Do Blog do Ricardo Noblat -
Coisas da Política - Jornal do Brasil - 3/6/1989
Caça ao espaço na TV
Por Ricardo Noblat:
O ex-Governador Fernando Collor de Mello recusou o apoio que o PSD, do ex-Ministro César Cals, não lhe ofereceu. O PSD ficou sem candidato a Presidente da República desde que o ex-Prefeito [de Sáo Paulo] Jânio Quadros renunciou a disputar a eleição de novembro.
Collor de Mello descartou a companhia do PSD porque não o reconhece como um partido sério. E por que sua candidatura nada tem a ver com os partidos políticos. Certo?
Errado.
Collor de Mello cresceu como candidato, de fato, à margem dos partidos e dos políticos. Cresceu por se apresentar, entre outras coisas, como antipolítico e antipartido — embora não seja, de fato, nem uma coisa nem outra. É político desde o berço.
Militou no PDS, depois no PMDB, mais tarde no PJ, para se fixar, temporariamente, no PRN, onde se encontra. Concluiu que se desgastaria se aceitasse a ajuda do PSD.
Rejeitou-a sem que ela lhe tivesse sido sugerida. Descobriu que poderá atrair a adesão de políticos sem precisar arcar, necessariamente, com o ônus de receber, de contrapeso, o apoio de legendas desgastadas.
Collor de Mello nega, mas anda atrás de senadores e deputados por duas razões. A primeira é que sem eles ficará fraco, lutará sozinho para se eleger e se tornará mais vulnerável à acusação de que não passa de um aventureiro.
Governará com quem? Quem garantirá dentro do Congresso a aprovação de suas mensagens? Que forças econômicas poderosas se arriscarão a avalizar a eleição de um candidato que poderá vencer sem ter assumido compromissos com ninguém — assim, meio solto no espaço convencional da política?
Eleito dessa forma, ele poderá tentar fazer qualquer coisa — de um governo sensato a um governo irresponsável, maluco, imprevisível.
Faltam-lhe experiência e competência comprovada para que inspire, por ora, a menor confiança de que fará um governo sensato e razoável, pelo menos.
A caça silenciosa e disfarçada que faz a senadores e deputados tem a ver com a impressão que precisa passar de que terá respaldo político e parlamentar para administrar o país.
A caça tem a ver, também, com o exíguo espaço de propaganda eleitoral gratuita que obteve até agora.
Foi uma bem montada estratégia de aproveitamento de espaço na televisão e no rádio a que empinou a candidatura a presidente do ex-governador de Alagoas.
O combate aos marajás do funcionalismo público foi um extraordinário achado publicitário.
O ataque às distorções da máquina administrativa é obrigação de qualquer governante que se julgue sério. Outros governadores de Estados enfrentaram os marajás até com mais sucesso.
O ex-Governador Waldir Pires, da Bahia, foi um deles. Mas não fizeram ou não quiseram fazer o alarde publicitário em torno do assunto que Collor de Mello fez com tanto sucesso.
Os cinco minutos de propaganda eleitoral gratuita que o PRN assegura a Collor de Mello a partir de setembro próximo não serão suficientes para que ele possa ir além dos clichês que tem oferecido até agora para ilustrar o que pensa e pretende.
A aliança com senadores e deputados lhe ampliará o tempo na televisão e no rádio. A lei eleitoral aprovada pelo Congresso criou a esdrúxula figura da adesão para efeito de concessão de tempo no horário gratuito de propaganda eleitoral.
Um parlamentar poderá aderir a um candidato sem que o partido dele, necessariamente, se coligue com o partido do candidato. A adesão será levada em conta no momento do cálculo do tempo na TV.
Os partidos têm até 15 de agosto para registrar seus candidatos à Presidente da República. Até lá, os parlamentares poderão dançar a ciranda da adesão oportunista, que aumentará o tempo dos candidatos no rádio e na TV.
A saída de um parlamentar da companhia de um candidato, e sua mudança para a vizinhança de outro, não encurtará o tempo de propaganda eleitoral daquele que o perdeu.
Um exemplo absurdo: se o PMDB, de repente, perdesse metade de sua bancada no Senado e na Câmara dos Deputados, nem por isso perderia um só dos 22 minutos que terá no rádio e na televisão, entre setembro e novembro.
A lei eleitoral foi concebida de maneira a preservar os interesses dos maiores partidos, abrindo brechas para a defesa de interesses que, mais tarde, se revelem poderosos.
O casuísmo não morreu com o regime anterior.
