TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Elle volltou!

De Leonardo Ferrari, psicanalista, Curitiba. Clique aqui
O FRACASSO DO ENGOLIDOR
Fernando Collor de Mello falando a Pedro Simon, ontem, no Senado Federal em Brasília. Fotografia de Roberto Stuckert Filho in O Globo, 4/8/2009.
Eu estava com saudades Delle
. Havia um debate de Vossas Excelências, era um para cá, outro para lá, até chegar Elle. E aí Elle falou. Elle falou aquela frase antológica, aquela frase lapidar, aquela frase que abre as portas da Academia Brasileira de Letras. Elle disse. Elle, irado, falou o que lhe arde no peito há muitos anos, o que estava engasgado, elle vomitou. Elle triunfou. Começou dizendo que eram palavras que ele não aceitava.
Isso é grave. Há palavras que caem bem, há palavras que acariciam, há palavras que fazem amor, há palavras que pacificam. Não as de ontem. Ontem Elle ouviu o inaceitável, subitamente Elle ouviu palavras pintadas, camuflagem, palavras escorregadias, palavras com gume, palavras obuses, palavras minas, palavras atordoantes. “Eu quero que o senhor as engula...”,
Elle começou assim a frase síntese, a frase testamento, a frase guia, “Eu quero que o senhor as engula...”, Elle não parou assim a frase, poderia ter parado aí, já seria frase-prima, Elle poderia quem sabe ter repetido uma outra que começou assim: “Eu repilo...”, não é extraordinário esse “eu repilo”?
Elle poderia ter repelido ontem na frase, poderia, mas Elle começou assim, “Eu quero que o senhor as engula...”, espetacular, e continuou: “Eu quero que o senhor as engula e as digira como achar conveniente”. Esse “as digira” é sensacional! Sim, porque Elle poderia ter sido truculento, mal-educado, autoritário e dizer: “as engula e se vire, e se dane, e se arrebente...”.
Não, não é o caso aqui. Elle deixa a Vossa Excelência o modo como vai digerir – diferente do que aconteceu com Elle. Ninguém lhe deu essa chance de escolher o modo – só teve um, doloroso, indeglutível, indigirível e insaível.
“Em nenhum momento me arrependo das minhas relações”, Elle continuou. Aqui entramos em um terreno movediço. Para quem Elle disse isso? “Minhas relações” vai muito além da política.
Aqui a psicanálise pode se oferecer com uma escuta anti-digestiva: Pedro, o primeiro nome do interlocutor, é também o nome de seu irmão, já falecido! Ora, uma das principais propriedades do inconsciente é não reconhecer a morte, não aceitar “que já passou”, o que não passou. Por isso ele prega peças, por isso ele regurgita, por isso ele faz buracos no estômago, por isso ele arde, por isso ele dói. Ora, “não me arrependo das minhas relações” diz mais do que diz, é o engolido que agora engole o engolidor. Triunfo de quem?
Elle, que tentou engolir uma relação, agora se vê às voltas com o retorno do engolido através do outro Pedro – Freud descobriu isso. Lacan acrescentou: eis que aqui Elle, que fala, acaba por receber sua própria mensagem, inconsciente, sob a forma invertida, ou seja, ouvindo ela na boca de um Pedro que não é o Pedro. A estratégia do triunfador se revelou um fracasso. Não adianta engolir aquilo que retorna. Não adianta querer digerir com a política aquilo que diz respeito ao mais íntimo de cada um. Freud inventou uma nova terapêutica para isso e a denominou de análise. Para as dores de estômago, do sexo, da cabeça, da alma humana.

5 comentários:

Fábio Mayer disse...

Uma vergonha nacional este indivíduo ainda ter voz para cometer as mesmas grosserias que cometia quando presidente.

Entre ele e Calheiros, e Pedro SImon, fico com o último que, apesar de não ser flor que se cheire, pelo menos tem o bom hábito de estar sempre do lado certo das discussões.

Mas me pergunto atá quando o povo brasileiro continuará desenterrando cadáveres políticos como Fernando Collor, Jáder Barbalho, etc...

Anônimo disse...

Que espetácullo depllorávell...Collor não respeita nem a idade do Senador Simon que já completou 79 anos.

Santiago disse...

Simplesmente, genial, parabéns!

Érico Cordeiro disse...

Cara Marta,
Sobre o nosse collorido ex-presidente, lembrei-me de um texto de Jô Soares nos idos de 92, publicado na revista Veja e que encontrei na Net.
Reproduzo-o abaixo:
Quedei-me incrédulo ante a conspicuidade que prestaram ao termo "bonifrate", do qual me servi durante acepipes e pitéus deglutidos por acasião da efeméride no habitáculo do dileto correligionário Onaireves. Por que tamanho pasmo? Acaso seria eu totalmente ignaro do vernáculo? Pensam os que chamam contra mim que só frequento valhacouto de palpalvos onde o xulo é primaz? Triste falácia. Sou douto palrador. Apenas, por vezes, oculto a plêaiade do meu verbo, plectro puro, por natural recato.

Deleito-me ao refletir no semblante alvar dos malquistados, se me ouvissem brindar com mais vocábulos a malta platípode que repilo. Assombram-se com o bonifrate, que tal casquilho? Casquilho, sim, tem jetatura. Julga massar-me a chusma abostelada. Recolham-se! Da minha boca jamais ouvirão linguajar de bolicheiro.

Indago, o que mais fácil: praticar choldraboldra em passeatas crepitosas ou cultuar a última flor do lácio inculta e bela? A pureza da lingua é meu colunelo. Bonifrate, disse, e não burlei cânones de escribas. Faz parte de meu colóquio hodierno: como estarola, óbice e bolônio. Perde em estesia a farândula e seu ódio esgueia-se em fina gaivagem. Aos que imaginam que sou galucho, respondo com o galarim do estilo. Apraz-me a condição de turgimao do esdrúxulo. Não galreio com lapuzice a não ser quando quero igualar-me à luna. Pouco casos dos nécios que não percebem o néctar de expressões para mim prezáveis, pois uma pinhoca só não faz parreira. Pimpem, pimpem, aldrabões! Não me aceitam magniloquente, por receio do cortejo. É mister que pletora erudita de uns seja a carência mísea de outros. Nem sei por que abespinhar-me, quando no fundo não passam de biltres, bucéfalos e calaceiros. Reles bufarinheiros.

Quanto a mim, conduzo a veação com rédea firme. Não tremeluz a mão que exerce o oficio. Ao contrário do que dizem os que me asseteiam, sou imune à bajulação dos áulicos. Com o intuito de denegerir-me, os pérfilos enliçadores formam sodalícios, contubérnios, conventículos e corrilhos numa pandilha de telérrimos, salardanas. Aleivosias não desenastrarão alianças e com maranduvas não evitarão minha manutenência soberana. Pensam-na esmadrigado? Há! Há! Desato numa casquinada. Enfim, repito: contra mim, estão os sevandijas, bulhentos, sardanapalescos, pirangas, caramboleros, pecos e bolônios.

O mais e dichote.

Basta de cherinóia.

Jô Soares – Veja, 30/09/1992

Marcelo Pires disse...

Muito bom o artigo e lamentável que o Sr. Fernando Collor assim como outros, ainda faça, parte da polítca nacional e o que é pior, eleitos através do voto direto...

Braziu!

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