TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Não ao acordo ortográfico

Desenho do Millôr

por Desidério Murcho, do Blog português De Rerum natura
Os organizadores do Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa entregaram hoje ao Presidente da República pareceres científicos contrários ao Acordo Ortográfico. Notícia aqui.
O Manifesto conta já quase com 50 mil assinaturas, ultrapassando em muito as 4 mil assinaturas necessárias para obrigar legalmente a Assembleia da República a discutir o Manifesto. Note-se que o Presidente da República pode ainda vetar o Acordo Ortográfico, aprovado pela Assembleia da República.
Há dois aspectos diferentes que estão em causa.O primeiro é puramente linguístico: o acordo propõe mudanças ortográficas absurdas, que retiram poder expressivo à língua, como passar a escrever "veem" quer para dizer que as pessoas vêem os lírios do campo quer para dizer que as pessoas vêm juntas à festa. Quem usa a língua profissionalmente como eu para mais do que comprar batatas sabe que a língua portuguesa já está depauperada tal como está, dada a quase ausência de produção científica e cultural sofisticada em português. Este acordo torna a língua ainda mais pobre e ridícula. Não por causa do "ótimo", que não vejo problema algum em passar a escrever sem "p", mas por muitas outras palermices, como a referida.
O segundo é puramente político: o estado não deve legislar sobre a língua, a não ser que tenha razões muito fortes e claras para isso. Essas razões não existem neste caso. É falso que este acordo unifique a língua, que é o argumento usado pelos seus defensores; é falso que tal unificação, a existir, permitiria uma maior expansão internacional da língua; e é falso que tal unificação facilita a elaboração de documentos burocráticos internacionais. Tudo isto são mentiras políticas para justificar o injustificável.
As verdadeiras razões são outras: os linguistas portugueses que elaboraram este acordo sentem-se em dívida para com o Brasil por causa de todas as divergências que tiveram no passado com os colegas brasileiros. O Brasil, por seu lado, encara o Acordo como uma maneira simples de passar a legislar sobre a língua portuguesa tal como esta é usada em África, coisa que não acontecia até agora, porque os países africanos seguiam a norma portuguesa, e não a brasileira. Ou seja, o Brasil está a assumir-se como potência colonizadora face aos países africanos. No meu entender isto é absurdo: os países africanos devem elaborar as suas próprias normas gramaticais e ortográficas e tipográficas, tal como têm o seu próprio léxico.
Isto é exactamente o que acontece com os muitos países que usam a língua inglesa, mas com léxicos, ortografias e normas tipográficas distintas (Inglaterra, EUA, Austrália, África do Sul, etc.). Mas, claro, estamos a falar de países com longas tradições de liberdade, coisa que não acontece no caso do Brasil nem de Portugal, países cujas ditaduras só muito recentemente foram abolidas. E a mentalidade dos linguistas destes países, assim como dos políticos e burocratas, continua ainda firmemente implantada nos tempos da outra senhora.

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