Alice # 44 / As sombras coloridas por MARIA JOÃO FREITAS AQUI
Estou sentada dentro de mim. Se não estivesse a desenhar um ângulo de 90º, acreditava que tinha perdido para sempre a minha estrutura geométrica no tempo e no espaço. Chamo-me por fora, como se estivesse perdida. Oiço-me por dentro, enquanto espero que alguém me devolva o corpo. Parece que estou longe do chão. Os sapatos caíram há muito. Primeiro, foi o do pé esquerdo, aquele que costuma imitar o outro pé, antes de entrar em novas realidades. Vejo-me como se tivesse olhos transparentes. Tornei-me uma voz. Acho que é o fio de voz que me mantém presa ao tecto que já foi chão. Talvez seja o cinema dos outros. Pelo sim, pelo não, seguro o gato como quem segura uma evidência. A única certeza que tenho neste mundo. Apesar dele ser o Cheshire Cat, aquele que me coloca em permanente dúvida com as perguntas ambíguas pontuadas pelo seu sorriso trocista. Ainda agora, confirmou que o seu livro preferido é A República de Platão e disse-me que o nome verdadeiro desta sala é caverna. Parece que não caio porque estou presa e se há luz, foi porque alguém a ligou para tornar as sombras coloridas.
Publicada por Maria João Freitas Etiquetas: Alice
Estou sentada dentro de mim. Se não estivesse a desenhar um ângulo de 90º, acreditava que tinha perdido para sempre a minha estrutura geométrica no tempo e no espaço. Chamo-me por fora, como se estivesse perdida. Oiço-me por dentro, enquanto espero que alguém me devolva o corpo. Parece que estou longe do chão. Os sapatos caíram há muito. Primeiro, foi o do pé esquerdo, aquele que costuma imitar o outro pé, antes de entrar em novas realidades. Vejo-me como se tivesse olhos transparentes. Tornei-me uma voz. Acho que é o fio de voz que me mantém presa ao tecto que já foi chão. Talvez seja o cinema dos outros. Pelo sim, pelo não, seguro o gato como quem segura uma evidência. A única certeza que tenho neste mundo. Apesar dele ser o Cheshire Cat, aquele que me coloca em permanente dúvida com as perguntas ambíguas pontuadas pelo seu sorriso trocista. Ainda agora, confirmou que o seu livro preferido é A República de Platão e disse-me que o nome verdadeiro desta sala é caverna. Parece que não caio porque estou presa e se há luz, foi porque alguém a ligou para tornar as sombras coloridas.
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