quinta-feira, 14 de abril de 2011
ROMA por Leonardo Ferrari, psicanalista, Curitiba, aqui
Uma fita ou banda de Möbius, um espaço topológico obtido pela colagem de duas extremidades de uma fita, após efetuar meia torção numa delas. Deve seu nome a August Ferdinand Möbius, matemático e astrônomo alemão, que a estudou em 1858.
A querida artista Lygia Clark diz assim sobre seu desencontro com essa banda: “Uma fita de Moebius quebra os nossos hábitos espaciais: direita-esquerda, anverso e reverso, etc. Ela nos faz viver a experiência de um tempo sem limite e de um espaço contínuo” (in “Livro-Obra”, 1983, p. 151).
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“Façamos agora a fantástica suposição de que Roma não seja a habitação de seres humanos, mas um ser psíquico com um passado de análoga extensão e riqueza, um ser, portanto, em que nada do que uma vez aconteceu tenha se perdido, em que ao lado da última fase de seu desenvolvimento todas as anteriores ainda continuem existindo. Isso significaria para Roma, portanto, que os palácios imperiais e o Septizonium de Sétimo Severo ainda se elevariam em sua antiga altura sobre o Palatino, que o Castel Sant'Angelo ainda ostentaria em suas ameias as belas estátuas que o adornavam até o cerco dos godos etc. Mais ainda, porém: no lugar do Palazzo Caffarelli, sem que fosse necessário demoli-lo, estaria outra vez o templo do Júpiter capitolino, e não apenas em sua última forma, como o viam os romanos do tempo dos césares, mas também nas mais antigas, quando ainda tinha aspecto etrusco, e era ornamentado com antefixas de argila. Onde agora está o Coliseu, também poderíamos admirar a desaparecida Domus aurea de Nero; na Praça do Panteão, encontraríamos não apenas o Panteão atual, tal como este nos foi legado por Adriano, mas também, sobre o mesmo terreno, a construção original de M. Agripa; o mesmo solo, inclusive, sustentaria a igreja Maria sopra Minerva e o antigo templo sobre o qual foi construída. E para evocar uma ou outra dessas vistas, talvez bastasse apenas que o observador mudasse a direção de seu olhar ou o posto de observação.”
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Sigmund Freud em “O Mal-Estar na Cultura” (1930). Porto Alegre: L&PM ed., 2010, pp. 52-53. Tradução do alemão de Renato Zwick.
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