúde Pública, criado pelos EUA e pelo Brasil em 1942 e, pouco depois, assumido inteiramente pelo Brasil. Ao entrar para o Sesp, ela estava com 23 anos de idade; fora a Santarém, depois seguira mais uns 150 quilômetros numa lancha até chegar, com seus instrumentos e uns poucos livros, a um vilarejo às margens do Tapajós. Na sua primeira noite lá, um grupo de homens maltrapilhos, de aparência selvagem, veio lhe pedir que assinasse um atestado de óbito para um habitante do vilarejo cujo corpo acabara de ser encontrado no rio: morte por afogamento. Ela pediu que a deixassem a sós com o cadáver e constatou que, apesar de estar na água há um bom tempo, o homem morrera com uma facada nas costas. Sozinha, no meio da noite, sabendo que o assassino ou os assassinos certamente estariam naquele grupo ameaçador, ela recusou-se a assinar o atestado de óbito e mandou uma pessoa chamar o representante da polícia mais próximo dali -a meio dia de viagem num barco motorizado. Ela adorava seu trabalho. Na sua opinião, o Serviço de Proteção aos Índios e o Sesp eram os dois órgãos que funcionavam melhor no Brasil. Baixinha, gorda, animada, morena, provavelmente com alguma ascendência indígena, ela era uma mulher brasileira "moderna". Não há muitas como essa médica amazonense, mas há algumas, e elas estão se tornando mais numerosas. HOMEM E MULHER

O Brasil é um país dos homens. A desigualdade entre os sexos não podia ser mais pronunciada do que é; pelos padrões anglo-saxônicos, os meninos são muito paparicados; na casa, tudo gira em torno do chefe de família ou seu filho, muitas vezes denominado apenas "o homem". O macho é que é importante, admirado por todos, o mandachuva. A mulher é "a mãe dos meus filhos", "a que tem o meu nome", e "religião é coisa de mulher". Mas as coisas não são tão simples assim. Muito embora as mulheres pobres andem atrás dos homens, levando o bebê nos braços e a lata d'água na cabeça, muito embora as páginas femininas dos jornais sejam de uma vacuidade inacreditável, muito embora os homens fiquem numa sala falando de política e imóveis enquanto as mulheres na sala ao lado fuxicam sobre criadas e crianças, as coisas já mudaram muito desde os tempos em que os primeiros portugueses roubavam moças índias. Antigamente, as mulheres eram poucas e ficavam recolhidas, como se num harém, olhando para a rua através do muxarabi, ou então nas alcovas escuras das velhas casas-grandes. Durante três séculos, elas raramente aprendiam a ler e a escrever, e eram casadas bem cedo, a partir dos 12 anos, com vizinhos, primos e até mesmo tios. Todos os relatos dos viajantes do período colonial falam da timidez das mulheres brasileiras e observam que raramente elas eram vistas pelos visitantes do sexo masculino. Na escuridão das alcovas, ficavam muito brancas e gordas, pois raramente caminhavam, sempre deitadas nas redes ou sentadas de pernas cruzadas em almofadas, enquanto os maridos, segundo a maioria dos relatos, se divertiam nas senzalas. Depois de várias gerações desse tipo de vida, os homens muitas vezes ficavam desprovidos de iniciativa, e eram as esposas que, na realidade, administravam as fazendas de cana-de-açúcar ou café, instaladas em suas almofadas, sendo abanadas, a costurar, porém dando uma série de ordens o dia todo. Foi só nos últimos cem anos que as mulheres passaram a receber instrução formal no Brasil e, mesmo hoje em dia, as meninas mais pobres raramente conseguem estudar por mais de um ou dois anos, menos ainda que os meninos. As ricas estudam em colégios de freiras, uns bons, outros maus. Mas tem-se a impressão de que as freiras muitas vezes estimulam a autocomplacência e o esnobismo, e não o espírito de "noblesse oblige". Embora sejam de modo geral bondosas, muitas mulheres mais ricas continuam a tratar a criadagem e as pessoas mais humildes à maneira do século 18 e deixam que seus filhos ajam do mesmo modo. ESCRITORAS Como as mulheres eram analfabetas, não havia escritoras, naturalmente. Podemos ver a vida no século 19 pelo ângulo feminino graças aos escritos de visitantes como Maria Graham e às cartas de diversas governantas estrangeiras. Imagine-se quantos talentos não foram desperdiçados. "Minha Vida de Menina", de Helena Morley (Alice Brant), é um diário autêntico escrito em Diamantina na década de 1880 por uma menina que, sem dúvida, era uma romancista frustrada. Agora, as mulheres ocupam um lugar importante nas letras brasileiras. Cecília Meireles é um dos maiores nomes da poesia no Brasil. Clarice Lispector é uma contista e romancista de grande originalidade -e há muitas outras. A mais conhecida de todas é Rachel de Queiroz, que, aos 18 anos de idade, escreveu um romance curto e brilhante sobre o Ceará, "O Quinze", uma referência ao ano em que houve uma seca particularmente terrível. Ela veio para o Rio, escreveu