TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Deu na Folha e a Mary comenta...

Imagem: escultura de Salvador Dali
Texto que curti. Do Blog da Mary, A feminista


Um artigo na Folha Mais de ontem. De um historiador. Falando do absurdo que é tirarem aulas de história do ensino médio pra colocar sociologia. Existe uma luta meio coorporativa nisso. Que tem a ver com mercado de trabalho. Pra sociólogo e historiador. Mas eu concordo com ele.
Eu acho que história é mais importante que sociologia no ensino médio. Ele diz, no artigo, que a escola pública vai ficar com 200 horas de história e a particular continuará com as 500 horas. E que daí o aluno da pública não passa mesmo no vestibular. E isso é mesmo argumento. Mas eu não me importo tanto com isso. Me parece um pouco instrumental demais.
O caso é que eu não consigo imaginar qual sociologia pode ser importante pro ensino médio. Ou pelo menos eu não conheço essa sociologia. E acho que a história dá conta desse conteúdo. Que supostamente a sociologia vai trabalhar. Por que qual conceitos serão trabalhados com o aluno? Eu imagino que é luta de classes e desigualdade social. Um marxismo a la igreja católica. Isso que eu imagino. Você vai falar o que de Weber? Vai falar de burocracia? Se é um aluno que nem entendeu ainda como se constituiu o estado moderno, fica difícil. TODO curso de sociologia que eu dei, tem que abrir com revolução industrial e francesa. Não tem jeito. Porque se trata desse sujeito e das relações que ele estabelece. Dentro da cidade e dentro da fábrica. Não existe sociologia em outro lugar. Só na cidade e na fábrica. Mas existe sociologia rural, tem gente que diz. E existe mesmo. Mas é sempre pra ver contradição e estrutura a partir da modernidade. Eu acho que é bem o Weber mesmo que define assim, sociologia a ciência que estuda as relações sociais
Eu acho a mais perfeita definição essa. Principalmente porque sempre eu considero que a estrutura social é formada unicamente por relações sociais. Daí você olha todas as relações pra chegar na estrutura. É que a gente fala da estrutura direto, porque já sabemos. Então PARECE que a estrutura tem autonomia sobre as relações. Mas cada vez mais eu me convenço. Não tem. A grande ideologia e o grande fato social. Não tem isso. Daí que eu pergunto. Qual tipo de sociologia a gente ensina pra moleque? A estrutura e as relações da escola? Da família? Fica difícil demais. Não ser doutrinador. E não ser funcionalista.
Daí trata de noticiário. Você pega essa menina presa por pixar a Bienal. Vários analistas podem dizer coisas. Mas todos têm que usar sociologia. Não existe explicação possível fora da estrutura autoritária e classista do direito brasileiro. Você pode chamar um advogado pra falar. E ele vai explicar tecnicamente que ela esta presa e o Daniel Dantas não. E que isso se explica assim e assado. Mas se você quiser olhar mesmo, precisa de sociologia. Cidadãos protegidos e desprotegidos. Um moço hoje na Folha disse da ironia dela passar o dia que se comemorou aniversário dos Direitos Humanos na cadeia. Mas filosofia não dá conta. É sociologia mesmo pra dar conta. Mesmo quando a discussão emboca pro lado se grafite é arte. Precisa falar, né? De expressão estética da periferia não ser legimitimada. Então só sociólogo pode falar? Não. Porque a maioria dos advogados e artistas plásticos conhecem esse pano de fundo. Quem não conhece, pode até esclarecer pontos técnicos. Mas soam absolutamente esquecíveis. Eu me lembro quando meu pai dizia "oh, porque o Estado de Direito..." e eu o corrigia "o Estado Liberal de Direito...". E ele caía na risada. Eu tô um pouco chocada com os artistas, nesse caso. Tipo a Adriana Varejão, que é um gênio da espécie. Ela foi no jornal e falou. Bah, pixo não é arte. E essa não é a discussão. Ela se revela uma burra quando diz isso. Pra usar sociologia. Ela se mostra num profundo estado de alienação. Porque não é difícil incorporar essa sociologia. Não é difícil perceber o viés de classe na estrutura. Quem não dá conta faz, geralmente, por alinhamento político de direita. Embora às vezes inconsciente. Extrema fidelidade à classe de origem. Ou à classe que gostaria de pertencer. Isso é o patético. Pessoas de classe média fazendo a defesa da elite. E algumas pessoas fazem o contrário. Tipo o Suplicy, que percebeu. Ou os dois Waltinhos. Que jamais fariam papelão de querer prisão de pixadora.
O caso todo é que eu não vejo isso como domínio da sociologia. Eu acho que ela atravessa mesmo, as disciplinas todas. E você chegar dizendo "vamos discutir a estrutura da família" é um erro. Porque aliena mais ainda. Tipo fica a impressão de que aquela família é a única possível. É necessário que você veja uma família medieval. E compare com a sua. E, quando for o momento, você dá o salto e faz a análise sociológica. Que é tão rica. Porque escrutina. A história está suficientemente sociologizada, me parece. Pra permitir esse salto, se o aluno quiser dá-lo. Porque a prisão da menina só é verdadeiramente absurda porque nós nos livramos de reis. Nós deixamos de ser súditos. Nós escolhemos a república. Nós lutamos pela livre expressão. E por esses espaços de livre expressão. Como deveriam ser as bienais. São instuídos pra isso. A estrutura pede isso. De repente, a estrutura dá um coice desse tamanho em todos nós. Que ficamos ué. Reprimida por um dos guardiões, a menina. E como você consegue ter toda a dimensão da coisa só fazendo análise do episódio? Eu acho impossível. É preciso ter mesmo consciência histórica do significado. Senão sociologia vira a disciplina que coloca policial como malvado. E pobre como coitadinho. Vira humanismo de boteco. E, sinceramente. Não merece esse destino. Ela existe pra perceber e escancarar as camadas. Não pode ter destino maniqueísta.

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