--------------------
Amanhã - Covas passado a limpo
Coisas da Política - Jornal do Brasil - 3/6/1989
Caça ao espaço na TV
Por Ricardo Noblat:
O ex-Governador Fernando Collor de Mello recusou o apoio que o PSD, do ex-Ministro César Cals, não lhe ofereceu. O PSD ficou sem candidato a Presidente da República desde que o ex-Prefeito [de Sáo Paulo] Jânio Quadros renunciou a disputar a eleição de novembro.
Collor de Mello descartou a companhia do PSD porque não o reconhece como um partido sério. E por que sua candidatura nada tem a ver com os partidos políticos. Certo?
Errado.
Collor de Mello cresceu como candidato, de fato, à margem dos partidos e dos políticos. Cresceu por se apresentar, entre outras coisas, como antipolítico e antipartido — embora não seja, de fato, nem uma coisa nem outra. É político desde o berço.
Militou no PDS, depois no PMDB, mais tarde no PJ, para se fixar, temporariamente, no PRN, onde se encontra. Concluiu que se desgastaria se aceitasse a ajuda do PSD.
Rejeitou-a sem que ela lhe tivesse sido sugerida. Descobriu que poderá atrair a adesão de políticos sem precisar arcar, necessariamente, com o ônus de receber, de contrapeso, o apoio de legendas desgastadas.
Collor de Mello nega, mas anda atrás de senadores e deputados por duas razões. A primeira é que sem eles ficará fraco, lutará sozinho para se eleger e se tornará mais vulnerável à acusação de que não passa de um aventureiro.
Governará com quem? Quem garantirá dentro do Congresso a aprovação de suas mensagens? Que forças econômicas poderosas se arriscarão a avalizar a eleição de um candidato que poderá vencer sem ter assumido compromissos com ninguém — assim, meio solto no espaço convencional da política?
Eleito dessa forma, ele poderá tentar fazer qualquer coisa — de um governo sensato a um governo irresponsável, maluco, imprevisível.
Faltam-lhe experiência e competência comprovada para que inspire, por ora, a menor confiança de que fará um governo sensato e razoável, pelo menos.
A caça silenciosa e disfarçada que faz a senadores e deputados tem a ver com a impressão que precisa passar de que terá respaldo político e parlamentar para administrar o país.
A caça tem a ver, também, com o exíguo espaço de propaganda eleitoral gratuita que obteve até agora.
Foi uma bem montada estratégia de aproveitamento de espaço na televisão e no rádio a que empinou a candidatura a presidente do ex-governador de Alagoas.
O combate aos marajás do funcionalismo público foi um extraordinário achado publicitário.
O ataque às distorções da máquina administrativa é obrigação de qualquer governante que se julgue sério. Outros governadores de Estados enfrentaram os marajás até com mais sucesso.
O ex-Governador Waldir Pires, da Bahia, foi um deles. Mas não fizeram ou não quiseram fazer o alarde publicitário em torno do assunto que Collor de Mello fez com tanto sucesso.
Os cinco minutos de propaganda eleitoral gratuita que o PRN assegura a Collor de Mello a partir de setembro próximo não serão suficientes para que ele possa ir além dos clichês que tem oferecido até agora para ilustrar o que pensa e pretende.
A aliança com senadores e deputados lhe ampliará o tempo na televisão e no rádio. A lei eleitoral aprovada pelo Congresso criou a esdrúxula figura da adesão para efeito de concessão de tempo no horário gratuito de propaganda eleitoral.
Um parlamentar poderá aderir a um candidato sem que o partido dele, necessariamente, se coligue com o partido do candidato. A adesão será levada em conta no momento do cálculo do tempo na TV.
Os partidos têm até 15 de agosto para registrar seus candidatos à Presidente da República. Até lá, os parlamentares poderão dançar a ciranda da adesão oportunista, que aumentará o tempo dos candidatos no rádio e na TV.
A saída de um parlamentar da companhia de um candidato, e sua mudança para a vizinhança de outro, não encurtará o tempo de propaganda eleitoral daquele que o perdeu.
Um exemplo absurdo: se o PMDB, de repente, perdesse metade de sua bancada no Senado e na Câmara dos Deputados, nem por isso perderia um só dos 22 minutos que terá no rádio e na televisão, entre setembro e novembro.
A lei eleitoral foi concebida de maneira a preservar os interesses dos maiores partidos, abrindo brechas para a defesa de interesses que, mais tarde, se revelem poderosos.
O casuísmo não morreu com o regime anterior.
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Amanhã - Covas passado a limpo
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