peças teatrais e romances e, há muitos anos, tem uma coluna em "O Cruzeiro", a maior revista semanal, em que ela assume de modo coerente e corajoso a posição correta em relação às causas políticas e sociais. Durante a ditadura de Vargas, quando muitos intelectuais foram presos ou exilados, ela passou seis meses na cadeia, incomunicável. Em 1961, o presidente Jânio Quadros convidou-a para o cargo de ministro da Educação e, mais tarde, para o de embaixador. Embora ela tenha recusado ambos os cargos, o fato é que foi a primeira vez no Brasil que uma mulher teve a honra de receber tais convites. MULHERES As mulheres passaram a ser aceitas nas universidades em 1879. Hoje há mulheres atuando no governo, deputadas, advogadas, médicas, psicanalistas e engenheiras. A diretora do Museu de Arte Moderna do Rio, Carmen Portinho, é engenheira, e o belo viaduto das Canoas, perto do Rio,4 foi feito por outra mulher, Berta Leitchic. Já vimos o quanto as mulheres são ativas no campo das artes. A pianista Guiomar Novaes é famosa em todo o mundo há anos. Merecem referência especial as centenas de anônimas normalistas brasileiras -as jovens que todos os anos se formam professoras primárias, atuando muitas vezes em vilarejos remotos, em grupos escolares com um único cômodo, trabalhando nas piores condições imagináveis. Mas o casamento aos 17 ou 18 anos e a dura obrigação de procriar é um destino do qual não escapam nem mesmo as ricas e instruídas. As próprias mulheres são contrárias à introdução do divórcio. Conquistar segurança para si própria e para seus filhos é a coisa mais importante na vida de uma mulher. Embora tenham conquistado o direto ao voto em 1934, as mulheres brasileiras ainda não possuem todos os direitos perante a lei. Costumam pensar como seus maridos e aceitar a infidelidade deles como algo natural. Algumas chegam a insistir em que são mais felizes que as mulheres norte-americanas -mas isso costuma ocorrer depois que elas viajam aos EUA e veem que as mulheres americanas "fazem todo o trabalho sozinhas", cuidam dos filhos ou se sustentam e parecem sempre apressadas e exauridas. ESPORTE Além da profissionalização da mulher, outra novidade no Brasil é o esporte. Há apenas 30 anos, o futebol era uma atividade estritamente amadorística, praticada pelos ricos como lazer. Agora, tal como o beisebol nos EUA, tornou-se um negócio milionário, com salários altos, compra e venda de jogadores, craques que se tornam heróis nacionais. Todos os jornais dedicam ao futebol ao menos uma página diariamente. Em 1958, o Brasil foi campeão mundial. (É interessante observar que cada jogador que foi jogar na Europa recebeu 15 quilos de feijão preto.) Os jogadores são de todos os tons, passando do branco ao negro retinto, graciosos, nervosos e extraordinariamente rápidos. Durante muito tempo, faltava-lhes cooperação e entrosamento em equipe. [Heróis populares - O "Diamante Negro", "Pelé", história de Carolina [de] Jesus aqui. Em 1958, foram campeões de basquete. Maria Ester [Bueno]. Bruno Hermanny.]5 No interior, aos domingos, em todos os vilarejos, a população assiste às partidas dos times locais de futebol. Os grandes campos verde-claros ficam cercados de gente endomingada, carregando bebês e segurando sombrinhas para se proteger do sol. O vendedor de Kibon com seu carrinho amarelo, um carrinho de algodão-doce (improvisado, montado sobre uma bicicleta); urubus e delicadas pipas de papel sobrevoam a cena, e os jogadores, com suas camisas listradas de cores vivas e calções curtos, correm e correm. É também comum ver no varal de uma lavadeira os uniformes de um time, listrados como vespas, uma cena alegre, tendo ao fundo, por vezes, um depósito de lixo, com urubus e pipas de papel no céu. Notas do editor 1. As palavras destacadas em itálico estão em português no original. 2. As passagens com [...] indicam falta de uma ou mais palavras no original. 3. Há evidente exagero nesse cálculo; o contingente de italianos não chegaria a dois milhões. 4. Na verdade, fica em São Conrado, bairro da Zona Sul do Rio. 5. Os trechos entre colchetes são anotações que a autora pretendia desenvolver mais adiante. O brasileiro de classe alta costuma orgulhar-se de sua tolerância racial, enquanto o de classe baixa não tem consciência dela, porém limita-se a praticá-la A velha classe alta vê com muito mais desdém a nova classe média, por causa de sua vulgaridade ou falta de bons modos, do que os negros ou mulatos Muitas mulheres mais ricas continuam a tratar a criadagem e as pessoas mais humildes à maneira do século 18 e deixam que seus filhos ajam do mesmo modo A desigualdade entre os sexos não podia ser mais pronunciada do que é; o macho é que é importante, admirado por todos; a mulher é "a mãe dos meus filhos"

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