TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Adelina....



O texto é da Adelina. Adelina Khul. Adelina é uma pessoa muito bacana. Foi minha aluna no Curso de Biologia. É poetisa. Muito querida. Faz tempo que se formou e a gente ainda conversa sobre suas palavras. Grata, Adelina!



Receita

Me disseram uma vez que pra fazer poesia você precisa esconder as palavras. Sim. Esconder as palavras atrás de outras palavras. É como brincar de esconde-esconde. Você se esconde em algum lugar, aí espera alguém achar. Também falaram que você precisa usar palavras difíceis. Palavras que ficam escondidas também. Já achei uma palavra uma vez no vão do sofá. Outra dentro de um sobretudo cinza. E tantas outras nas frestas de uma casa de madeira. Porém, não pude usá-las pra fazer poesia. As palavras que eu deveria usar tinham que estar escondidas nos dicionários, e só lá. São as normas. Não posso fazer nada. Por fim, um rapaz graduado me disse que pra fazer poesia você precisa rimar as palavras, e com elas formar bloquinhos compactos com nomes como ode, soneto. Parei. Pensei. Analisei as condições. Confesso que demorei bastante nesse processo. Então voltei ao que estava fazendo. Peguei a casca da batata. Admirei sua beleza. Gostava da água leitosa que saia dela. De como ela era boa de sentir na mão. Tão geladinha. Tão sedosa. Pensei naquele momento como seria bom ter as palavras certas, aquelas, as escondidas. Queria saber fazer poesia. Fiquei muito triste.

Um comentário:

josé roberto balestra disse...

Marta, simplesmente lindo o texto de Adelina. O remate inusitado deixou claro que ela é mesmo uma belíssima poeta; sabe esconder com maestria as palavras e pregar uma peça na gente... Fiquei fã da forma de escrever dela. Abs, a você e a ela.

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